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O ronco da motosserra

Por
Luiz Calixto
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O senador Marcio Bittar faz parte do rol de excentricidades do Acre. Não bastasse o estabelecimento Agroboi, que vende material para construção, e a antiga Açucareira Rio Preto, que nunca comercializou açúcar, Bittar se autodeclara “absolutamente liberal” na economia e radicalmente conservador nos costumes sem, no entanto, nunca ter produzido nada, além de seu longo carreirismo na política.


A imensa fazenda de gado de Bittar, localizada na BR-364, sentido Sena Madureira, foi vendida antes dos pastos serem completamente tomados pela capoeira. Sua passagem por empregos se resumiu a cargos públicos no governo Lula, quando compunha a equipe de assessores do Ministério da Integração Regional e na assessoria do amazonense Eduardo Braga, que também era arrendatário de seus pastos.

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Sua primeira e vexatória participação no Senado Federal foi propor, em parceria com o senador Flávio, filho do presidente Bolsonaro, a extinção total das áreas de proteção ambiental. De tão esdrúxulo, o projeto não recebeu apoio nem dos mais animados integrantes da bancada ruralista.


Agora, o senador é signatário de um projeto de lei para reduzir o tamanho da Reserva Extrativista Chico Mendes e passou a defender abertamente o projeto da deputada Mara Rocha, que pretende a extinção do Parque Nacional da Serra do Divisor. A chance de aprovação de ambos é menor que zero. Até os sócios de fábricas de motosserras têm mais equilíbrio e pudor.
O questionável é que não se observa qualquer empenho para estimular a recuperação e a reintegração à produção de cerca de 600 mil hectares de áreas atualmente degradadas. A cegueira é pelo corte raso da floresta.


Nesse ínterim, o senador saiu para um bate-boca nas redes sociais com o ex-prefeito, governador e senador Jorge Viana, acusando-o de enclausurar o desenvolvimento socioeconômico da região onde se localiza a reserva extrativista Chico Mendes, um paraíso ambiental intocável onde impera a miséria e o atraso.


Antes de passar para o parágrafo seguinte, vale refrescar a memória de Bittar e de tantos outros, que é falta de conhecimento elencar no currículo de Jorge Viana a criação da da Resex Chico Mendes: a dita foi criada em março de 1990. Ou seja: quando tanto Márcio quanto Viana eram saltitantes correligionários de Flaviano Melo e Mauro Bittar, irmão dele, era o secretário mais influente da gestão.


Óbvio que os resultados obtidos pela florestania petista são incompatíveis com o vultoso volume de recursos nela aplicados, mas isso não deve, de maneira alguma, ser pretexto para riscar do mapa as áreas de preservação nem para desconsiderar que no Acre milhares de famílias ainda sobrevivem da cultura extrativista.


O argumento principal para retirar da área o status de parque nacional é a possibilidade da abertura em plena floresta de uma estrada ligando o Juruá ao Peru. Antes de qualquer precipitação, a primeira providência seria analisar quais o resultados econômicos advindos do acesso ao Pacífico por Assis Brasil.


Salvo as poucas comitivas de turistas que vão a Lima ou a Cuzco, a ligação andina facilitou muito mais o tráfico de drogas. A fila de carretas passando pelo Estado ainda está por vir.


Enquanto deputado estadual eu sempre fui a “ovelha negra” a questionar a viabilidade econômica desse comércio. Além dos entraves burocráticos de toda ordem, o sucesso das trocas bilaterais depende de sua regularidade e de escala e, infelizmente, o Acre não tem mercado consumidor capaz de absorver um volume atrativo de negócios. As segundas e terças verdes dos supermercados Araújo, por muito tempo, serão supridas pelo Ceasa de São Paulo.


Por sua própria experiência, o senador Marcio Bittar não é uma boa referência em produção.


Quem não lembra da algazarra e das farpas que Bittar e o então senador Tião Viana fizeram e trocaram para assumir a paternidade da exploração de petróleo e gás de xisto na terra dos Náuas?


Pergunta-se, então: desistiram?


Apesar das divergências políticas e ideológicas que cultivamos, Jorge Viana é uma voz de peso a ser ouvida nessa discussão e, portanto, o debate não poderá ser rasteiro como Bittar insinua.


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Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.


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