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Tradicional ponto da sociedade xapuriense se mantém com dificuldades e busca recursos

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Raimari Cardoso

O lugar já foi um dos mais nobres e sofisticados de Xapuri, como o próprio nome revela. Ponto de encontro da sociedade local, o “Ponto Chic” foi o endereço dos eventos mais requintados, dos jogos de bilhar, dos bailes mais tradicionais – debutantes, formaturas, flores e do famoso carnaval de clube que atraía até foliões de outras cidades.


O público que frequentava o Ponto Chic era seleto e condensava a nata das classes mais abastadas de uma Xapuri que já teve um ar “aristocrático”, como denuncia uma foto da década de 1950, onde a maioria das pessoas aparece trajando paletó, gravata e chapéu, quando lá funcionou um “Bar e Sorveteria” de propriedade do comerciante Manoel Gallo.


O Ponto Chic também foi a casa da música xapuriense, de grupos musicais como o Impacto 3, The New Stop, de bandas inesquecíveis como The Supersonics e H-Welem, e de músicos como o saudoso Geraldo Leite, que estendeu o seu sucesso em nível estadual, Nonato Cruz, Antônio Magão e Nader Sarkis, entre outros igualmente brilhantes.


O glamour do Ponto Chic durou até meados dos anos de 1990, quando os antigos bailes caíram em desuso. Naquela época, também teve fim o tradicional carnaval de clube, que foi substituído pela folia de rua, em vigor até os dias atuais. Já em poder da prefeitura, foi repassado à Associação dos Servidores Municipais de Xapuri (Assemux).


Atualmente, o espaço não está nas melhores condições estruturais, mas resiste bravamente por meio dos esforços do senhor José Pereira Gomes, o Zé da Trompa, presidente da entidade representativa dos funcionários do município, que tem mantido viva a esperança de ver o Ponto Chic restaurado.


Há alguns anos, um grupo de xapurienses tem se esforçado para concretizar um projeto de revitalização do espaço que tem alimentado o saudosismo de um punhado de filhos da terra. No entanto, há quem faça ressalvas à revigoração do histórico clube exatamente em razão do caráter excludente que ele já teve.


O professor da Universidade Federal do Acre e historiador xapuriense, Sérgio Roberto Gomes de Souza, já fez um relato objetivo de como o espaço era excludente, onde as camadas mais pobres de Xapuri nunca foram bem-vindas. Para ele, revigorar o Ponto Chic pode ser uma ótima opção, se o acesso ao clube for democratizado.



“O Ponto Chic sempre foi um espaço restrito, de exclusão. Suas festas, incluindo seu carnaval, foram reservados a uma certa aristocracia local, se é que podemos usar o termo. Dele sempre passaram distantes os que alguns insistem em ter como indesejáveis. Ele precisa ser um espaço caracterizado pela diversidade de sons, sujeitos, estéticas e concepções”.


O vereador Ronaldo Ferraz (MDB) informa em uma discussão no Facebook sobre o assunto que o deputado federal Flaviano Melo alocou emenda para a reforma. De acordo com ele, quando o prefeito de Xapuri, Ubiracy Vasconcelos, foi em busca da documentação descobriu que a área onde está o Ponto Chic está registrada em nome do Tribunal de Justiça, o que teria inviabilizado o andamento do projeto de revitalização.


Até que o projeto de revitalização do Ponto Chic saia do papel, o espaço permanece como mais um dos tantos patrimônios ligados a história e à cultura da cidade esquecidos pelo poder público, a exemplo do Museu do Xapury, antigo prédio da prefeitura, que se encontra em condições precárias, e da Casa Branca, cuja restauração iniciada ainda durante a gestão do ex-prefeito Marcinho Miranda nunca foi concluída.


Apesar de não se encontrar literalmente abandonado, inclusive ainda realizando algumas atividades, como um animado baile de idosos, aos domingos, reuniões e conferências organizadas por órgãos públicos, o Ponto Chic está longe de ter o cuidado e o carinho que a sua importância exige, a despeito de erros ocorridos no passado que podem muito bem ser corrigidos no presente.


 


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Raimari Cardoso

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