No final de janeiro de 1990 eu recebi uma carta do então deputado estadual Edmundo Pinto pedindo que contribuísse em seu plano de governo na área da habilitação popular. Politicamente, ele era um adversário à gestão do PMDB, da qual eu participava, e tinha sido vereador pelo PDS quando trabalhei na prefeitura com Flaviano.
Ele, um malufista ‘convicto e juramentado’ enquanto eu um antimalufista de carteirinha. Seu sucesso em eleições foi na contramão da popularidade do partido, na época. Era o Novo num eleitorado de velhos.
Crítico, se destacava como parlamentar e liderava as bancadas de oposição quando esteve na Câmara Municipal e na Assembléia Legislativa. Tivemos mais contato profissional quando dirigi o Departamento de Transportes Públicos, que antecedeu a atual RBTrans, responsável pelo serviços de ônibus e táxi de Rio Branco. Volta e meia ele aparecia por ali para checar denúncias e cobrar providências das mais diversas. Chegava distribuindo bombons para todo mundo. Não me lembro dele ter denunciado qualquer gestor público sem dar uma oportunidade para o sujeito se defender de acusações que recebeu.
De alguma forma a amizade antiga entre seus pais e meus sogros pode ter contribuído para estabelecermos uma relação de certa cordialidade. Mas o convite para o plano de governo, quando eu era diretor da COHAB, me incomodou e respondi negando, com o argumento de que, por não me caber criticar o próprio trabalho, proporia somente mais do mesmo, além de não ser justo com a administração que me confiava.
Em janeiro de 1990 Flaviano ainda não havia entregue o governo ao vice Edson Cadaxo e faltava muito tempo para a eleição. Edmundo era um sujeito determinado, mas ninguém apostaria um cheeseburger na possibilidade dele conseguir ser o candidato do PDS, naquele momento. Passar na convenção, em julho, foi considerado quase um milagre por quem acompanhava mais de perto a política. Acabou eleito governador, em boa parte por erros cometidos pelos demais adversários.
No um ano que ocupou a cadeira do Palácio Rio Branco topei com ele umas poucas vezes e em quase todas aproveitei para fazer alguma crítica. Quando inaugurou a pavimentação da BR-364, na Tucandeira, os dois chegamos quase meia hora antes do restante da comitiva. Eu, porque errei o horário. Ele, porque deve ter feito o Tomás dirigir o Opala oficial a mais de 200km/h. Quando reclamou que ninguém chegava, aproveitei para condenar o mau exemplo que dava no trânsito.
Outra vez emparelhamos num semáforo e aproveitei os segundos parados para estranhar a condução na contratação de algumas obras. Logo em seguida estourou o escândalo da Canal da Maternidade.
Definitivamente, a pecha de corrupto não cabia no Edmundo. Era difícil para qualquer um acreditar na denúncia encabeçada pelo Conselho de Engenharia de que o contrato estava superfaturado em mais de 50%. Mas as coisas começaram a azedar quando o ministro Magri foi flagrado dizendo que recebeu 30 mil dólares ao ter mexido os pauzinhos para facilitar uma obra no Acre.
Dois anos depois de seu assassinato, no Della Volpi, fiz a perícia do Canal para um inquérito da Polícia Federal e concluí que o recurso contratado dava para realizar três vezes as obras e ainda sobraria troco. Tinha se metido com Odebrecht, PC Farias e sabe-se lá mais quem, porque não teve a chance de nos contar.
Uma vez o Tufi Assmar me mostrou o Plano do Edmundo sem um capítulo sobre habilitação: — não tem, porque o senhor não fez.
Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.
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