O balanço de 2019 vai deixar marcado o momento do empreendedorismo. Não aquele do investidor que monta seu negócio e gera uma porção de empregos, mas dos sujeitos que tiveram que se virar para enfrentar a crise. As estatísticas mostram que nunca houve uma participação tão grande da informalidade na recuperação do nível de emprego, como atualmente.
A lista é longa, começando com a turma dos pães e bolos nos semáforos, brownies e brigadeiros nas repartições, maquiagem com exposições no Instagram e muito mais. Foi o ano dos motoristas por aplicativo, dos lanches por aplicativo e dos aluguéis por aplicativo.
Com a atividade econômica do país em baixa e a onda liberalizante em alta, o jeito foi contar com a criatividade para pagar as contas do mês que não pararam de chegar.
Enquanto as promessas de que, com as reformas trabalhista e previdenciária, o tal mercado passaria a acreditar e investir no Brasil não se concretizaram em 2019, os planos do brasileiro para 2020 são aprender a viver cada dia menos dependente dos serviços assistenciais do Estado e fazer vingar seu pequeno negócio, de preferência sem que o mesmo Estado atrapalhe muito.
Uma lei da liberdade econômica* foi aprovada recentemente e poderia facilitar bastante o crescimento dos novos empreendedores, mas ainda não foi assimilada adequadamente. Tomara que ‘pegue’ e traga logo seus efeitos. Está na pauta do Congresso uma outra lei que pretende simplificar muito o licenciamento ambiental no país.
O ano que passou foi bastante frustrante para uma parcela grande da juventude que acompanhou o boom econômico e sonhava com o diploma superior que garantisse um bom emprego. Terão que fazer planos menos ambiciosos para o ano que vai entrar. As profissões autônomas, em alta, já quase saturaram o mercado, estimuladas pelo forte financiamento educacional dos anos passados. O FIES escasseou e se tornou impagável para muitos.
Há espaço para o país voltar a crescer, porém falta quem pegue no batente. Pecamos por décadas com a educação profissionalizante. Elitizamos as expectativas e esquecemos que para produzir são necessários profissionais com habilidade para operar equipamentos e processos da produção industrial. Nossa mão de obra se divide nos extremos dos muito qualificados e dos sem qualquer qualificação. Hoje sobram vagas e faltam profissionais para o meio-termo.
Se há uma área que carece ainda de um forte investimento, tanto público quanto privado, é a educação técnica. Escolas profissionalizantes de nível médio exigem laboratórios, equipamentos e professores preparados para as exigências do mercado de trabalho real. Custam caro. Mas são muito mais econômicas que formar os profissionais pelas próprias empresas.
O desafio para os próximos anos é que os empreendedores ‘por conta própria’ tenham sucesso, cresçam e ajudem a gerar novos postos de trabalho para a legião de desempregados que ainda há no país.
* Lei da Liberdade Econômica (13.874/2019)
Roberto Feres escreve às terças feiras no AC24Horas