Observador atento da polícia local e internacional, o professor doutor Nilson Euclides, coordenador do Grupo de Estudos Políticos e Democracia (GEPDE) da Universidade Federal do Acre (UFAC) avalia que não se justifica o espanto geral em relação à Bolívia uma vez que a democracia não foi, até agora, plenamente exercida porque, na prática, há pouca alternância de poder naquele País.
Com doutorado na PUC de Campinas, Nilson faz referência ao artigo “Bolívia não passa no teste de alternância de poder desde 2003”, de Diogo Schelp, que diz: “a última vez que um presidente eleito completou o cargo e transferiu-o para outro político eleito foi em 1997. Eleito em 1993, Gonzalo Sánchez de Lozada entregou o poder para Hugo Banzer, que já havia ocupado o posto como ditador na década de 70. Banzer renunciou em agosto de 2001 por motivos de saúde. Seu vice, Jorge Quiroga, assumiu pelos onze meses seguintes”, colocando em seguida o personagem central dos dias atuais da Bolívia -o ex-cocalero Evo Morales, um dos líderes dos movimentos pró-nacionalização do gás que derrubaram, entre 2003 e 2005, Gonzalo Sanches de Lozada e Carlos Mesa, que ficou em 2º lugar na contestada disputa presidencial de 2019.
Em janeiro de 2006, Rodríguez transmitiu o cargo para Evo Morales, que havia vencido a eleição presidencial no ano anterior. O doutor Nilson lembra que Morales foi muito bem nos dois primeiros mandatos, tirando boa parte da população da pobreza, formando uma classe média ávida por novas demandas -inclusive de alternância de poder.
Mas Morales criou apego ao poder, assim como os demais. Mudou a constituição para ter direito ao quarto mandato, medida que começou a minar as instituições, após uma consulta popular dizer não à reeleição. “Pra resolver problemas da democracia o remédio é mais democracia”, diz Nilson Euclides. “Resultado das eleições tem de ser legítimo, não pode haver dúvidas”, completa, fazendo referência aos erros históricos de Evo.
O professor rejeita a tomada do poder pela oposição e uma possível participação de Evo Morales no novo processo eleitoral. “Ninguém tem razão”, avalia.
O mais correto é a instalação de uma junta de transição com realização de novas eleições que devem ser acompanhadas por observadores externos, incluindo o Brasil, pois a tensão no vizinho é ruim para o Brasil.
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