Quando o professor Alceu Ranzi começou a divulgar a existência dessas figuras gigantescas entalhadas no solo, por todo o vale do rio Acre, eu havia acabado de retornar à UFAC e me engajei na pesquisa ainda sem ter a menor ideia do tamanho e importância daquele achado.
Para ele, os Geoglifos não eram um assunto novo. Ainda quando aluno do curso de Geografia, no final dos anos 70, participou como estagiário de uma expedição liderada pelo pesquisador Ondemar Dias que descobriu diversos sítios arqueológicos. Alguns eram movimentos de terra com formas geométricas.
Trinta e poucos anos se passaram e pouco havia sido estudado sobre aqueles locais, enquanto as áreas eram desmatadas e muitos outros sítios expostos no terreno. Num vôo, a visão de um geoglifo chamou a atenção do professor e não foi difícil encontrar suas coordenadas. Essas formas já eram velhas conhecidas dos pilotos que sobrevoam o Acre.
Em pouco tempo a informação chegou a pesquisadores que trabalham com as figuras de Nazca, no Peru. Minha primeira participação no grupo foi acompanhando um professor italiano para realizar medidas de topografia no sítio Jacó Sá, na beira da estrada para Boca do Acre.
Depois vieram pesquisadores das universidades do Pará e de Helsinque, que produziram inventários e datação dos achados arqueológicos. Quase até que um deles foi enquadrado por ‘paleopirataria’ ao levar alguns restos de carvão para análise na Europa.
Com a incorporação das primeiras imagens de satélite de alta resolução no ambiente Google Earth, começamos a brincadeira de procurar ocorrências sem custear novos sobrevoos. As poucas dezenas conhecidas há 15 anos se tornaram centenas em pouquíssimo tempo, distribuídos pelo Acre, Amazonas, Rondônia e Bolívia.
Figuras geométricas, principalmente na forma de círculos e quadrados perfeitos, com dimensões em geral maiores que os de uma quadra urbana e formadas por cavas largas, de alguns metros de profundidade, os geoglifos são o registro de uma civilização que habitou por aqui faz mais de mil anos.
Por algum tempo me impus o desafio de encontrar unzinho que fosse num local que ainda não estivesse desmatado. Isso podia trazer informações importantes sobre essas construções: como era a vegetação dentro e fora delas, a possibilidade de ocorrência de objetos melhor preservados e muitas respostas para a multiplicidade de pesquisadores que se juntavam ao tema. A mudança de emprego, entretanto, me colocou na cadeira de mero observador. Só muito recentemente foram encontradas umas poucas ocorrências dentro da mata fechada.
Ironicamente, foi uma atividade potencialmente perigosa para a preservação dos sítios arqueológicos que canalizou alguns recursos para o desenvolvimento das pesquisas, quando os geoglifos começaram a ser descobertos. A construção do “linhão” de energia, exatamente nos terrenos de platô, onde predominam os geoglifos, exigiu um estudo para o instituto do patrimônio histórico – IPHAN, obrigando a Eletronorte a financiar as investigações.
Um nome a ser sempre lembrado, pelo legado que deixou em publicações e formação de novos pesquisadores, é o da professora Denise Schaan, da universidade do Pará. Graças ao esforço liderado por ela que o conjunto de geoglifos do Acre foi indicado pelo Brasil para integrar o Patrimônio Mundial. Eles formam paisagens impressionantes que dificilmente conseguimos enxergar estando no chão. Um privilégio para os praticantes de esportes aéreos, de ultraleves, paraquedismo, ou em passeios de balão.
Mas também podem ser “sobrevoados” nos mapas do Google e outros sites que disponibilizam imagens de alta resolução da superfície da Terra. Navegar sobre eles aguça minha curiosidade sobre quem foram as pessoas que viveram por aqui antes da história que nos contaram na escola. Eram cidades? fazendas? templos? Como seria o clima? Já havia a floresta ou a vegetação era uma savana? Eram locais ou forasteiros? Como, porque se foram? Quando? Meu lado perguntador voa.
Roberto Feres escreve às terças feiras no ac24horas
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