Os protestos que se alastraram pela Bolívia nas semanas que sucederam a reeleição do ex-cocaleiro Evo Morales à presidência do país se intensificaram em Cobija, capital do departamento de Pando, na fronteira com o Acre, onde a polícia é pressionada pelos manifestantes a ficar do lado da população.
A emissora boliviana Pando Net, informou que neste sábado, 9, o comandante departamental da Polícia em Pando, coronel Ramiro Pérez, convocou uma coletiva de imprensa, na qual indicou que as forças policiais entrariam em estado de emergência. Na ocasião, ele destacou que a polícia boliviana tem como dever constitucional defender a sociedade e ao povo, preservar a ordem pública e fazer cumprir as leis.
O comandante relatou que delinquentes têm se aproveitado da situação de instabilidade política para cometer diversos crimes na capital pandina. De acordo com ele, em apenas uma noite foram roubadas oito motocicletas, além de uma infinidade de delitos.
“Pedimos que nos deixem trabalhar para o serviço do povo”, diz ele em vídeo divulgado pela emissora boliviana.
O comandante da Polícia Nacional Boliviana, coronel Peres L, também disse estar preocupado com a onda de roubos e os casos de criminalidade praticados por brasileiros e bolivianos.
“Estamos do lado do povo, mas precisamos fazer pelo menos os serviços de emergência”, afirmou no mesmo vídeo.
Desde a última terça-feira, 5, as pontes que ligam os municípios de Brasileia e Epitaciolândia estão bloqueadas por cidadãos bolivianos que afirmam que a vigília será constante até que os seus votos sejam respeitados. A passagem está sendo permitida apenas a ambulâncias com pacientes em estado grave e carretas carregadas com combustível.
Até o anoitecer deste sábado, havia no lado brasileiro uma enorme fila de caminhões e carretas aguardando passagem. Não há impedimento, porém, para que as pessoas atravessem a pé. Bolivianos que compram produtos no Brasil têm feito uma longa caminhada com as cargas nas costas. As autoridades brasileiras, no entanto, não recomendam que cidadãos brasileiros passem para o lado boliviano enquanto durarem os protestos.
Ainda na tarde deste sábado, o jornal El Progresso de Pando noticiou que os policiais bolivianos deixaram as pontes e se aquartelaram, em um indicativo de que estariam aderindo ao pedido motim contra o governo feito pelos manifestantes.
“Ante la insistencia y sofocamiento de grupos de ciudadanos en el municipio de Cobija, los oficiales del verde olivo se vieron obligados a aceptar el Motín solicitado. Por está razón se vieron presionados y obligados a tomar una postura. En tal sentido los oficiales de clases salieron con banderas y rostros cubiertos indicando que ingresan en el motín policial”, afirmou o periódico.
Na última sexta-feira, 8, unidades da polícia nas cidades bolivianas de Cochabamba (centro), Sucre (sudeste) e Santa Cruz (leste do país) se rebelaram contra a polêmica vitória eleitoral de Evo Morales e afirmaram que não reprimirão mais os manifestantes da oposição que exigem a renúncia do presidente.
Os manifestantes opositores de Evo Morales o acusam de fraude eleitoral e exigem a sua renúncia. Para se reeleger, Evo precisava obter mais de 40% dos votos e dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado ou 50% mais um dos votos válidos. As pesquisas sugeriam que ele tinha 32% e apenas cinco pontos à frente de seu principal concorrente, o ex-presidente Carlos Mesa, do Comunidade Cidadã. Em um segundo turno entre os dois, o atual presidente perderia, segundo as sondagens feitas antes da eleição.
No dia 5 deste mês, o deputado federal Alan Rick (DEM) os ofícios encaminhados por seu gabinete ao Itamaraty, à universidade Unifranz e à Universidad Técnica Privada Cosmos (UNITEPC).
Nos documentos, o parlamentar acreano solicitou que, devido à situação de violência na Bolívia durante o “Paro Nacional”, os estudantes brasileiros pudessem continuar os estudos após o fim das manifestações ou em ambiente online.
Em resposta, a UNITEPC divulgou comunicado assinado pelo Vice-Reitor de Cochabamba, Ramiro Torres, afirmando que as aulas passariam a ocorrer em ambiente virtual enquanto durassem os bloqueios, com as práticas agendadas para os finais de semana, a depender da situação social do momento. Já a Unifranz, em ofício assinado pela Reitora Nacional Desa Verónica de Pazos, comunicou que suspenderia as atividades acadêmicas por completo até que a situação se normalize.
O Brasil tem cerca de 2 mil estudantes em universidades bolivianas.
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