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Agronegócio: expectativas e possibilidades no governo Gladson 

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Valterlucio Bessa Campelo


Estive presente nesta quarta-feira à Assembleia Legislativa do Acre, durante a apresentação pelo Secretário Paulo Wadt aos parlamentares da Casa, do plano de ação da SEPA – Secretaria de Estado de Produção e Agronegócio, órgão que cria e desenvolve a política agrícola do Estado, além de coordenar as ações de outras três entidades – IDAF (Instituto de Defesa Agroflorestal do Acre), CAGEACRE (Companhia de Armazéns Gerais e Entrepostos do Acre) e da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Acre). Ocorreu ali uma espécie de prestação de contas no sentido técnico, e a explicitação do itinerário proposto pela gestão que pretende reorientar a politica agrícola no sentido da atração de capital agropecuário excedente em outras áreas do Brasil.


Em primeiro lugar e, importante, é preciso informar aos mais afoitos que neste setor, diferentemente de outros, a decisão do investidor, seja grande ou pequeno, é mais demorada e amadurecida, exige mais tempo e experiência. Nenhum produtor rural amanhece o dia, olha pra vaca malhada e, de uma hora pra outra, resolve substituir sua exploração por grãos. Aquele status em que se encontra é fruto de anos de trabalho e sobre ele há um acúmulo vivencial e uma determinada expertise que o conforta, que lhe dá segurança. Mudar fácil é ser aventureiro. O mesmo se diz de quem inicia qualquer projeto na área. O setor exige uma certa vocação.


Creiam, a missão de reorientar o setor produtivo do Acre, de uma economia de baixo dinamismo, centrada na floresta e em seus recursos, para uma outra, que combine a conservação ambiental e uma exploração em escala, intensiva em tecnologia e articulada com o mercado, de modo a gerar uma economia agrícola saudável, não é tarefa para amadores.


Em nosso caso, foi/é preciso rearticular um novo formato institucional e enfrentar uma cultura arraigada cuja centralidade, formada durante pelo menos duas décadas, diverge do sentido atual. Mudar esta governança significa enfrentar explicitamente ou não, muitas resistências, o que é bastante compreensível. Técnicos e decisores, especialistas, modelos, padrões e rotinas se desenvolveram para um determinado objetivo central, sedimentado, politicamente sustentado, então, mudar é seguramente enfrentar essas resistências, embora seja da natureza do jogo democrático.


Em sua apresentação, o Dr. Paulo Wadt deu o Norte e apresentou os elementos necessários para que se alcance o objetivo firmado no início deste ano pelo novo governo. Em princípio desenhou com clareza que é possível, que os elementos principais, ou seja, recursos financeiros, terra fértil e mão-de-obra estão disponíveis para que o Acre se transforme em case de sucesso na combinação de exploração agropecuária de alta conservação ambiental. Vejamos:


Para a safra 2019/2020, o governo federal disponibilizou 225 bilhões de reais a serem aplicados em uma área potencial de 64 milhões de hectares, feitas as contas, tem-se 3,5 mil reais por hectare. O Acre possui 2,46 milhões de hectares abertos, o que em tese nos daria condições de atrair cerca de 8,4 bilhões daqueles 225 bilhões. Seria muito bom, não? Para isto bastaria que nossa agricultura tivesse o nível da agricultura média brasileira. Mas há um segredo. Nossas terras são melhores, mais férteis! Isto nos daria condições de ter mais que a média, apesar de tudo, a expectativa é de que não vamos atingir 3% do nosso potencial. Este é o diagnóstico mais sucinto e que nos dá a visão mais cruel de nosso atraso.


O que fazer? Parece natural que a ação se dirija para a identificação e remoção dos gargalos, vale dizer, desinterditar o caminho entre o produtor e o crédito, entre o crédito e a produção, entre a produção e sua realização no mercado. É isto que está em marcha, segundo o Secretário.


Ele assenta a ação governamental em quatro pilares: Infraestrutura rural; governança agroambiental; fortalecimento de cadeias produtivas e agroindustrialização. A partir daí o Secretário destrincha cada um em ações que vão baixando de nível operacional (não cabe aqui detalhar), até encontrar os produtos elegíveis como economicamente e agronomicamente viáveis. É um esboço lógico, com início, meio e fim, o que foi reconhecido, aliás, por deputados da oposição no momento da apresentação.


Já ouvi de alguns amigos do setor, a indagação ou melhor, a assertiva, de que o governo Gladson Cameli deu um azar danado, pois logo agora a Amazônia entrou no foco mundial como centro de debates cujo resultado só pode ser a sua paralisação. No lo creo, diria um velho professor. Há mais espuma nisso tudo do que concretude, afinal, é preciso alimentar 7,2 bilhões de seres, aí incluindo o Papa Francisco que resolveu priorizar a luta vegana. Deus tá vendo.


É fundamental levar em conta que toda a ação planejada e apresentada pelo Secretário prescinde da derrubada de uma árvore sequer. Podemos nos alinhar ao agronegócio nacional, de forma diversa como é da nossa natureza e potencialidade, realizando o sonho do desmatamento ZERO. Os 2,4 milhões de hectares já desflorestados são potencialmente capazes de, utilizando a média nacional, realizar um PIB da ordem de 22 bilhões de reais, quase o dobro do PIB estadual total em 2018. Com tal possibilidade, podemos modular as nossas ações no tempo e conforme a disponibilidade financeira, sempre com ganhos de produtividade e governança adequada.


Sim, é preciso visão de longo prazo. Há exemplos. Miremo-nos nos exemplos do MATOPIBA (reúne territórios do Maranhão, Tocantins e Piauí) e do Polo de Fruticultura do Vale do São Francisco (reúne municípios em volta de Petrolina-PE e Juazeiro-BA), ou mesmo em Rondônia aqui do lado, que há vinte anos eram vendidos por alguns como a construção do inferno e hoje exibem indicadores consistentes de desenvolvimento. Todas essas experiências foram calcadas no exame rigoroso de potencialidades tecnicamente verificadas, agronomicamente sancionadas, economicamente concertadas vis a vis o mercado nacional e internacional.


A caminhada é longa, difícil e atribulada, mas é preciso caminhar.




 


Valterlucio Bessa Campelo é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Economia Rural e escreve todas as sextas-feiras no ac24horas.


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