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A pegada ecológica pertence a Malthus

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Valterlucio Bessa Campelo


Você já ouviu falar em pegada ecológica? Pode ser que não saiba do que se trata, mas consta que eu e você temos uma, todos temos. Elas existem também em recortes temáticos e territoriais, de modo que ao critério do freguês se pode medir a pegada ecológica (PE, pra facilitar) de grupos, atividades, setores, regiões, países, etc., permitindo monitoramento, comparações e metas. Facilmente calculável, o indicador foi rapidamente abraçado por organizações e gestores públicos e privados ávidos por responder ao comando politicamente correto. O termo foi definitivamente incorporado ao glossário de todo ecologista minimamente informado.  


De acordo com a Global Footprint Network – GFN, uma ONG americana sediada na California e com filiais na Suíça e Belgica, cuja especialidade é calcular as PE’s de toda a humanidade, este conceito foi formulado nos anos 90 por Mathis Wackernagel e William Rees, para designar o impacto da humanidade na natureza. É, portanto, uma forma de estimar a nossa injúria contra a Terra, medindo a quantidade de recursos naturais renováveis necessários para que possamos sustentar nosso estilo de vida. 


Dada em GHa (Hectares Globais), a PE exprime a porção da Terra que cada indivíduo utiliza em seu modo de vida naquele momento. Quanto maior a PE, mais dano o sujeito causa com seu modo de vida. O cálculo mais atual garante que o cidadão médio global possui uma PE da ordem 2,7GHa, sendo que a biocapacidade disponível per capita do planeta é de 1,8GHa. Traduzindo, o cidadão médio no mundo está usando 0,9GHa (2,7GHa – 1,8GHa) no “cartão de crédito” da biocapacidade. Decorre daí, que precisaríamos de 1,6 (2,7GHa/1,8GHa) planetas para manter todos os humanos vivendo como aquele cidadão. 


E o brasileiro? Acreditem ou não, a GFN afirma que mesmo nessa pindaíba, estamos no SPC da Terra, pois o brasileiro médio gasta mais do planeta que a média mundial – a nossa PE é de 3,0GHa. Um estudo apresentado em 2014 pela WWF informa que a PE do acreano é inferior à PE brasileira, utilizamos modestos 2,3GHa, mas mesmo assim entramos no “financiamento de longo prazo”.


A essa altura, é razoável perguntar que modo de vida, segundo a GFN, poderia ser sustentável, ou seja, como empatar a pegada com a biocapacidade, de modo que só tirássemos do planeta aquilo que pudéssemos regenerar. Ou seja, que países são sustentáveis segundo a PE média de seus habitantes? De acordo com a GFN, são 72 países com PE igual ou inferior a 1,8GHa, quase todos pertencentes ao continente africano e asiático. Nenhum da Europa, apenas um da América do Sul (Equador).


Na lista de melhor pegada ecológica estão Timor Leste, Haiti, Afeganistão, Malawi e outros com PE inferior a 1,0GHa. Que tal? Quem gostaria de viver como um haitiano e, assim, contribuir com sua parte para o belo quadro ecológico da humanidade? (royalties p Raul Seixas).


Inversamente, que países são notadamente perdulários em relação aos recursos naturais que a terra oferece? Quem está no topo da pegada ecológica, contribuindo criminosamente para o esgotamento da terra? A GFN calcula que os grandes vilões são os países árabes, o Qatar à frente com 14,4GHa. Em seguida, os EUA com 8,1GHa e a Europa. Na Suécia, terra da Greta Thunberg, a adolescente surtada na ONU, a PE é mais que o dobro da brasileira (6,5GHa).


Uma conta leva a outra e chegamos ao cerne da questão. Dada a biocapacidade do planeta, a população deveria cair a 4,4 bilhões para que seja sustentável no longo prazo (2,7 GHa per capita). Se quisermos manter a população nos níveis atuais (7,2 bilhões de pessoas), teremos que reduzir a pegada ecológica a 1,8 Gha per capita. Apenas para ilustrar, a atual pegada ecológica do homem global, deficitária em 0.9GHa per capita, equivale à do vivente na Namíbia, país do sudeste africano. A pegada sustentável seria equivalente à do nicaraguense, ali na América Central. Em síntese, a Terra suportaria 7,2 bilhões de nicaraguenses, mas apenas 4,4 bilhões de namíbios. Convenhamos, não é grande coisa.


Viver como na Nicarágua (GHa compatível com 7,2 bilhões de habitantes) é se posicionar entre os países mais pobres do mundo, seu IDH é o 193º. Seguramente, isto não agrada muita gente, quer saber pergunte aos africanos, indianos e asiáticos. Toda essa população quer e merece um modo de vida melhor, de mais bem estar e segurança sanitária, energética, hídrica e alimentar, por exemplo. Não é por acaso que o ranking de pegada ecológica é quase idêntico ao de IDH. Os países de baixa PE tem também os menores índices de nutrição, saúde, educação, segurança, saneamento básico, água tratada, moradia, enfim, o desenvolvimento humano custa GHa. Seguindo este raciocínio, fácil deduzir que bastaria que todo esse contingente muito pobre, estimado ligeiramente em 4,0 bilhões, aumentasse seu IDH em 30% para que a Terra entrasse em colapso. 


Diante dos dados da GFN ou mesmo de um texto assim, de análise superficial, nos confrontamos com uma terrível e inarredável constatação – não há planeta Terra pra tanta gente. A saída só pode ser a compressão do modo de vida no sentido da redução drástica da pegada ecológica ou um processo de despopulação, ou, ainda, uma combinação dos dois. A não ser que…


A não ser que os dados estejam errados, que as premissas sejam falsas, que a teoria seja uma fraude, que a pegada ecológica, desde sua concepção teórica ao cálculo da GFN seja mera conjectura e apanhado de quanto o cidadão emite CO², e que os pesos atribuídos aos dados solertemente colhidos sejam distorcidos para onerar o cidadão segundo suas emissões de GEE e, desse modo, sancionar a teoria do aquecimento global antropogênico. 


Há na internet uma gama de testes replicados ou adaptados a partir daquele oferecido pela GFN (https://www.footprintcalculator.org/), onde se pode calcular rapidamente a própria PE a partir de algumas informações simples. Fiz o testezinho, que recomendo, e pimba! Me informa a GFN que sou um ser humano deletério, um irresponsável, que minha pegada é de 8,4GHa e, portanto, se todos os humanos vivessem como eu, precisaríamos de 4,9 planetas Terra para sustentar tantos gastadores de recursos naturais. 


Mas, curioso, fiz também algumas simulações. Informei, falsamente, que sou vegano e mantive as outras informações. Viva! Ganhei 2 Terras de presente da GFN, agora minha PE baixou abruptamente de 8,4GHa para 5,3GHa. Não satisfeito, fiz outra simulação, agora, além de vegano, ando a pé e de bicicleta, nada de carro ou moto. Resultado fantástico, minha PE baixou a 3,8GHa e só estou devendo 1,2 planetas aos meus concidadãos do mundo. Mais uma simulação, pra garantir. Além de ser vegano e ir pro trabalho a pé, instalei energia solar e cancelei as viagens de avião, o resultado é que estou com uma maravilhosa PE de 2,6GHa (abaixo da média mundial) e já posso até sonhar em ser aceito no clubinho humanista de araque da Greta Thunberg. Não é o máximo?


Não é, não. É a confissão de que índices podem ser criados e divulgados à larga, apenas para manipularem mentes fáceis, de baixo senso crítico, oferecidas a tudo que vem do lado “bonzinho” da sociedade. O cálculo da minha própria pegada ecológica demonstra que pelo menos 70% dela se deve ao consumo de carne e ao uso de energia de fontes convencionais, perfeitamente compatível com os discursos mais inflamados em defesa da teoria do aquecimento global antropogênico, deixando perceber que não passa de conta de chegada a um resultado anteriormente definido, recuperando a sentença malthusiana de 1798, quando o economista britânico Thomas Robert Malthus lançou o seu “Ensaio Sobre o Princípio da População”.


Perigoso é que esse troço entra com tudo nas universidades, nas salas de aula e nos projetos de pesquisa. Centenas de artigos “científicos”, dissertações de mestrado e teses de doutorado assentam suas hipóteses ou utilizam como instrumental a pegada ecológica. Professores e alunos adotam o conceito e o índice sem questionarem, afinal, se a WWF utiliza e propaga, só pode estar correto, embora seja, como é, um embuste. Políticos, gestores e mídia politicamente correta seguem a canoa furada.


É apavorante saber que sobre algo tão precário essa gente pretende alterar o planejamento do desenvolvimento de todas as nações e mudar o mundo. Isto passando por cima das verdadeiras e legítimas aspirações humanas que são as de ter uma vida digna, minimamente provida dos elementos básicos. Thomas Malthus, redivivo em cada adepto da nova religião secular – o aquecimento global antropogênico, está às gargalhadas.




 


 


Valterlucio Bessa Campelo é Eng.º Agr.º, Mestre em Economia Rural e escreve todas as sextas-feiras no ac24horas.


 


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