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Xapuri pode voltar a ter “empate” depois de mais de três décadas do movimento no município

Por
Raimari Cardoso

Três décadas depois do episódio em que a trabalhadora rural Marlene Mendes tomou a decisão de colocar crianças e mulheres à frente dos homens no movimento pacífico que ficou conhecido como “empate”, ação pela qual os seringueiros se punham diante dos peões que promoviam as derrubadas, o ato que se tornou um dos maiores símbolos do ativismo do líder sindical Chico Mendes pode ter um novo capítulo nesta quarta-feira, 2, no seringal Filipinas.


Informações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (STR) dão conta de que seringueiros estão mobilizados para impedir pacificamente uma ação de desmatamento que vem ocorrendo no limite entre a Resex Chico Mendes e a Reserva Legal da fazenda Filipinas. Segundo os relatos de 8 seringueiros que têm posse na área, quatro estradas de seringa nas colocações Canudinho e Cumaru estão sendo afetadas pelo desmate.


Na tarde desta terça-feira, 1, uma comissão composta por representantes do STR e da Associação de Moradores da Resex em Xapuri (AMOPREX) denunciaram o desmatamento ilegal à Ouvidoria Geral do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC). Pedindo sigilo quanto às suas identidades, eles solicitaram a intervenção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) para que a derrubada da mata seja cessada.


O presidente do Sindicato de Xapuri, Francisco de Assis Monteiro de Oliveira, informou que a movimentação da entidade tem sido permanente na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais, na luta pela garantia da posse de suas colocações ou no combate ao avanço de derrubadas sobre as áreas ocupadas em regiões de conflito fundiário. Segundo ele, todas as medidas legais estão sendo tomadas pelo STR para coibir o desmatamento.


“O Sindicato está tomando as providências junto aos órgãos competentes para tentar coibir essa ação. Vamos tentar falar com a promotoria federal para ver se alguém começa a agir. Nesta quarta-feira, 2, vamos formalizar a denúncia ao IMAC e ao ICMBio. No caso de se confirmar um movimento pacífico para impedir que o desmatamento prossiga também estaremos acompanhado a ação para que tudo ocorra com muita tranquilidade”, declarou.


O Sindicato não quis adiantar maiores detalhes a respeito da mobilização dos seringueiros para o empate. Pelo o que foi possível apurar, os posseiros da área pretendem chegar de surpresa ao acampamento que serve de base para a derrubada e pedir aos trabalhadores da fazenda que o serviço seja paralisado. Caso confirmado, o momento será histórico. A última vez que ocorreu foi em 14 de maio de 1988, meses antes da morte de Chico Mendes.


Seringal Filipinas

Até 2014, o seringal Filipinas figurava entre os cinco que mais contribuíam para o desmatamento no interior da Reserva Extrativista Chico Mendes. Com 33.755 hectares de área e com 2.655 hectares de mata devastada, ficava atrás dos seringais Nova Esperança (4.148), Venezuela (2.400), São Francisco (2.898) e Icuriã (2.842), conforme dados do Prodes/Inpe – Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.


Invasões na Resex Chico Mendes

A explosão de invasões da Unidade de Conservação vem sendo denunciada por representantes de associações de moradores da área que têm testemunhado a venda ilegal de pedaços de colocações de seringa pelos próprios extrativistas.


Durante o mês de setembro, o secretário-geral da Associação de Moradores da Resex CM em Xapuri, Júlio Barbosa de Aquino, afirmou que o resultado do levantamento ocupacional que está sendo realizado pelo ICMBio será assustador.


Com pouco mais de 2 mil famílias estabelecidas em 2009, a UC deverá agora detectar um número entre 2.500 e 3.000 famílias, sendo que a maior parte desse crescimento populacional será de ocupantes que adquiriram lotes ilegalmente em várias regiões da reserva.


“Essas pessoas chegam aqui com a intenção de desmatar e de destruir o que resta de floresta nas colocações que são loteadas ilegalmente. O resultado disso são as queimadas que são produzidas pelo desmatamento para a formação de pastagens. Ninguém queima para plantar arroz, mandioca ou milho, as queimadas estão diretamente ligadas ao desmatamento para a expansão das pastagens”, disse o secretário-geral da Amoprex.


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Raimari Cardoso

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