A organização não governamental SOS Amazônia esteve na Reserva Extrativista Chico Mendes no fim do mês de agosto com o objetivo de analisar a situação atual de desmatamento e queimadas na Unidade de Conservação. E o cenário constatado pela ONG foi de grande preocupação com muitas áreas de floresta desmatadas, com grande possibilidade de queimadas, o que vem se confirmando durante o mês de setembro, mesmo que em níveis inferiores aos registrados no mês anterior.
A equipe que esteve na Resex observou áreas desmatadas recentes variando em torno de 2,5 a 15 hectares que costumam ser destinadas a queima para usos posteriores como atividades agrícolas e criação de bovinos. Essa prática, segundo a SOS, tem sido uma fonte decisiva para o aumento do desmatamento e das queimadas na UC. Na colocação Rio Branco, seringal Floresta, Raimundo Mendes de Barros, primo de Chico Mendes alertava para o aumento do fogo em setembro.
“É algo que vem acontecendo e tem nos preocupado muito, tanto a mim como a todos que com o Chico Mendes lutaram para que a gente tivesse esse benefício extraordinário que é a Reserva Extrativista. Infelizmente, temos aqui pessoas que ocupam o nome de seringueiro, mas se deram ao comportamento de hoje estarem assumindo o papel de fazendeiro. Não cortam mais seringa e o que estão fazendo é desmatar para criar bois”.
De acordo com os dados divulgados pela SOS Amazônia, os desmates e queimadas ocorrem historicamente em maior intensidade nos meses de agosto, setembro e outubro, com picos de queimadas em setembro – em especial na Amazônia Brasileira. A tendência entre 2004 e 2012 era de queda, quando se atingiu a menor taxa anual de desmatamento com 4.571 km² e 86.719 focos de queimadas em 2012.
Entre os anos de 2013 a 2018, a taxa anual média de desmatamento foi de 6.581 km² e 85.303 focos de queimadas. No entanto, de acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), entre 27 de agosto de 2018 a 26 de agosto de 2019 essa taxa já está acumulada em 18.103,3 km², indicando um aumento de quase três vezes a média do período de 2013 a 2018.
O número acumulado de focos de queimadas de Janeiro a Agosto de 2019 atinge mais de 63,6% em comparação ao período de Janeiro a Dezembro de 2018 (68.345 queimadas), destacando o atual cenário de alerta pela comunidade científica, comunidades tradicionais, sociedade civil e organizações ambientalistas.
A SOS Amazônia considera que a elevação está relacionada diretamente ao enfraquecimento dos órgãos de controle ambiental e a redução dos serviços de assistência técnica e extensão rural/florestal. Outro motivo destacado pela ONG é o incentivo ao desmatamento e as queimadas manifestado na opinião pública por agentes governamentais.
No Acre, as Resex Chico Mendes e do Alto Juruá lideram quando o assunto é queimadas. Miguel Scarcello, secretário-geral da SOS Amazônia, informa que a ONG vem acompanhando os relatórios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do governo do Acre. Ele anunciou que a partir de outubro será realizado um trabalho de enfrentamento em três municípios na regional do Juruá. Outra medida foi solicitar reunião extraordinária do Conselho Estadual de Meio Ambiente, que não foi convocada até o momento.
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