Manejo Florestal Madeireiro não é unanimidade entre extrativistas
A Assembleia da Cooperativa de Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta), realizada nesta segunda-feira, 23, em Xapuri, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, mostrou que o projeto de Manejo Florestal Madeireiro, concebido como maneira de garantir complemento à renda dos produtores extrativistas por meio da exploração sustentável de madeira, não está vivendo os seus melhores dias.
Informados da situação econômica da entidade e do planejamento de ações futuras, muitos participantes manifestaram insatisfação com o que ouviram, especialmente naquilo o que diz respeito às dificuldades de caráter financeiro, cuja responsabilidade recai sobre todos os cooperados. Há queixas também sobre o baixo valor da madeira que chega ao produtor após o processo de extração nas comunidades e comercialização com o Complexo Industrial Florestal de Xapuri.
A Cooperfloresta recebe hoje R$ 240 pelo metro cúbico da madeira fornecida ao complexo industrial. Desse valor, os produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes recebem R$ 65 e os do Projeto de Assentamento Extrativista Equador R$ 80. A diferença se dá, segundo a gerência da cooperativa, pela variação dos custos de retirada da madeira, que no caso da Resex são mais altos. As despesas referentes ao corte das árvores e ao transporte até a fábrica são custeadas pela cooperativa.
Atualmente com 201 famílias cooperadas, pertencentes a 10 comunidades e organizadas em 06 Associações, a Cooperfloresta tem como principal atividade a prática do manejo florestal comunitário madeireiro visando garantir melhores condições nos processos de comercialização das comunidades locais. Junto com isso, busca promover a melhoria da qualidade de vida dos produtores em associação com a preservação da floresta.
Apesar disso, não se nota entusiasmo da maioria dos cooperados com a atividade. O manejador José de Souza Araújo Filho, 43 anos, morador da colocação Baixa Verde, no seringal Palmari, diz em seu relato que o manejo tem pontos positivos, mas afirma que falta “gerência” à Cooperfloresta. Segundo ele, a organização tem estado sempre no vermelho, o que significa endividamento também para os associados.
“O manejo traz vários benefícios, como a abertura de ramais, carreador passando na porta, e o programa Luz para Todos, mas da parte da cooperativa não tem sido bom porque ela tem estado sempre no vermelho e isso significa que todos nós estamos devendo. E está faltando gestão sobre a exploração. Lá na minha localidade tem madeira no mato que foi tirada no ano passado e ainda continua até hoje no mesmo lugar, se deteriorando. Isso é prejuízo que vem para o manejador também. Então tem sido positivo pelo lado dos benefícios, mas negativo pelo lado da gestão, porque eles nunca se acertam”, afirmou.
Outro manejador, Francisco Alves de Oliveira, 64 anos, também do seringal Palmari, mas na colocação Jarinal, onde vive há 40 anos, diz que o manejo não está dando resultados. Segundo ele, que também tem madeira cortada aguardando ser retirada de sua localidade, além do baixo valor da madeira para o produtor há uma certa dificuldade para se receber o pagamento do manejo, que não ocorre de imediato.
“Não recebemos de uma vez, mas dividido em parcelas. Com dinheiro espalhado a gente termina não fazendo nada”, reclamou.
O produtor diz ainda que começou a participar de cooperativas no ano de 1983, mas que agora não acredita mais nelas.
“O cooperativismo se acabou, só dá para os gerentes”, concluiu.
Dionísio Barbosa de Aquino, o Daú, atual presidente da Cooperfloresta, afirma que um dos maiores problemas por que passa a cooperativa é a dificuldade de compreensão dos cooperados a respeito da missão da organização, se referindo ao fato de que os problemas enfrentados pela cooperativa têm que ser assumidos por todos os cooperados, conforme dita o estatuto. Outra dificuldade é o atraso na liberação de Autorizações de Exploração (Autex) de novas áreas de manejo, o que sido um entrave para o andamento do projeto. Sobre o valor da madeira que que fica com o produtor, ele explica que somente com a redução dos custos da exploração será possível melhorar o preço.
“Tem que baixar o alto custo da exploração para melhorar o preço que é repassado ao produtor. Muitos cooperados só pensam na sua situação pessoal, no seu ganho. A cooperativa é uma empresa onde as responsabilidades são de todos. A Cooperfloresta tem enfrentado algumas dificuldades por conta do atraso de licenças ambientais protocoladas ainda em 2013. Também temos um financiamento junto ao Banco da Amazônia que ainda não venceu, mas que estamos buscando uma melhor maneira de pagar. Nós temos que nos manter organizados para podermos repensar novos caminhos para a cooperativa”, explicou.
Com a presença de representantes da WWF Brasil, ong que apoia a certificação madeireira, a assembleia da Cooperfloresta também fez a apresentação aos cooperados das estratégias futuras que a cooperativa pretende colocar em prática. Sobre esse realinhamento de ações, a consultora ambiental Marilda Moreira Brasileiro Rios explicou que a ampliação do seu nicho de atuação, buscando novos mercados com outros produtos florestais é a meta que a organização comunitária tem para os próximos anos.
“Apresentaremos oportunidades que se têm de trabalhar com o resíduo que ainda fica na floresta, por meio de móveis e pequenos objetos. Vamos oferecer novos produtos para os cooperados, trazendo o carvão de bambu, uma cadeia produtiva de bambu, pois o Acre é a maior reserva natural de bambu do mundo, e o ouriço de castanha, além de uma atividade de reflorestamento que vamos pôr em prática. Há ainda a possibilidade de bonificação aos manejadores que se envolverem mais com o processo de manejo, como uma maneira de melhorar o valor que chega para o produtor”.
Atualmente, a Cooperfloresta trabalha com madeira em toras, que são comercializadas com o Complexo Industrial Florestal de Xapuri (CIFLOX), a antiga fábrica de tacos. Cerca de 90% da madeira que sai dos planos de manejo de Xapuri tem como destino o exterior. O maior volume vai para países da Europa, depois China e EUA. A cooperativa também atua no mercado de sementes florestais, fornecendo matéria-prima para viveiros de produção de mudas para reflorestamento na região.