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Europa é o maior destino da madeira extraída dos Planos de Manejo Florestal de Xapuri

Por
Raimari Cardoso

População local reclama não ter acesso à riqueza que sai da floresta


O Complexo Industrial Florestal de Xapuri (CIFLOX), atualmente tocado por um grupo de investidores nacionais e internacionais chamado Agrinlog, em parceria público-privada-comunitária com o governo do estado, por meio da Agência de Negócios do Acre (Anac), está funcionando a pleno vapor. Em uma breve visita às instalações da antiga Fábrica de Tacos, inaugurada em 2006 pelo governo do Acre, é possível perceber um diferente e mais aprimorado nível de organização imposto pelo segmento privado da gestão do novo empreendimento.


Absorvendo madeira extraída de planos de manejo florestal, entre eles as iniciativas comunitárias geridas pela Cooperativa dos Produtores Agroflorestais Comunitários (Cooperfloresta), a indústria tem como base de sua produção espécies nobres como cerejeira, cumaru, garapeira, bálsamo e ipê, entre outras. No total, 11 espécies fazem parte do contrato com a cooperativa. O piso do tipo deck, usado para ambientes de piscinas, spas, áreas de lazer ou outras áreas externas é o produto que o complexo tem comercializado em grande volume com o exterior. A maior parte das exportações tem como destino a Europa, depois China e Estados Unidos.


Pouco do que o CIFLOX produz fica no Brasil onde, segundo a empresa, a comercialização da madeira processada não encontra a mesma rentabilidade do mercado externo, por conta da política tributária. É nesse ponto que nasce um questionamento da população de Xapuri e região direcionado aos planos de manejo e ao próprio complexo industrial: o consumidor local não consegue ter acesso à madeira de qualidade com origem legal. No município já não existem mais serrarias e o Complexo Industrial Florestal possui uma quase exclusiva política de exportação de seu produto. O que é destinado ao comércio local é, basicamente, o que não é aproveitado na fabricação dos decks.


O pequeno empresário José da Silva Oliveira, o Bisteca, morador do município de Xapuri, procurou a indústria para adquirir madeira para a confecção de prateleiras para um estabelecimento comercial que pretende abrir na cidade. Ele conta que ao chegar à fábrica foi informado de que não havia disponibilidade para o tipo de madeira que pretendia adquirir, apesar da grande quantidade de toras que ele encontrou estocadas no pátio do empreendimento.


“É uma injustiça para nós xapurienses haver tanta madeira estocada para mandar para fora e eles não cortarem uma árvore para vender para a gente. A única coisa que eles ainda disponibilizam são refugos e pedaços pelo preço de R$ 1 mil o metro cúbico. Eles têm que abrir espaço para nós também. Quando eu vou até a fábrica tentar negociar com eles estou deixando claro que quero comprar uma madeira legalizada. Eu não quero comprar nada clandestino”, afirmou.



Confrontado com a reclamação do morador, o gerente do CIFLOX, Renato Agostinho Costa, enfatizou que a indústria está voltada para a exportação de sua produção e que não é vantajoso para o empreendimento cerrar madeira para o mercado local. Ele afirmou, no entanto, que para quem procura a empresa em busca de madeira há a disponibilidade de um material que é comercializado com os consumidores locais. Quanto ao tipo, a qualidade e o preço dessa madeira é atributo exclusivo da direção do CIFLOX definir o que é oferecido. Ou seja, não é possível que uma pessoa da região, seja física ou jurídica, ofereça uma demanda de consumo à indústria madeireira.


“Nós temos atendido algumas pessoas que têm nos procurado em busca da madeira que nós temos disponível. E temos negociado uma certa quantidade desse material que, basicamente, são ripas, ripões e similares. Mas nós queremos esclarecer que não temos condição de parar nossa linha de produção para serrar uma cerejeira ou outra madeira para um morador. Isso aqui é um negócio que precisa corresponder aos investimentos que foram feitos”, justificou.


André Vieira, diretor-presidente da Agência de Negócios do Acre até o ano passado, afirma que não há qualquer referência no contrato da parceria público-privada-comunitária sobre a destinação de parte da produção da indústria para o mercado local. “Nem para sim, nem para não”, disse. O atual gestor da ANAC, Jânio Mário Pereira Santos, confirmou as informações de André Vieira e afirmou que após consultar a gerência do complexo foi informado de que seria impossível configurar as máquinas para a produzir para a construção civil sem prejudicar a linha de produção.


“Teremos que inserir essa pauta nas discussões futuras sobre as novas licenças de planos de manejo. É possível que agendemos uma ida a Xapuri para abrimos um diálogo sobre esse assunto com as pessoas envolvidas com o tema que é fundamental para o andamento desses projetos, como é o caso também do Polo Moveleiro. Esse novo governo é plenamente favorável ao incentivo das indústrias no nosso estado e estaremos sempre abertos a esse debate”, afirmou.



O Complexo Industrial Florestal

Atualmente com 106 funcionários na linha de produção, o complexo é o maior empregador direto do município se forem desconsideradas as folhas de pagamento do governo estadual e da prefeitura. Essa condição pertenceu, até 2016, à Fábrica Natex, que já chegou a empregar de maneira direta 170 pessoas. Indiretamente, o gerente Renato Costa acredita que o CIFLOX gere cerca de 300 empregos. Apenas nos Planos de Manejo geridos pela Cooperfloresta são 170 famílias envolvidas com a atividade madeireira comunitária.


“Creio que fazemos circular cerca de R$ 250 mil na economia de Xapuri mensalmente. Além da folha de pagamento, com a grande maioria de nossos funcionários sendo da cidade, todas as nossas despesas são feitas aqui. O serviço de alimentação, compras nos supermercados, itens para o maquinário que podem ser encontrados nas oficinas mecânicas da cidade. O recolhimento dos tributos referentes à produção, tudo fica aqui. Faz parte da filosofia da empresa contribuir com o lugar onde o empreendimento está estabelecido”, diz.


Resistente a falar sobre números relacionados ao volume de madeira atualmente processado na indústria, o gerente explica que o potencial máximo da fábrica ainda não foi atingido, especialmente em razão de os planos de manejo ainda não darem a resposta esperada pelo empreendimento. Em 2017, o governo do estado divulgou que a indústria voltaria à atividade com a capacidade de processar 100 m3 de madeira por dia e de secar 700 m3 ao mesmo tempo. Com os investimentos que foram feitos, de 13 a 20 milhões de reais da reabertura até agora, pode se estimar que a capacidade de processamento de madeira bruta tenha dobrado.


A Cooperfloresta e o manejo comunitário

O presidente da Cooperfloresta, Dionísio Barbosa de Aquino, o Daú, diz que o contrato da cooperativa com o Ciflox diz respeito apenas ao fornecimento de madeira em toras. A cooperativa reúne atualmente 170 famílias em planos de manejo comunitário realizados na Reserva Extrativista Chico Mendes e nos Projetos de Assentamento Extrativista (PAE’s) Equador, em Xapuri, São Luís do Remanso, em Capixaba, e Porto Dias, em Acrelândia.


De acordo com Dionísio Barbosa, a Cooperfloresta recebe hoje R$ 240 pelo metro cúbico da madeira fornecida ao complexo industrial. Desse valor, o produtor da Resex Chico Mendes recebe R$ 65 e o do PAE Equador R$ 80. A diferença, segundo ele, se dá pela variação dos custos de retirada da madeira, que no caso da Resex são mais altos. As despesas referentes ao corte das árvores e ao transporte até a fábrica são custeadas pela cooperativa.



Polo Moveleiro

O Polo Moveleiro de Xapuri é outro segmento que se ressente de não ter acesso à madeira que é extraída dos planos de manejo e que tem como destino o Complexo Industrial Florestal. Os marceneiros do município estão cobrando do governo do estado a retomada das políticas de incentivo ao setor, que incluem a garantia de acesso à matéria-prima de origem legal. Como em Xapuri não há quem forneça madeira de procedência legal, eles estão lançando mão de madeira clandestina para não parar a produção, conforme foi mostrado em reportagem do ac24horas veiculada nesta semana.


Representantes de secretarias e órgãos do governo do estado ligados ao assunto acenaram nesta semana para a necessária abertura de discussões a respeito da pauta, como foi o caso do diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre, André Luís Hassem. Ele afirmou na Rádio Aldeia FM de Rio Branco que tudo o que for necessário para que os polos moveleiros do Acre funcionem dentro da legalidade será feito. Hassem pediu que os empresários do ramo da movelaria procurem o órgão com as demandas relacionadas à alçada do instituto.


Mercado

O Brasil é o segundo maior produtor de toras do mundo e o primeiro de madeira serrada. Com um mercado interno gigantesco, as exportações representam no máximo 20% da produção. Mesmo assim, as vendas externas são consideráveis. No Acre, segundo dados do Ministério da Economia, as exportações de madeiras e compensados ampliaram em US$ 1,4 milhão entre janeiro e agosto deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Em termos percentuais, isso representa 21,5% de crescimento em apenas um ano, segundo o Observatório do Fórum Permanente de Desenvolvimento do Acre.


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Raimari Cardoso

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