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O Governador

Por
Roberto Feres

Em 1986, Nabor Júnior e Flaviano completaram três anos de mandato, respectivamente de Governador do Acre e de Prefeito de Rio Branco, ambos com enorme aprovação popular. O primeiro entregou o cargo à sua vice, Iolanda Fleming, e o segundo ao sucessor eleito Adalberto Aragão. Nas eleições de 1985 o PMDB deles elegeu os prefeitos de todos os, então, catorze municípios do Estado. No pleito do ano seguinte o partido elegeu Flaviano para Governador, Nabor e Aluízio Bezerra para o Senado da República, cinco dos oito Deputados Federais e ainda compôs ampla maioria na Assembléia Legislativa do Estado. No popular: foi barba, cabelo e bigode.
Gigante, quase uma federação de correntes e lideranças oriundas ainda do tempo de bipartidarismo, o PMDB se manteve praticamente coeso durante o governo de Nabor mas, na disputa de 1986, teve como principal adversário o então senador Mário Maia, recém saído de seus quadros e fundador do PDT no Estado, em coligação com os PDS e PFL, egressos da antiga ARENA.


A expectativa da rodovia pavimentada do Acre ao restante do país, com a conclusão da BR-364, alimentava o clima de otimismo da população da capital e a esperança dos habitantes do Juruá por uma ligação terrestre que efetivasse a integração do Estado. A campanha de Flaviano tomou esse mote. Eleito, o questionamento sobre os impactos das obras rodoviárias determinou o rumo ambientalista de seu governo.


Um episódio marcou o início de mandato do novo governador. O ano de 1987 começou com chuvas intensas que produziram inundações muito acima das médias na cidade de Rio Branco. O mesmo ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, o que deu evidência às mazelas locais na imprensa nacional.


Por conta dos planos econômicos, que pretendiam controlar o processo inflacionário, o presidente Sarney havia bloqueado, naquela época, os financiamentos do Fundo de Garantia para habitação e saneamento. Num decreto, permitiu que tais recursos fossem utilizados pelo Acre, especificamente na capital Rio Branco. Imediatamente, as companhias de Habitação e de Saneamento – COHAB e SANACRE desenvolveram projetos ambiciosos de distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgotos, recuperação de bairros e construção de casas para a população de baixa renda. Aos poucos as ações foram aparecendo e tomando conta da região mais populosa do Estado.


Parcerias com o INCRA e o trabalho direto do Departamento de Estradas de Rodagem permitiram também melhorias significativas nos diversos projetos de assentamento e na malha viária de escoamento da produção rural.


Enquanto isso, o sonho da ligação rodoviária com o Brasil parecia cada vez mais distante, graças à crescente pressão internacional pela proteção ambiental e o bloqueio do financiamento da obra pelo Banco Mundial. Foi quando instituiu o Programa de Proteção do Meio Ambiente e Comunidades Indígenas – PMACI, cujos resultados são, até hoje, a base do conhecimento sobre os temas ambientais e que resultou na instalação da Secretaria de Meio Ambiente, no Instituto de Meio Ambiente do Acre – IMAC e nas principais ações da Fundação de Tecnologia do Acre – FUNTAC, inicialmente criada por Flaviano para dar suporte ao programa habitacional e o desenvolvimento de produtos de base florestal.


Projetos como o da Floresta Estadual do Antimary, para o manejo sustentável da atividade madeireira e da Reserva Extrativista Chico Mendes foram possíveis graças ao conhecimento produzido a partir da iniciativa PMACI.


O Acre do governo Flaviano já não era mais o mesmo que elegeu Nabor. A imprensa escrita que se restringia a dois jornais diários cresceu para quatro, mais um ou outro tablóide semanal. Onde havia um único canal de televisão, passou a ter meia dúzia. Técnico por excelência, o governador determinou ações que eram a vanguarda na área ambiental, porém não capitalizou isso politicamente. Ao contrário, o que houve no Acre, naquela época, foi o crescimento e fortalecimento da oposição ruralista.


Nacionalmente, o problema do Brasil era a inflação que não havia santo que debelasse. A solução do país era a nova Constituição. Sarney, detentor de um mandato de seis anos, lutava para ficar pelo menos cinco, contra a intenção dos constituintes que pretendiam reduzi-lo para quatro.


Em 1988 o PMDB teve seu primeiro grande revés eleitoral. Num ataque coletivo de soberba, na minha modesta opinião, entregou a prefeitura para o velho Kalume, do PDS. Em 1990, entregou o resto de espaços no poder executivo ao principal partido adversário, elegendo Edmundo Pinto, também do PDS, para dirigir o Estado. Um apelo nacional por renovação, apoiado no mote de caçar marajás, pôs na Presidência da República Fernando Collor de Mello e determinou o marco inicial dos pleitos dirigidos por publicitários eficientes.


Para A Câmara Federal, embora com grande renovação na bancada, o PMDB ainda conseguiu manter as cinco das oito cadeiras que tinha. Perdeu vagas na Assembléia Legislativa, também bastante renovada, mas elegeu parlamentares de altíssima qualidade como Adalberto Ferreira, João Correia e Said Filho. Essa foi, talvez, uma das melhores legislaturas que o Acre já teve e que contou também com Sérgio Taboada, Marina Silva, Luiz Saraiva, Maria das Vitórias e tantos outros.


Flaviano conquistou a única vaga aberta ao Senado naquele ano. Teve seu reconhecimento pelo legado em obras de infraestrutura urbana como os conjuntos habitacionais, o Teatrão, o que é hoje a Fundação Hospitalar e, principalmente, as rurais, de ramais e escolas nos assentamentos do Incra. Porém poucos enxergam o que seu governo, de apenas três anos, fez em ações de conservação do meio ambiente do Acre, numa época quando esse tema estava longe dos noticiários e da pauta política locais.




 


 


Roberto Feres escreve às terças feiras no ac24horas.


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