Cesario Campelo Braga
Tomava café na pacata cidade de Porto Walter, enquanto aguardava o horário para pegar um barco com destino a Cruzeiro do Sul. Na roda de senhores, que já muito cedo observavam o vai e vem dos barcos, entre as gargalhadas, o tema do momento era a abertura da estrada que ligará a cidade com Rodrigues Alves.
Como já ouvi boas histórias sobre a odisseia que tem sido essa abertura, cheguei mais pra perto na intensão de ouvir mais uma, e perplexo fiquei ao saber que alguns desses senhores não viam como algo bom essa ligação terrestre. Minha cabeça simplista só conseguia ver vantagens onde estaria o problema?
Entre todas as vantagens possíveis, uma desvantagem fazia com que o empreendimento ousado não fosse tão atraente aos olhos desses sábios senhores. Com a estrada não haveria apenas o barateamento do custo de vida em Porto Walter, mas a criminalidade chegaria a tranquila cidade e levaria aquilo que eles têm de mais precioso, a paz.
Porto Walter é uma cidade que faz fronteira com Peru, e cuja a atuação do Estado é diminuta ou quase inexistente em toda a sua extensão, a exemplo da segurança publica que é feita em todo o território por uma meia dúzia de policiais civis e militares.
Uma cidade marcada pela relação com os rios, em que as atividades econômicas que colocam dinheiro em circulação na cidade são muito limitadas. São pequenos pecuaristas, pescadores e alguns produtores rurais que produzem para subsistência e, quando dá, vendem farinha para fora; poucos funcionários públicos e o comércio local. Os jovens da cidade têm pouquíssima expectativa de empregos e renda.
Um terrenos fértil para o crescimento das facções e organizações criminosas, que atuam de forma eficiente nas lacunas do poder público, em meio a pobreza e poucas expectativas elas oferecem possibilidades de proteção, ascensão social e financeira rápida.
Tomei o último gole de café, me despedi, peguei minha bolsa, embarquei e enquanto o barco deslizava por entre as águas do Juruá, lembrei da última vez que vi os acreanos terem esperança de que a paz, que o povo de Porto Walter tanto ama, voltaria a reinar no Acre inteiro, foi quando noticiaram a trégua entre duas facções, pois o Estado já não dá conta de transmitir sensação de segurança.
A cidade foi ficando pra trás assim como meu fascínio pela estrada, que na minha opinião é necessária, mas não tão encantadora como antes. É como dizem, quando abrimos a janela, entra brisa fresca, mas também entram mosquitos. A estrada um dia será aberta e espero e tentarei ajudar para que antes que a janela fique totalmente aberta não tenhamos que conviver mais com tanta violência e quem sabe Porto Walter continue sendo uma cidade pacata e seu povo não perca sua paz.
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