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Casa de Chico Mendes e outros museus permanecem fechados no município de Xapuri

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Os turistas que se deslocam a Xapuri atualmente têm uma imediata decepção quando procuram pelos locais de visitação que deveriam estar mantendo vivas a história e a cultura locais. A cidade possui quatro espaços listados no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), todos fechados à visitação pública: A Casa de Chico Mendes, onde o seringueiro foi assassinado em 1988, que também é tombada como Patrimônio Histórico Nacional, a Fundação Chico Mendes, a Casa Branca e o Museu do Xapury, antigo prédio da prefeitura do município. 


A razão do fechamento da Casa de Chico Mendes, segundo o diretor administrativo e financeiro da FEM, Francisco Generozzo, foi o cancelamento, ainda no governo passado, do contrato de aluguel que o Estado mantinha com a família do seringueiro por meio do qual os herdeiros do líder sindical recebiam um valor de cerca de R$ 30 mil. De acordo Francisco Generozzo, havia um “acordo de cavalheiros em ajuda” por meio do qual além do aluguel a família detinha quatro ou cinco cargos comissionados na estrutura estadual, o que segundo ele é impossível de ser renovado.


Generozzo destaca ainda a importância do funcionamento do patrimônio para o turismo da cidade e para a história do Acre, e afirma que mesmo que a família não tenha feito qualquer proposta de parceria com a nova gestão, existe o interesse do governo em discutir um acordo para a reabertura da casa, mas, segundo ele, dentro de uma nova realidade diretamente relacionada à atual situação financeira do Estado.  

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“Nós não temos hoje nenhuma condição de manter os valores e acordos que foram feitos na gestão passada. A realidade do Estado hoje é outra. O governador está ciente dessa demanda, o Chico Mendes é realmente uma pessoa de visão de nível internacional que o mundo lá fora vê por conta da Amazônia, mas a gente precisa dialogar de acordo com essa nova realidade.”


O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Acre, Jorge Mardini, informou que desde o começo do ano tem encaminhado documentos para o governo do Estado, por meio da Fundação Elias Mansour, e para a viúva de Chico Mendes, Ilzamar Gadelha Mendes, alertando para a necessidade de que a casa seja mantida íntegra e que seja aberta periodicamente para o arejamento e realização de limpeza, uma vez que permanentemente fechado o imóvel estará sujeito a danos físicos e depredação. Segundo ele, a única prerrogativa do Iphan é a de preservação e guarda do patrimônio, não havendo a possibilidade legal de o instituto determinar que a família abra a casa para visitação.


“Uma coisa que precisa ficar bem clara é que o imóvel é da família. O patrimônio é tombado, mas é uma propriedade particular dos herdeiros. A nossa única prerrogativa é a de impedir a destruição do imóvel. Para evitar isso o Iphan tem, inclusive, poder de polícia. No mais é fazer apenas a fiscalização e zelar para que o patrimônio seja preservado porque ele representa parte importantíssima da vida do Chico Mendes”, explicou. 


Também preocupada com a situação do patrimônio, a organização não governamental SOS Amazônia, que teve Chico Mendes como um de seus membros fundadores, está iniciando um diálogo com a família do seringueiro com objetivo de chegar a um acordo para a reabertura da casa. Para o secretário geral da ong, Miguel Scarcello, essa conversa está sendo iniciada e não há, ainda, qualquer definição sobre como esse acordo de parceria poderá será construído. 


“Nós não temos certeza do melhor caminho para fazer isso e nem ideia de valores. Nós temos compromisso com a causa porque o Chico foi nosso associado fundador, e temos o entendimento de que a família deva ser recompensada pelo uso da imagem e pela guarda da memória dele. Eles têm direito de ser contemplados por isso. Agora, como vamos chegar lá nós que temos que construir juntos”, afirmou.


Museus fechados


Os outros espaços culturais de Xapuri cadastrados pelo Ibram seguem fechados por diferentes razões. O Museu do Xapury se encontra em situação precária depois que duas licitações para a sua recuperação não despertaram o interesse de nenhuma empresa. De acordo com Francisco Generozzo, o projeto de restauração do espaço precisa, inclusive, ser revitalizado antes de ser tocado adiante. O Café Regional e a Casa do Seringueiro, espaços que se localizam no entorno da Casa de Chico Mendes também não estão abertos porque o seu funcionamento se dava em função da movimentação produzida pela visitação à casa do líder sindical. O prédio da Fundação Chico Mendes já não pertence mais aos herdeiros. Depois de ser objeto de uma disputa judicial, o imóvel foi adquirido pela Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre, a Cooperacre, que mantém lá a sua sede na cidade. 


Já o museu Casa Branca, tido erroneamente como a antiga intendência boliviana do povoado de Mariscal Sucre, mas que possuía um relevante acervo da Revolução Acreana, está fechado desde que uma obra de recuperação iniciada na gestão municipal passada resultou em fracasso. Segundo o chefe de gabinete da prefeitura de Xapuri, João Ribeiro de Freitas, a atual administração tomou as providências para retomar o convênio federal para a execução da restauração, mas esbarrou em problemas relacionados à atualização do projeto que agora prevê a instalação de um elevador para garantir o acesso ao segundo piso às pessoas com limitações físicas.


Elenira Mendes responde


A filha do líder sindical, Elenira Mendes, nega que a família tenha recebido o valor mensal de R$ 30 mil pelo contrato com o governo passado, como afirmou o diretor da FEM. Segundo ela, esse valor era de R$ 20 mil. Ela também diz não reconhecer que a família tenha ocupado os cargos comissionados citados por ele. 


“Nós desconhecemos os 5 cargos que ele menciona. Eu e Sandino trabalhamos na gestão do governo Tião Viana, mas isso nunca se tratou nenhum acordo relacionado à casa ou uso da imagem de nosso pai. Exercíamos o nosso trabalho e assinávamos ponto como qualquer outro funcionário público. Desconheço os demais cargos por ele citados”, garantiu.


Elenira afirmou ainda que participou junto com sua mãe, Ilzamar Mendes, de uma reunião na Fundação Elias Mansour no dia 11 de fevereiro desse ano, que tinha o objetivo de buscar alternativas para que a casa permanecesse aberta. Nessa ocasião, Generozzo teria afirmado, segundo ela, que a história de Chico Mendes não interessaria para o atual governo. Depois disso, ela afirma que a família não voltou a falar com ninguém da atual gestão a respeito do assunto. Elenira Mendes negou também que a família tenha recebido qualquer documento neste ano. Ela complementa dizendo que o tombamento da casa e toda a preocupação com a salvaguarda do patrimônio partiu de uma iniciativa da família e do movimento ligado a Chico Mendes. 

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“Foi uma luta nossa, do movimento, para que essa casa fosse tombada, para que essa preservação fosse constante e para que o Iphan pudesse exercer esse poder de polícia a que se refere o superintendente Jorge Mardini. Eu queria que as pessoas entendessem que a família é a maior interessada que essa casa continue aberta, porque desde que meu pai foi assassinado, minha mãe e os companheiros sempre tiveram o ideal de que a casa permanecesse como um espaço de memória. E nós não estamos parados. Estamos em busca de parcerias para promover a reabertura da casa”, finalizou.


 


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