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Macedo e a Transição Democrática

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Joaquim Falcão Macedo foi a última indicação da ditadura militar, dentre os políticos acreanos. Sua escolha foi feita no final do mandato de Ernesto Geisel para governar o Acre no período de 1979/83. A gestão Geisel notabilizou-se pelo início da abertura política “lenta, gradual e segura“ que, contraditória e com altos e baixos, foi encaminhada mediante enérgico enfrentamento dos segmentos mais radicais da linha dura do Exército contrários à decisão, abrigados no estamento militar.


A indicação de Joaquim Macedo pareceu situar-se no mesmo escopo da indicação de Geraldo Mesquita, seu antecessor (Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva). Reforça essa compreensão o fato do Vice Governador escolhido para a gestão de Joaquim Macedo, José Fernandes do Rego, ter ocupado a função de Secretário Estadual de Fomento Econômico na gestão anterior e ter comandado o redirecionamento dos principais esforços estatais para estabelecer as bases de uma classe média rural alternativa à grande bovinocultura de corte, recém implantada no Estado, no início da década.

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O correspondente efetivo de Joaquim Macedo no plano nacional foi o General João Figueiredo que assumiu a Presidência da República afirmando transformar o Brasil numa democracia. Como mencionado, aos trancos e barrancos, acabou cumprindo a promessa, embora não tenha passado a faixa presidencial para José Sarney, seu sucessor, a quem menosprezava.


O Governo Figueiredo enfrentou dificuldades no front externo da economia brasileira como o segundo choque do petróleo em 1979 (aumento abrupto de 75% no preço do barril) e uma expressiva elevação das taxas de juros internacionais, pressionando sobremaneira os estoques da dívida externa do país. Internamente, sofreu com uma elevada e persistente inflação, que marcou para a frente a consolidação do período mais difícil da economia brasileira, finalmente resolvido em 1994, com o advento do Plano Real.


Impõe-se, aqui, uma rápida digressão. O leitor mais jovem, ilustrado ou não, terá de pesquisar com familiares ou amigos mais velhos sobre as dificuldades adicionais de se viver sob o tacão de um processo inflacionário renitente como o brasileiro.


Ele desorganizou completamente o cálculo econômico dos agentes econômicos mascarando a lógica dos preços relativos na economia e castigou, em especial, os que auferiram renda fixa onde encontrava-se o conjunto dos trabalhadores. A inflação os empobreceu crescentemente, furtando-lhes as rendas de forma imperceptível, mediante o mecanismo da ilusão monetária. Em verdade, a inflação é, sempre e em todos os lugares, um imposto cruel sobre os pobres que também não beneficia os ricos.


Efetivamente, Figueiredo recebeu de Geisel uma inflação ligeiramente acima de 40% a.a e legou a Sarney uma taxa superior a 225% a.a. Em seu Governo, a renda “per capita“ dos brasileiros caiu de 2000 para 1680 dólares, encolhendo dezesseis por cento.


Do ponto de vista político, Figueiredo autorizou a Anistia ampla, geral e irrestrita, possibilitando o retorno dos exilados pela ditadura militar ao país e abriu as eleições diretas para os Governos Estaduais. Também mudou o quadro partidário com o advento de novas siglas, rompendo o bipartidarismo implantado no início do regime militar. Recebeu e derrotou o maior movimento de massas já ocorrido no Brasil que foi o Movimento Diretas Já, apoiado na Emenda Dantes de Oliveira. O certo é que ambos (Figueiredo e Joaquim Macedo) foram os últimos representantes dos militares nas duas esferas de governo; foram transições para a plenitude democrática no País e no Estado.


Joaquim Macedo em termos de política econômica deu sequência ao caminho iniciado e trilhado por Geraldo Mesquita sem ter, contudo, internamente, centralizado as ações de fomento num comando único. Em termos da oferta de grãos, havia um satisfatório atendimento local da demanda interna.


A pecuária de corte, por sua vez, continuou avançando e se consolidando mais vagarosamente com padrão zootécnico de alta qualidade e paulatinamente começou a atender a demanda do mercado local criando as próprias estruturas do processo de distribuição já que o de produção havia avançado significativamente.


Além da continuidade do apoio à produção local, foram elaborados estudos visando amplificar em escala Estadual as experiências dos Núcleos de Apoio Rural Integrados- NARI- com o Programa de Desenvolvimento Rural Integrado -PDRI. Esse programa, elaborado pela Comissão Estadual de Planejamento Agrícola – CEPA (um grupo de técnicos ligados à Secretaria de Agricultura) conseguiu provisionar recursos de fundo perdido junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA – à época ligado ao Ministério do Planejamento. Também foram efetuadas pesquisas em conjunto com a Embrapa do Pará para a implantação do cultivo da castanha- do- Brasil em terras acreanas.


O Governo Joaquim Macedo também foi beneficiado por uma “ Cidade Hortigranjeira “, decorrente de recursos alocados pelo então Ministro da Agricultura, Delfim Netto. Aliás, outra digressão impõe-se: o programa da Rede Globo, Planeta dos Homens, da época, expunha uma personagem, o Dr. Sardinha, representada por Jô Soares, como neófito nas questões agrícolas. Era a personagem satirizada de Delfim Netto (seu negócio eram os números). Havia, é vero, um slogan do Governo João Figueiredo que ostentava: “ Plante que o João Garante “.

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Todavia, inolvidável no Governo Joaquim Macedo foi sua prática democrática em relação às múltiplas forças políticas que se formaram no Acre. Demonstrou tolerância e respeito em relação a todas elas. Seu Chefe do Gabinete Civil, Elias Mansour, voltará a Rio Branco, em auto exílio político, depois de participar da cimeira de lideranças estudantis, no Rio de Janeiro, na luta contra a ditadura militar. É lógico que esse e outros fatos assemelhados desagradaram os aparatos de inteligência do regime, mas nem por isso o Governador cedeu aos seus vetos. Joaquim Macedo comandou o processo eleitoral direto e a transição política com admirável equilíbrio e equidistância.


Por desconhecidas razões, Joaquim Macedo não participou da liturgia de repasse da faixa governamental ao Governador eleito, Nabor Júnior. No ato, foi representado pelo Vice Governador José Fernandes do Rego.


PS: os próximos artigos representando as gestões do PMDB de Nabor Júnior e de Flaviano Melo serão da lavra do ilustrado e competente mestre Adalberto Ferreira da Silva. Aqui nesse espaço.



João Correia escreve todas às quintas-feiras no ac24horas


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