Valterlucio Bessa Campelo
Todo brasileiro interessado em política acompanha pela imprensa e mídias sociais os desdobramentos da operação ACABA A LAVAJATO que, objetivamente, pretende criar condições para soltar o Lula e reorganizar a esquerda em torno do seu símbolo maior (único?), ele mesmo, ainda que decadente.
Não é pouca coisa o que foi feito no último mês contra os procuradores e o ex-juiz Sergio Moro. Considerada a hipótese de que não tenham sido criadas, montadas, editadas, falseadas, retiradas do contexto, enfim, submetidas a artifícios visando dar coerência à versão contra a Lavajato ou, se preferirem, a favor da corrupção, ainda assim, trata-se de algo inaceitável. A ninguém é dado o direito de invadir, sem ordem judicial devidamente fundamentada, o sigilo das comunicações interpessoais de quem quer que seja. Menos ainda, creio, quando se trata de autoridades públicas.
No Brasil, amparado pela liberdade de imprensa, determinado sujeito, por ser titular de um diploma de jornalista e dono do jornal on-line The Intercept, praticamente monopoliza as atenções do parlamento, atemoriza o judiciário (quem hackeia Moro, hackeia qualquer um), radicaliza o debate político e pretende emparedar o governo com uma embiricica de mensagens criminosamente obtidas, supostamente trocadas entre procuradores e entre estes e o juiz.
Se qualquer de nós comprar, por exemplo, um celular roubado, incorre em crime de receptação, inscrito no Art. 180 do Código Penal. “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)”. Se, por acaso, desconhecemos a origem, ainda assim, a receptação é punível conforme o §4 do mesmo Art. 180. Menos, parece, se o receptador for o Glenn Greenwald, que recebeu e utiliza em proveito próprio e alheio, informações que, sabendo ou não a origem é, flagrantemente, produto de crime.
Os beneficiários do crime de Glenn sugerem que as os diálogos revelados desmascaram um complô entre Sergio Moro e a operação Lavajato, que estariam subvertendo a imparcialidade do Juiz com a finalidade de prender Lula, o que daria azo à sua desconstituição. Um tiro n’água, posto que qualquer prova obtida por meio ilícito é juridicamente imprestável, conforme o Art. 157 do CPP “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”.
Obviamente, sabem disso os receptadores do The Intercept, portanto, não é por ai que acreditam derrubar o Moro e a Lavajato, mas pela desmoralização pública, pela tentativa de descrédito levada ao clímax através da divulgação a conta gotas dos supostos diálogos (supostos por inauditáveis). Revistas, jornais e TV`s praticamente constituíram uma artilharia diária contra a Lavajato. A vassalagem, de modo desabrido, dia sim, dia sim, publica nos jornais artigos e análises replicando as informações criminosamente obtidas. Seus aliados no parlamento disso aproveitam como pauta principal de seus discursos tão inflamados quanto falsos. No conjunto, parece uma fé cega em que “agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Felizmente, não neste caso.
Neste caso, aliás, criaram e potencializaram um personagem político. Transformaram um ex-Juiz com legitimas ambições de chegar ao Supremo Tribunal Federal em um provável candidato à vice-presidência em 2022. Tanto que, antevendo o cenário, o presidente da Câmara, Deputado Rodrigo Maia, conhecido nas delações da Lavajato pela alcunha “botafogo”, já busca uma aliança com João Doria, propondo o que seria um retorno ao centro, emblematizado na aliança PSDB/PFL que governou o país por oito anos.
É de se perguntar por que o Moro não caiu, pelo contrário, sai maior de todo esse fuzilamento midiático. Em primeiro, creio que, de fato, não há ali algo suficientemente forte para justificar a sua desmoralização. Aparentemente, há uma tisna processual percebida pelos iniciados mas distante do senso comum de justiça. Enfim, ficamos no disse me disse, não há uma “bala de prata”. Embora deteste os EUA, onde uma boca nervosa quase derruba o Presidente Bill Clinton, não é lá que vive o Glenn. No Brasil, a coisa é outra coisa. Se fuxicos derrubassem governos e ministros, FHC teria caído no escândalo do filho bastardo, Lula não teria realizado dezenas de viagens com a amante Rosemary, Gilmar Mendes já teria sofrido impeachment em vista de suas decisões de compadrio e Toffoli nem teria sido nomeado.
Em segundo, porque a população brasileira, mercê dos blogs e mídias sociais, deixou de comer na mão do Jornal Nacional, jornalões e revistas semanais. Há hoje uma brutal desconfiança de tudo que se vê na TV. Tanto fizeram contra os valores da nossa sociedade que deixaram de ser o guia das famílias. Então, a base popular que validou a Lavajato desde o início resistiu à furiosa tentativa de dissolução pretendida pelo concerto Intercept-imprensa-esquerda. O povo banca Moro e a Lavajato e é melhor assim.
Já o jornalista-receptador do The Intercept, Glenn Greenwald, está com o dele na reta. Nas mãos de um hacker, seja ele quem for, não é um lugar confortável para ficar por muito tempo. Basta que a PF lhe ponha as mãos, o que pode acontecer a qualquer momento, e o criminoso poderá entregar numa bandeja a cabeça coroada do Glenn com Pulitzer e tudo o mais, aí nem a OAB inteira poderá livrá-lo de um merecido pé no traseiro.
Valterlucio Bessa Campelo é Eng.º Agrônomo, Mestre em Economia Rural, escreve todas as sextas-feiras no ac24horas.
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