Quando começou o governo, o grupo liderado por Ribamar Trindade parecia um trem desgovernado, queria controlar tudo e todos. Nos primeiros 100 dias, a principal reclamação dos secretários de Gladson Cameli era a falta de autonomia. Esse grupo conhecido como “núcleo duro” foi responsável pela primeira baixa no staff de gestão, a de Raphael Bastos, ex-secretário de planejamento.
Bastos era o único com coragem de bater de frente com os integrantes do Grupo Permanente de Planejamento Estratégico (GPPE) composto por Ribamar Trindade, o controlador Rui Oscar, a secretária de fazenda Semíramis Plácido e o Procurador Chefe João Paulo Setti Aguiar. O ex-secretário acusava essa equipe de travar a economia do Estado impedindo investimentos através das operações de crédito com bancos internacionais.
E tinha razão. Com menos de 60 dias de sua exoneração, Bastos assistiu à destituição do GPPE e a criação do Grupo Técnico Gestor do Núcleo Especial de Gestão dos Programas apoiados pelo BNDES – o NEGEP.
Os objetivos concedidos por decreto a Maria Alice, considerada supersecretária, era tudo reivindicado por Raphael Bastos. Ou seja, o gerenciamento, acompanhamento e avaliação dos projetos, subprojetos e atividades físico e financeiras de programas apoiados pelo BNDES.
Nos estreitos corredores da Casa Civil ninguém está autorizado a falar sobre esse assunto, mas, os atos oficiais assinados pelo governador nas últimas horas vão revelando as mudanças estratégicas que começaram com a transferência de seu escritório para um bloco de salas revitalizadas no Palácio Rio Branco.
O decreto que criou o NEGEP tirou do controle do GPPE milhares de dólares que poderão financiar obras estratégicas pensadas pelo novo governo, entre elas, as pontes da Sibéria em Xapuri, a ponte do Segundo Distrito em Sena Madureira e obras estruturantes planejadas para capital, como os viadutos anunciados pelo governador em seu programa de Rádio semanal.
As mudanças não param. Ao descentralizar as licitações que estavam sob domínio de Semírames Plácido (SEFAZ), o governador pretende dar maior agilidade nas contratações de novas obras para o aquecimento da economia. Esse é mais um item atendido por Cameli após reunião com um grupo de empresários responsável pelo setor da construção civil.
Esse grupo de empresários vinha dando sinais de “limite” na relação institucional, principalmente por causa da burocracia imposta e o engessamento da economia. Tudo ao contrário do discurso pregado pelo governador que garantiu não criar obstáculos para quem deseja trabalhar.
Mas dentro do governo tinha muita gente que engrossava o quórum a favor do pensamento de Raphael Bastos. Este grupo está ganhando as batalhas. Ribamar Trindade e os demais homens de confiança perdem força.
Ao lado de Rosângela Gama, que também perdeu a coordenação do gabinete de Cameli, o chefe da Casa Civil foi visto ontem (4), no final da tarde, chegando às pressas no Palácio Rio Branco onde o governador despachou durante toda a tarde.
Ribamar passou rápido pelo primeiro piso, não cumprimentou as recepcionistas e subiu as escadarias do palácio de acesso ao segundo piso. Esse mesmo caminho vem sendo percorrido por centenas de pessoas, a maioria delas comum, chamadas para dialogar com o governador que parece ter, definitivamente, sentado na cadeira de chefe de estado.
Há praticamente 20 dias, Cameli passou a despachar de forma cautelosa, ouvindo todos os segmentos e se dedicando a resolução dos principais gargalos de sua gestão.
Foi do novo escritório que ele determinou uma varredura em todas as secretarias para saber quem foi nomeado em sua gestão. Esse trabalho foi coordenado no primeiro semestre pela Casa Civil, parece não contar sequer com relatório mostrando quem é quem no poder. Ao contrário de Trindade, as ações do gabinete vêm sendo coordenadas por Ricardo França, o novo queridinho de Gladson Cameli que prefere agir por trás dos holofotes, longe dos microfones, das câmeras e dos repórteres.
Ricardo é conhecidíssimo do trecho entre o aeroporto Juscelino Kubitschek de Brasília e o aeroporto internacional Plácido de Castro, em Rio Branco. Entre um check-in e outro, ele programa os próximos passos do novo gabinete do governador.
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