Há um tipo de anedotário popular que trata de questões que jamais ocorreram factualmente, mas que muito bem poderiam ter acontecido no todo ou em parte. Inscreve-se nesse tipo uma historinha quase picaresca que diz que o Bispo Prelado, Dom Moacyr Grechi, numa missa dominical, no rito da palavra, em sua homilia, utilizou passagens dos Evangelhos como base de pregação contrária aos processos de violência e de saque a que estavam submetidas famílias de seringueiros tangidas por grileiros e jagunços pelo Acre. Todos os sofredores estariam ao deus-dará.
Na Catedral de Rio Branco, assistia à missa o Governador Geraldo Mesquita, que, consternado, teria se dirigido para perto do púlpito e pedido ao bispo um aparte em sua fala.
Geraldo Mesquita e Moacyr Grechi já foram para o Reino do Tempo da Memória. Dom Moacyr partiu anteontem. Há uma terceira personagem de proa nos acontecimentos desta época que continua dentre nós, ainda que merecedor de cuidados especiais, que é o João Maia da Silva Filho, da CONTAG. Mesquita, Grechi e Maia são sobrenomes referenciais de atores da história recente do Acre. Cada um deles merece livros e biógrafos.
Voltando ao plano interno, no início dos 70 do século passado, os conflitos pela terra haviam se multiplicado na maioria dos municípios para a formação e funcionamento do mercado de terras. Hordas de seringueiros autônomos e ocupantes dos seringais transacionados foram expulsos de suas colocações e moradias que habitavam e deslocaram-se aos centros urbanos mais próximos, por toda superfície do Acre.
No tratamento desses conflitos, três feixes de ações simultâneas, mas pouco conectadas da Sociedade Política e da Sociedade Civil tiveram lugar. A referência aqui é do papel do Governo do Acre e da Igreja Católica e dos Sindicatos de trabalhadores rurais. Parece óbvio que se os objetivos dessas três forças convergiam para a defesa e proteção dos segmentos populares recém deserdados elas tivessem concorrido para a criação de mecanismos de cooperação mais orgânicos. Não foi isso, todavia, o que aconteceu sistematicamente. N’alguns momentos dialogaram, mais como exceção que como regra. Apresentaram poucos sinais de hierarquia ou mesmo de cooperação explícita.
Será tratado hoje aqui o papel da Sociedade Civil nas estruturas ativas da Igreja Católica da Prelazia do Acre-Purus. Os Sindicatos de Trabalhadores Rurais ligados à CONTAG e o Governo Geraldo Mesquita ficarão para os próximos artigos. A Prelazia do Acre-Purus filiou-se sob o comando de Dom Moacyr Grechi ao movimento conhecido como Teologia da Libertação que desfrutou de grande prestígio criado na Igreja Católica Latino-americana. Dom Moacyr Grechi foi um dos mais importantes representantes dessa linha no Brasil, ombreando com nomes famosos como o de Dom Tomás Balduíno e de Dom Pedro Casaldáliga, presenças marcantes nas sagas das lutas da Amazônia.
Próximo de pensadores teológicos como os irmãos Leonardo e Clodovis Boff, que teorizaram a “ opção preferencial pelos pobres “, Dom Moacir fez chegar ao Acre bom número de padres e freiras e diversos leigos, inclusive estrangeiros, que receberam a missão de por para funcionar as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs – na defesa de comunidades pobres e excluídas. Grupos de Estudos, Cursos de Formação Teológica, Publicações de Periódicos, Produções Comunitárias Rurais e Ampliação da Ocupação no Ensino Formal foram instrumentos usados dentro de suas características específicas para a formação de quadros ativos na contestação do “ status quo “ e na proteção das levas de excluídos. É conveniente mencionar a proximidade com as fontes de conhecimento marxistas e a prática de uma pregação anticapitalista.
O núcleo de Padres e leigos católicos em Xapuri foi responsável direto sobre a educação e formação política de diversos líderes sindicais, inclusive de Chico Mendes.
Não havia ainda, à época, a atual pletora de confissões religiosas evangélicas, de modo que o cristianismo majoritário cingia-se ao catolicismo e igrejas evangélicas tradicionais. Por outro lado, é forçoso lembrar, também, que a linha de ação da Igreja Católica calçada na Teologia da Libertação não obteve expressão idêntica na Prelazia do Alto Juruá, considerada de corte “mais conservador”.
Dentre tantos leigos que atenderam o chamado de Dom Moacyr Grechi para acorrerem ao Acre encontravam-se os jornalistas Antônio Marmo e Sílvio Martinello, correspondente dos Jornais Estado de São Paulo e Jornal do Brasil, que acompanharam o cotidiano amiúde dos conflitos locais reportados em âmbito nacional. Posteriormente, Silvio Martinello juntou-se com Elson Martins da Silveira, correspondente da Folha de São Paulo, e alguns nomes locais e fundaram o jornal O Varadouro, muito expressivo na cobertura dos conflitos da época.
O Varadouro tinha o DNA da Prelazia do Acre Purus. Parte da Tendência Popular do PMDB e, especialmente, o PT, também.
João Correia é professor universitário e escreve no ac24horas todas as quintas-feiras.
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