Endeusaram o Moro. A ideia que se passou de toda a operação Lava-jato foi de que o juiz coordenava a investigação. Que a base operacional da força-tarefa era o seu gabinete na seção judiciária de Curitiba. Essa historinha, que só interessa para a defesa dos criminosos por em descrédito o processo, prosperou no imaginário da população em geral: Moro virou o Super Homem tupiniquim. Sem desmerecer seus méritos pessoais e profissionais, o sistema jurídico brasileiro não permite minimamente esse cenário.
É evidente que a operação Lava-jato ganhou proporções até mundiais e seu rito, em muitos momentos, teve a celeridade bem maior da que vemos nas investigações e processos pelo Brasil (ainda que comparável com a de um quelônio, mundo afora).
Em grande parte, a qualidade e a agilidade da operação se explica porque ela ocorre na quarta região da Justiça Federal. Foi no Fórum de Curitiba, mas não seria diferente se a sede fosse em Florianópolis ou Porto Alegre. Além de serem localidades onde juízes, promotores e delegados, e suas equipes de trabalho, todos selecionados para o serviço público em dificílimos concursos de âmbito nacional, escolhem para fixar morada na medida que avançam em suas carreiras, o TRF4, ao contrário dos demais, conta com um sistema informatizado de acompanhamento dos processos, o Eproc, que possibilita rapidez impressionante no trâmite entre os interessados, inclusive a imprensa e o público em geral.
Se há algo que funciona muito melhor na Justiça Federal de Curitiba que na maior parte do país é o relacionamento entre a polícia judiciária e o ministério público. Entre a investigação e a acusação. Essa eficiência tem a ver não só com a maturidade dos atores curitibanos, mas também com a rapidez com que trocam informações, exemplo que já deveria ter contaminado o sistema de persecução criminal nos demais entes da Federação.
Mas voltando ao nosso super juiz Moro e seu fiel escudeiro o promotor Dallagnol. Um hacker obteve conversas que mantiveram com seus celulares. Sabe a primeira coisa que me ocorreu? Que podia ter sido comigo. Utilizado meus dados para o cometimento de um crime ou limpado minha conta bancária.
Como perito criminal, já perdi a conta das vezes que fui procurado por moças, pais de crianças e adolescentes, amigos e desconhecidos que não sabiam a quem e como recorrer porque tiveram suas contas de aplicativos e e-mails clonados e utilizados criminosamente, com danos enormes patrimoniais e, principalmente, emocionais.
Hackers, especializados em fraudar a segurança da rede de computadores, não produzem provas. Da mesma forma que entram em um sistema, eles têm os meios de modificar dados, redirecionar informações e até manipular sistemas físicos. Assassinar reputações é só um dos produtos desses mercenários modernos. Roubam segredos da indústria, manipulam o mercado de capitais, sabotam sistemas de abastecimento e de segurança. Atuam no varejo e no atacado.
Na terra do garantismo judicial, onde qualquer dúvida sobre a procedência de uma prova a torna fruto de árvore envenenada, é sui generis a tentativa de utilização desse tipo de pirataria para condenar quem quer que seja.
A segurança no mundo da informação digital pelo combate de qualquer meio ilícito de manipulação de sistemas deveria ser compromisso apartidário, isento de ideologias. Todos somos vítimas potenciais.
Divulgar, valorizar e, principalmente, se valer de material produzido criminosamente tem que ser socialmente condenado. Nem precisaria de uma lei para isso. Basta o bom senso.
Hoje, nossos dados e muito sobre nós todos circula na internet, não apenas nos whatsapps, facebooks, telegrams e Instagrams. Dar credibilidade a quem invade um sistema para difamar o juiz Moro é endossar que façam assim com qualquer um. A próxima vítima pode ser você.
Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.
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