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Rio Croa: beleza, mistério e problemas na educação

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Um vídeo feito no início de março deste ano mostra o misterioso mexer das águas do Rio Croa, que passa há 23 Km de Cruzeiro do Sul, cortando a BR-364. Segundo pesquisadores, o fenômeno pode ter sido causado pela liberação de gases ou por um grande animal. O vídeo virou o meme da Dona Chaguinha. E é nessas águas escuras e espelhadas, que as crianças vão para as escolas, sem coletes salva vidas em barcos pagos pela prefeitura de Cruzeiro do Sul.


Três barcos transportam as crianças: as menores vão para a Escola Nossa Senhora Aparecida, no Croa, e os que passam do quinto ano do Ensino Fundamental vão de barco para a BR-364, onde esperam um ônibus, para seguir até a Escola João Bussons, na Vila Lagoinha. Só um barco é coberto, as outras duas canoas não têm proteção contra o sol e a chuva, além da falta dos coletes.

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A mãe de duas das crianças – de 4 e 5 anos, Silvani Siqueira afirmou que fica preocupada com a situação. “A gente quer um futuro melhor para as crianças, por isso coloca na escola. Mas é um perigo diário”. Uma das alunas da Escola Nossa Senhora Aparecida de apenas oito anos, conta que já teve colete, mas “disseram que não precisava mais usar”.


Os donos das canoas que transportam as crianças do Croa, são pagos pela prefeitura de Cruzeiro do Sul, por meio de nota de Serviços Prestados: R$ 1.400 por mês e cada um é responsável por conseguir o barco e o motor. A prefeitura fornece o combustível, mas segundo os barqueiros, não receberam coletes para as crianças, nem para eles mesmos.


Para a professora da Escola Nossa Senhora Aparecida, Delmires Silva, é necessário que os pais e a prefeitura de Cruzeiro do Sul, dividam a responsabilidade pela segurança das crianças. “Se já teve colete, deixaram de usar e os pais devem se mobilizar. Cabe ao poder público, fiscalizar porque se trata da vida dessas crianças, algumas bem pequenas”.


Crianças de várias séries na mesma sala e muitas do 5º ano não sabem ler


O problema vai além da segurança e pode comprometer futuras gerações. Na Escola Nossa Senhora Aparecida existe o chamado ensino multisseriado com várias séries numa mesma sala de aula.


A professora Delmires Silva conta que “teve que voltar para trás no conteúdo escolar”, porque muitos alunos do terceiro e até do quinto ano, não sabem ler, escrever, interpretar texto nem fazer as quatro operações matemáticas. A multissérie compromete sim o ensino aprendizado. É um grande desafio para nós professores, que em um mesmo espaço, temos que manter conteúdos e atividades diferenciadas para alunos de diferentes idades e séries”.


Ela diz que por causa do atraso do aprendizado dos alunos da Escola Nossa Senhora Aparecida no Croa, há três semanas, a secretaria Municipal de Educação de Cruzeiro do Sul, determinou que os alunos do terceiro ano, fiquem em sala de aula exclusiva. Preocupada com a situação, porque muitos alunos repetem o terceiro ano até três vezes, a professora destaca que “ isso, compromete toda a vida escolar do aluno com relação à idade série”.


“A falta de escolas aqui tira os filhos da gente de casa”

No Croa, os estudantes só ficam até o quinto ano do Ensino Fundamental. Para seguir com os estudos, a maioria vai de barco e ônibus até a Escola João Bussons, na Vila Lagoinha, distante 17 Km da comunidade. Para fazer o ensino médio, os alunos têm como opção as Escolas Humberto Campos e Juarez Ibernom, no Projeto de Assentamento Santa Luzia, também na BR-364, há 31 Km de casa.



Uma das moradoras do Croa, Ana Cleide Souza, diz que os filhos e pais sofrem porque já aconteceu de o ônibus quebrar, motor de barco falhar, além do perigo das crianças ficarem na BR-364 esperando o ônibus, para fazer o restante do percurso até as escolas da Vila Lagoinha e do Santa Luzia. “Muitos estudantes desistem ou saem de casa para a cidade, como o meu mais novo, que foi para a casa da vó em Cruzeiro do Sul. É triste porque a gente quer os filhos da gente em casa, podendo estudar dignamente e aqui como é uma comunidade grande, já deveria ter como as pessoas poderem sair daqui para a universidade, ou nem isso”.

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O secretário Municipal de Educação de Cruzeiro do Sul, professor Amarisio Saraiva, afirma que anualmente, a secretaria de Educação de Cruzeiro do Sul fornece coletes salva vidas para os barqueiros darem para o uso das crianças. Diz que é responsabilidade dos professores e a gestão da escola, cobrarem o uso do item de segurança.


Quanto ao ensino multissérie na Escola do Croa, o secretário cita que esta é a realidade das escolas rurais de toda a Amazônia, já que não há alunos suficientes para a formação de turmas de todas as séries. Para ele não é possível afirmar que o ensino multissérie prejudica o aprendizado dos alunos. “O aprendizado depende do desenvolvimento de cada estudante e do planejamento dos professores”, pondera e educador.


Unidade de Conservação

É dos governos estadual e federal a gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Croa Valparaíso, que tem 106 mil hectares. No Croa, são cerca de 700 moradores. Com natureza exuberante, povo acolhedor, Vitórias Régias e Samaúmas, o local atrai turistas brasileiros e estrangeiros, que podem se hospedar em duas pousadas rústicas dos próprios moradores, que também oferecem passeios de barco e em trilhas da floresta. Um dos lugares mais bonitos da região do Vale do Juruá.


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