Faz alguns anos, passei duas semanas numa missão em Marechal Thaumaturgo e todos os dias ouvia sobre alguém doente. Imaginei que houvesse um surto de dengue ou malária, mas acabei descobrindo a enorme incidência de casos de diarreia, principalmente entre crianças.
Na época, a água de distribuição da cidade era coletada do Juruá, em plena região central da cidade, e não havia uma estação de tratamento para que a distribuição fosse realizada garantindo padrões mínimos de potabilidade.
Descobri depois que a coisa não era muito diferente na maior parte dos municípios do interior do Acre. Mesmo Rio Branco, com todo o investimento que já foi feito por aqui, nunca conseguiu ter água nas redes nas vinte e quatro horas do dia, que é a principal condição para garantir que não ocorra contaminação no sistema de distribuição.
Estamos tão acostumados a ter somente quatro horas de água a cada dois dias que nem nos damos conta de que quando os tubos estão vazios eles recebem a lama que se forma nos locais onde a rede tem vazamentos. Como as perdas do sistema são da ordem de 60% da água que é tratada, é razoável imaginar que há muitos locais de contaminação ao longo da tubulação enterrada.
Mas basta ver a quantidade de lodo que se deposita no fundo das caixas d’água para ter alguma noção da gravidade disso.
Quando o assunto é o lixo doméstico, a coisa é ainda pior. Ninguém está muito interessado em saber onde a prefeitura esconde nossos rejeitos. Muito recurso já foi destinado para a instalação de aterros sanitários, mas somente Rio Branco, no Acre, tem um sistema que opera cumprindo as normas. Diversos municípios compraram equipamentos para o manejo adequado, mas preferiram manter seus lixões e usar as máquinas em outras atividades mais visíveis à população.
Quanto ao esgoto, nem em Rio Branco conseguimos realizar algum tratamento antes de mandar os dejetos para os igarapés e o Rio Acre, a despeito de todo o recurso gasto na construção de ETEs, elevatórias e redes.
Obras enterradas não são mesmo prioridade dos nossos administradores. Construção feita sem qualidade, falta de separação das águas de chuva e manutenção zero.
O resultado de tudo isso é a enorme quantidade de doenças de veiculação hídrica que acometem nossa população, além da proliferação de vetores associados aos locais de contaminação.
O colégio onde fiz o ensino médio mantinha um curso técnico de Saneamento. Formava uma farta mão de obra para operar os laboratórios, estações de tratamento e a construção das redes e sistemas de água e esgoto dos municípios da região. Talvez seja um motivo que faz Jundiaí, no interior de São Paulo, ter um dos melhores sistemas sanitários do país, com 100% de atendimento de água e esgoto. Falta muito, por aqui, ter profissionais para essas atividades. Falta também massa crítica para cobrar qualidade da administração nessa área.
Diz-se hoje que, no ritmo que os sistemas são implantados no Brasil, somente em 2050 conseguiremos ter um serviço de saneamento decente. Há 40 anos essa projeção era para o ano 2000. Perdemos meio século? Será que nada foi realizado nesse tempo todo? Não é o que dizem os números quando analisamos os “investimentos” realizados com recursos do FGTS, BNDES e, principalmente, emendas parlamentares e programas do governo federal.
Uns defendem a privatização dos sistemas, outros a operação pelos municípios. Corre no Congresso o projeto de lei do Marco Legal do Saneamento que, entre outras coisas, prevê a proibição dos municípios contratarem diretamente estatais de saneamento com dispensa de licitação. O importante é que as obras e os serviços sejam realizados com qualidade e profissionalismo.
Já jogamos muito dinheiro fora tratando nossa água, esgoto e lixo de forma displicente. Saneamento bem gerido dá lucro, senão não haveria tanto lobby por privatização. Com uma das tarifas mais baratas do Brasil, de R$2,23 por metro cúbico da água tratada, o potencial de faturamento no Acre é da ordem de R$4.800.000,00 com o serviço de água, que atende 60% da população, e de R$1.400.00,00 com a coleta de esgoto, que atende apenas 22% dos acreanos, imaginando um consumo médio de 150 litros por pessoa por dia, que é bem inferior à produção atual do Depasa
De qualquer forma, o custo com a manutenção de um sistema de saúde para cuidar de doenças evitáveis é muito maior que manter um bom sistema de Saneamento.
Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.
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