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Modernização Agrícola – uma pedra no sapato do desenvolvimento do Acre

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Valterlucio Bessa Campelo


Qualquer pessoa que tenha se aventurado em viagens de carro pelo Brasil, certamente notou em muitos lugares uma diferença importante em relação ao Acre. O campo, as beiras de estradas, os armazéns e silos, as máquinas agrícolas, as plantações etc., retratam com fidelidade aquilo que se ouve no noticiário, ou seja, a pujança do setor agrícola, a força do agronegócio. O interior do Brasil é, de fato, responsável grandemente pelo desenvolvimento nacional e, como diz na TV, o agro é tech, o agro é tudo. Mas não no Acre.


Há alguns anos, vários pesquisadores publicam trabalhos direcionados a identificar o grau de modernização da agricultura em determinadas regiões, a partir de dados censitários de base municipal. Entre tais estudos destaco os da lavra do premiado Professor Associado da UFAC, Doutor Rubicleis Gomes da Silva, que juntamente com outros cientistas publicou diversos artigos tratando do tema. Em todos eles, uma conclusão – o Acre tem baixo índice de modernização agrícola.


Quando comparado com Rondônia, como concluiu no trabalho publicado em 2011 “Política agrícola e modernização – Rondônia e Acre em evidência”, realizado com o economista José João de Alencar, também professor da UFAC, o resultado é desalentador. Dezenas de indicadores fizeram o estudo concluir que dos municípios acreanos, 95,46% têm índice médio com forte viés de baixa e apenas dois municípios podem ser considerados com alto índice de modernização. Dos municípios das microrregiões de Rondônia, 77% apresentam grau médio com viés de alta e 23% dos municípios apresentam alto índice de modernização agrícola. Segundo os autores, “os resultados levam à conclusão de que a ausência de política agrícola contribui para o baixo nível de modernização agrícola do Estado do Acre”.


Pois é. O que qualquer cidadão percebe ao viajar pelo Brasil também é percebido e quantificado pela ciência. Somos um Estado órfão de uma política agrícola que faça ingressar em nossos sistemas de produção os requisitos mínimos necessários de modernidade, de tecnologia de informação, de insumos e maquinário, de sementes e fertilizantes que elevem a produtividade e a diversidade agrícola.


Embora a modernização, considerada como atualização de técnicas, métodos e sistemas de produção seja uma obviedade como percurso do desenvolvimento, se consolidou no Acre a opção por um caminho contrário. Ouvi certa vez de uma autoridade que ”O Acre não precisa de produção agrícola desde que geremos na Floresta renda suficiente para comprar o que precisamos”. Pareceu que eu estava diante do Rei Saudita falando da riqueza de seus poços. O resultado desta visão caolha é que hoje em dia, nem uma coisa nem outra.


Outro dado relevante, este buscado no Censo Agropecuário de 2017, indica que dos estabelecimentos agropecuários do Acre, 11,4% recebem alguma orientação técnica, enquanto em Rondônia este número é de 18,7%. Em termos de acesso ao crédito, no Acre apenas 9,8% foram financiados de algum modo, já em Rondônia este índice é de 20%. Teria isto algo a ver com o fato de que desde 1999 a EMATER/AC íntegra, pela Lei Complementar Nº 63, o rol de órgãos a serem extintos?


Uma verdadeira política agrícola, como a que tem sido anunciada pelo atual Governo, terá necessariamente que observar os dados da realidade rural, do nível tecnológico empregado e, através de suas instituições, fazer fluir para os produtores, notadamente os pequenos, que no caso do Acre são mais de 80% do total, recursos e orientação que promovam o campo a patamares cada vez mais altos de modernização, oferecendo com isto maior dinamismo e competitividade. Não é possível expandir o uso de tecnologia moderna em condições de isolamento em relação ao conhecimento. O baixo índice de modernização da agricultura do Acre constitui, sem dúvida, uma pedra no sapato do governo. Andar mancando é, neste caso, uma escolha.



Valterlucio B. Campelo é Engº Agrº, Mestre em Economia Rural


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