É bem mais grave do que se pode imaginar a decisão política do presidente Jair Bolsonaro de acabar ou pelo menos dificultar o funcionamento das faculdades de Filosofia e Sociologia.
A justificativa para agradar a “grande massa” é que “o dinheiro do contribuinte merece respeito e deve ser direcionado para cursos que apresentem mais resultados econômicos para o pais, como a engenharia, medicina veterinária, agronomia, etc.
Vale uma pausa para recordar que o respeito exigido ao dinheiro do contribuinte não foi considerado por ocasião da contratação de funcionários “laranjas”, tanto no gabinete dele quanto nos gabinetes de seus filhos.
Ainda que a autonomia universitária esteja protegida pela Constituição, o desejo presidencial pode atingir seus objetivos, vez que o poder executivo é o detentor exclusivo da iniciativa de elaborar o orçamento público. Ou seja: basta asfixiar financeiramente essas faculdades e o fim delas estará decretado.
Para esse intento basta o silêncio obsequioso de uma sociedade desiludida e anestesiada.
Não é de hoje que o Brasil atravessa esse turbulento processo de histeria nacional e coletiva. Tudo começou quando o Partido do Trabalhadores chegou ao poder e estabeleceu como sua principal arma para se perpetuar no poder uma espécie de sanduíche social, onde o ódio e a intolerância eram os recheios para separar os bons e os maus, a elite e o povo.
Talvez o estabelecimento do “apartheid” tenha sido o pior legado deixado pelo partido de Lula, Jorge e Tião. Talvez mais que os males causados pela corrupção. Corrupção se pune.
Sistemas de controles eficientes evitam e previnem desvios. Investigações de bons promotores de justiça e sentenças de bons juízes podem acabar com a impunidade.
Mas o ódio milimetricamente construído e pensado para alimentar essa divisão social não se lava com facilidade. Na maioria das vezes nem acaba nem diminui. Bolsonaro quer de um lado os patriotas e de outro os vendilhões da pátria.
Se o PT e sua penca de intelectuais estimularam a construção de uma sociedade dividida, Bolsonaro almeja uma sociedade acéfala, sem cabeças pensantes.
Em diversas oportunidades o presidente já declarou querer escolas onde as crianças e jovens estudem o português e a matemática, no estilo “vovó viu a Uva”, abstraindo-se que a escola é um espaço também , e sobretudo, para formação de cidadãos.
Quem tem aversão à formação crítica, à filosofia e à sociologia, ou é um atrofiado cultural ou, deliberadamente, pretende formar um povo sem rumo.
Bolsonaro é mantido pela ignorância que embala.
As maluquices de Bolsonaro encontram guarida nos fanáticos que acham que a filosofia e a sociologia são meras e chatas disciplinas ofertadas transversalmente nas grades curriculares de outros cursos, geralmente ministradas no último horário quando dois terços da turma já gazeteou a aula.
Filósofos e sociólogos não são formados em cursos à distância pela internet. Não é impreciso dizer que o conhecimento científico mundial não seria o mesmo, ou até não existiria no nível em que se encontra, sem a inestimável contribuição da filosofia e das ciências sociais.
Não existe ciência nem avanço social sem a filosofia e a sociologia. Acabar com essas faculdades é condenar o pensamento e o futuro do país.
E estamos apenas no quarto mês de gravidez de um governo que não sabemos o que ainda tem de bom pra parir.
O presságio do pré-natal bolsonariano é que durante o parto saia uma ninhada de caubóis resolvendo tudo na bala.
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