Desde o Plano Real, que acabou com a hiperinflação no Brasil, o aumento do preço das passagens de ônibus em Rio Branco passou a ser anual. Mas, independentemente da periodicidade dos reajustes, sempre que houve conflitos ligados ao tema eles se iniciaram no mês de maio, não por acaso: é o mês do reajuste salarial dos funcionários das empresas de transportes.
Em 1985 fui interventor na antiga Viação Rio Branco após um maio turbulento e a negativa do então prefeito Flaviano Melo de ceder às pressões por um aumento superior ao cálculo apresentado por sua equipe técnica.
Na mesma época do ano, em 1990, o prefeito Kalume também interviu e, em 1992, foram em maio os episódios que levaram a vice-prefeita Yolanda Lima a quebrar os contratos vigentes e liberar os serviços.
Mais que o preço dos combustíveis e dos próprios veículos, o maior peso sobre o custo dos serviços de transporte coletivo é a folha de pagamentos. Por isso a tendência nacional de extinguir a figura do Cobrador.
Condicionar o aumento dos salários ao reajuste da tarifa é algo quase que natural para os empresários e posiciona os funcionários das operadoras ao lado de seus patrões.
A intervenção que acompanhei mais de perto foi a de 85. A tarifa estava em Cr$600 e as empresas pediam Cr$900. O cálculo, realizado pelo DTP e Comissão Tarifária dava Cr$700. A inflação da época era da ordem de 10% ao mês ou 220% ao ano. Assumimos a empresa na noite de 31 de maio, uma sexta feira, com o caixa zerado e a folha do mês para pagar.
Em conjunto com a direção da empresa foi tomado um empréstimo bancário e resolvido o pagamento dos funcionários. No dia 3 de julho a operação foi retomada pelos proprietários com todas as contas pagas, inclusive o total do empréstimo contraído, e demonstramos que a tarifa de Cr$700 era adequada para aquela época.
A partir de então a empresa passou a fazer investimentos, com recursos de seus proprietários, para renovação da frota, que em 1987 já era considerada uma das mais novas do país, e em uma estrutura moderna de garagem e oficina.
Já a mexida de 1992 foi desastrosa. Recém renovados os contratos das empresas, desconsiderando pareceres técnicos da época, a prefeita em exercício enfrentou o conflito tarifário determinando a saída das operadoras Rio Branco e Aquiry e convidando quem quisesse vir para assumir as linhas de ônibus da cidade.
Dez empresas, muitas das quais criadas às pressas por empresários locais, trouxeram uma frota obsoleta e passaram a operar o sistema. Em um mês, as donas dos contratos obtiveram judicialmente o direito de reassumir suas linhas e a cidade virou um caos.
A solução para contornar o problema de relacionamento entre as operadoras foi a criação do Sindicol, que passou a atuar como porta-voz de todas e, com o tempo, assumiu também diversos serviços como o controle da quantidade de passageiros e da quilometragem rodada pelos veículos, além de atividades importantes da fiscalização.
Em última instância, o sindicato das empresas é que fornece atualmente as informações que determinam o preço da passagem dos ônibus em Rio Branco.
Em 2017, quando o assunto da tarifa esquentou, os vereadores aprovaram uma lei de autoria do prefeito Marcos Alexandre tirando o corpo fora do problema.
No ano passado a prefeita Socorro passou um perrengue porque os dados da planilha foram fortemente questionados. Confiou na RBTrans que confiou nas informações e planilha apresentadas pelo Sindicol e passou a conta pro povão que anda de ônibus.
Coisa que não entendo é porque as entidades que representam empregadores do comércio e indústria, que se ressentem tanto do “custo Brasil”, costumam apoiar a falta de controle público do serviço de ônibus por aqui.
Enquanto isso, com o preço cada vez mais caro e menos eficiente, as pessoas vão se resolvendo com outros modos de transporte. Hoje a frota de motocicletas em Rio Branco já é maior que a de automóveis. Em certos casos, fretar um Uber é mais econômico. A quantidade de passageiros do transporte coletivo não cresce faz mais de vinte anos. Não demora e o sistema ficará inviável e o trânsito insuportável.
É urgente a prefeitura enfrentar e quebrar o cartel das empresas, assumindo o controle das informações objetivas dos serviços realizados, em especial a quantidade de passageiros, a quilometragem e o consumo real de combustíveis, além de retomar a gestão dos terminais, do passe dos estudantes, do vale-transporte e dos serviços realizados aos usuários com necessidades especiais.
Maio está aí. Ou a prefeita se antecipa ao problema ou continuará refém do cartel.
Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.
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