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Amnésia

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João Correia

Nos momentos em que a Frente Popular dirigiu simultaneamente os Governos do Acre e da Capital Rio Branco houve uma simbiose entre as duas instâncias de poder. Ficaram juntos e misturados, conforme título de programa televisivo atual. Como o Executivo Estadual é mais poderoso, coube-lhe mais facilmente adentrar as competências da municipalidade e tornar a plasticidade de Rio Branco em duas faces de uma mesma moeda.


Essa simbiose foi paulatinamente sendo desfeita com a renúncia de Marcus Alexandre à PMRB para candidatar-se ao Governo do Estado e a elevada poupança forçada patrocinada no começo do Governo de Gladson Cameli.


A petição de miséria da buraqueira de Rio Branco, por sua vez, também carrega um pouco dessa marca: o recolhimento em si mesmo do Governo do Acre e a condenação à solidão política da Prefeita Socorro Neri.


As atitudes das administrações do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal parecem ter previsto contar com a anistia dos cidadãos/ munícipes, isto é, com seu providencial esquecimento; e foi feito de caso pensado e meticulosamente calculado.


No caso da brutal poupança patrocinada pelo Governo do Estado, liquidando salários e impedindo a transformação da potência em atos, a repercussão deu-se imediatamente com a pauperização do conjunto social mas, também, adiou e cancelou investimentos de empresários e comuns.


É conhecido o fato de que, em seus cálculos econômicos, os players da economia são desestimulados fortemente ao se depararem com situações de miséria, especialmente de miséria crescente, como sói ocorrer agora, nestas plagas. E isso acontece em qualquer lugar e em qualquer tempo.


Por consequência, o caixa governamental engordou e restou bem reforçado para dispêndios futuros em obras certamente úteis e necessárias, e que serão bem aplaudidas. Mas tais investimentos em obras serão feitos, na maioria dos casos, sobre “ terras arrasadas”.


É como se existisse uma horta, com vários tipos de verduras, que tivesse que atravessar o rigoroso “ verão “ amazônico dos meses mais secos; e que quando mais as hortaliças necessitaram de água não se lhes regou uma única gota. A água foi sendo armazenada pelos próceres governistas para dar-lhe inteligentes usos futuros. Decorridos setenta dias de seca total, os condestáveis – com grandes mananciais de água acumulados pela poupança forçada – ordenaram profusa irrigação da desgraçada horta abandonada. O desperdício de água teria de ser total: não havia nada mais verde, nenhum sopro de vida vegetal, tudo morrera, tudo havia sucumbido, não sobrara vivalma. Água e mais água derramada não tocaria mais em vida e nada haveria mais para ressuscitar.


É claro que a nomenclatura do Governo Gladson Cameli não ordenaria a tentativa de regar a horta hipotética; por certo ela daria de ombros ao fato de nela tudo ter sido destruído, afinal de contas o povo, esse zé povim, tem memória mais curta de que coice de porco. Têm-se como certo de que à vista das novas obras, o zé povim ficará mais alegre de que pinto em beira de cerca e bailará como os indígenas na dança da chuva ou nos grupos religiosos de Ayhuasca.


Uma pequena digressão impõe-se, nessa altura: a exoneração, ontem, do Secretário Estadual de Planejamento, Raphael Bastos, tem algo bem substantivo a ver com o pensamento e a intervenção governamental nesta questão. O Ex Secretário, com a noção de que cabe ao Estado estimular as atividades produtivas para fomentar o aumento na ocupação das pessoas e fatores de produção e gerar efeitos multiplicadores de emprego e renda trombou com o núcleo duro do Governo do Acre, representado na ponte Manaus- TCE e daí a tentáculos operacionais no Executivo.


Este núcleo duro – optante de um encolhimento radical dos gastos do Governo – adepto, portanto, de uma política recessiva e, no limite, depressiva, considerou as propostas de Rafael Bastos um sacrilégio a ser punido. Como não se tem pena de morte no ordenamento jurídico, decorre daí uma das causas de sua demissão.


Finda a digressão e retomando-se o tema específico, no que diz respeito à PMRB, é possível que algo de semelhante esteja a ocorrer com a Prefeita Socorro Neri e seu entorno. Sabe-se que a Prefeitura investirá a cifra de 50 milhões de reais numa mega operação tapa buracos, assim que o engenheiro verão mostrar sua cara. Isso foi bastante alardeado, cantado em prosa e versos. De fato, Rio Branco, a Capital, guarda muitas semelhanças com a face visível da lua, a olhos nus.


Bem aplicados, 50 milhões poderão até ser insuficientes para dar conta das necessidades de calafetação das ruas e praças da Capital, mas farão incomensurável diferença aos tristíssimos dias de hoje.


Será que os munícipes ficarão felizes feito pintos em beira de cerca e empreenderão danças da chuva e rituais de Daime, também? É possível que sim e é possível que não, ou seja, tudo é possível. Há os mais alegres, mais festeiros, mas há, também, os que não se livram do ressentimento de ter familiares atropelados (em desvios de buracos); de terem as suspensões de seus carros, motos e bicicletas danificados; de terem tido que meter a mão no bolso para permanentes consertos de seus equipamentos; de terem sido assaltados pela impossibilidade de desenvolver maior velocidade; de terem brigado e se estressado na aventura de trilhar as ruas de Rio Branco etc etc.


E, nos dois casos, tudo será escrutinado pela memória dos cidadãos. Se olvidarão ou não, quem poderá afirmar de certo?


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