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E precisamos rejuvenescer

Por
Roberto Feres

Minha conta no Twitter completou dez anos e só agora que consegui me entender com esse nicho do mundo digital. Ali sigo o Papa, o Mito, o Moro, uma dúzia de jornalistas, alguns políticos da nova geração e uma molecada local na faixa dos 20 a 30 anos que reage surpreendentemente bem aos meus pitacos. São a geração do co-working, do Uber, do Airbnb, do iFood, do Game of Thrones, do Lollapalooza e do Lollapaleezo, sucesso local do último final de semana.


A superexposição que essa moçada se permite nas redes sociais, confesso que é algo diferente que tenho alguma dificuldade em compreender. Mas, na idade deles, não tínhamos os meios que a internet disponibiliza agora.


Peneirando os excessos, os memes e as lacrações, sobram na turma do cyber underground as mesmas inquietações que projetaram Raquel de Queiroz, Carlos Drummond, Adélia do Prado ou Cora Coralina, ou que inspiraram Belchior a compor o Velha roupa colorida, talvez porque nossos humores humanos são determinados pelo mesmo mix de hormônios há milênios.


Quando eu tinha a idade deles também era cheio de convicções, verdades pré-concebidas e um poço de dúvidas. Me salvava um gosto peculiar de conversar com pessoas muito mais velhas, que tinham histórias para contar. Mania que começou ainda criança, passando horas de prosa com os vizinhos, dona Isaltina Basile, dona Preciliana e seu Crispim, com meus muitos tios avós, e que mantive na adolescência e nos tempos da faculdade, em São Carlos, ouvindo conselhos e a experiência do professor Mário Tolentino, do seu Oscar e dona Carminda Ferreira, entre tantos outros.


Quando cheguei ao Acre, mantive o gosto por um bom tempo, embalado por personagens interessantíssimos como seu Tufic Assmar, Alberto Felício, que não me deixava passar por seu aquário sem tomar um doze anos com gelo de água de côco, meus vizinhos da Habitasa os padres José e Peregrino, Lourival Marques, Jorge Araquém, as tias Clarisse Fecury e Laudi Melo, dona Inglesinha, os irmãos Adonai e o Pancho Santos, seu Pedro Veras, João Tota, Foch Jardim, Rufino Vieira, amigos do meu sogro Hamburgo. Todos com muitas histórias, estórias ou lorotas para contar.


O Zé Chalub Leite eu já conhecia da redação do O Rio Branco, mas convivi mais com ele trabalhando no governo Cadaxo e na prefeitura do seu Kalume. Quando não tinha o que fazer (e quase nunca tinha), subia para uma prosa com o secretário de comunicação para ouvir seus comentários do dia a dia local e episódios que se passaram na cidade dos anos 60 e 70.


Uma tarde ele começou me pegando no pé, dizendo que, por analogia, eu seria um arquiteto: o Nalim tem três filhas, o Kipper tem três filhas, o Roney tem três filhas, o Fernando tem três filhas, você tem três filhas. E concluiu com uma piadinha infame sobre as obras construídas por arquitetos. Em seguida me despejou seu repertório completo de piadas de arquitetos. Dois dias depois, recheou sua coluna Tão Acre com as mesmas piadas como se eu que tivesse contado. Paguei o pato na primeira ida à associação dos engenheiros.


Dos trinta aos quarenta o tempo voou e a internet foi determinado os espaços das boas prosas e conversar com gente mais velha é ainda uma atividade analógica, eu acho, que não se adaptou ao mundo digital. Quase sessentão, descobri que eu próprio me tornei o velho cheio de coisa para dizer, agora dispondo de meros 280 caracteres por causo.


Falei do Zé Leite, porque devo num bom tanto a ele a habilidade de furar conversa dos outros e desviar o assunto para pontos de vista diferentes. Imagino, às vezes, como seria ele interagindo nas redes sociais com essa molecada de hoje. Os puxões de orelha cibernéticos ao ler vícios de linguagem, as frases feitas, os lugares comuns.


Segundo as últimas estatísticas eu ainda duro um bom tempo e o conselho do Harari (21 ideias para o século 21) é se reinventar o tempo todo. Sei lá o que vem por aí depois do Twitter ou da própria internet, mas quem fica parado e poste.



Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.


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