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Questões de DNA

Por
João Correia

O MDB é o partido político legal mais antigo do Brasil. Fundado em 1966, no terceiro ano da ditadura militar, teve como seu primeiro Presidente o Senador pelo Acre, Oscar Passos.


Partido consentido pelos militares- para evitar-lhes a pecha de totalitarismo de partido único- o MDB foi composto por egressos do extinto PTB e demais forças políticas à esquerda proibidas pela ditadura. Aprendeu a ser, desde o início, tolerante com a diversidade de ideias e de práticas políticas e acabou tornando-se o grande guarda chuva protetor e a voz dos silenciados pela tirania.


O MDB foi o inegável comandante da redemocratização do Brasil e tem sido ao longo da Nova República seu principal alicerce de sustentação. Vive-se, por 34 anos ininterruptos, o segundo mais longevo período de normalidade democrática da história republicana do país. E o MDB tem protagonismo nessa conquista.


É lógico que, como parcela do conjunto do pensamento dos cidadãos, o MDB é também bastante contestado e combatido por forças políticas concorrentes, o que é necessário, normal e corriqueiro numa democracia.


Da proteção do guarda-chuva do MDB saíram forças como PC do B, PCB/PPS, PDT e PSDB, dentre outras, em busca dos próprios caminhos, e nem por isso o velho Manda-brasa deixou de ser uma das mais consistentes forças políticas do Brasil moderno. À parte a esfera parlamentar, o grande número de municípios e boa parte dos Estados, o MDB em dois momentos cruciais da República comandou o Executivo Nacional e ambos em circunstâncias dramáticas.


O primeiro com a vitória no chamado Colégio Eleitoral sobre a representação da ditadura- a ARENA- mediante a eleição de Tancredo Neves. Um Governo Civil selaria o fim do autoritarismo, coroando o monumental esforço do povo brasileiro com a campanha das Diretas-Já, simbolizada pela Emenda Dante de Oliveira, do MDB, e pelo Senhor Diretas, Ulysses Guimarães. A insólita morte de Tancredo Neves exigiu do MDB um ato extremo de responsabilidade democrática ao ceder o comando do poder para José Sarney, o Vice Presidente egresso e dissidente da ARENA, força base da ditadura vencida.


O segundo momento está na memória recente de todos. Com o impeachment da Presidente Dilma Roussef, assumiu o comando do Brasil o Vice Presidente Michel Temer, Presidente licenciado do MDB. Sob condições hostis e adversas, desconhecidas numa democracia em tempos de paz, levou a cabo um programa de reformas que evitou o mergulho certeiro do Brasil no precipício da depressão e diluição da nacionalidade.


Com uma leitura correta da realidade ( Uma Ponte Para o Futuro ) e raríssima habilidade política, legou ao seu sucessor um país livre de uma recessão acumulada que queimou mais de 10% da riqueza nacional. É certo que as taxas de crescimento do período Temer foram modestas, mas foram positivas e espantosamente preciosas diante de tamanhas tribulações.


O esforço ciclópico despendido por Michel Temer salvou o Brasil, mas foi extremamente danoso ao MDB. O partido recebeu os efeitos onerosos da impopularidade do Presidente e das reformas que promoveu e teve dificuldades de reproduzir suas bancadas Brasil afora. Na Câmara Federal, por exemplo, a bancada de deputados federais diminuiu pela metade. Vale a menção, nesse sentido, de que o Acre foi afortunado e não foi fustigado por esse vendaval.


Por derradeiro, há uma característica no MDB que o singulariza diante dos demais partidos brasileiros. Dá até para se dizer que essa característica responde, em parte, pela preferência que os cidadãos lhe dedicam por tantos anos nos quadrantes do Brasil. Ao contrário dos demais partidos existentes, a direção nacional do MDB jamais interveio nos Estados contrariando disposições políticas tomadas pelas direções regionais. Alguns chamam isso de federação de partidos; outros, de respeito às deliberações democráticas locais.


O Acre é um vívido exemplo dessa prática saudável. O MDB nacional apoiou os quatro Governos petistas de Lula e Dilma Roussef, enquanto o MDB do Acre fez-lhes cerrada oposição tanto no plano nacional quanto no plano local. É por isso que o MDB do Acre é a única força política que sempre deu combate à Frente Popular e é a única força política de oposição (hoje situação) que não nasceu de seu ventre.


Velho amigo do MDB de cá, o Presidente nacional Michel Temer respeitou as decisões locais, mesmo quando ele próprio foi candidato a Vice Presidente da República e sequer pleiteou apoio. Esse comportamento republicano e democrático moldou atêmpera do MDB acreano.


Na próxima quinta-feira, focar-se-á no Acre.


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