Luiz Calixto
Cresci ouvindo que Deus é brasileiro, que o pessoal parido nas maternidades da terra de Cabral “não desiste nunca” e que o melhor do Brasil é brasileiro. Gerson, o canhotinha de ouro da seleção de 1970, imortalizou que o brasileiro é um sujeito esperto, que não perde a oportunidade de “tirar vantagem em tudo”. E Chico Buarque em sua poesia cantou que “a pátria mãe dormia tão distraída, sem saber que era subtraída em tenebrosas transações”.
Mais recentemente, Jair Bolsonaro embalou o eleitorado brasileiro com o slogan “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Ou seja: o sentimento de nação e de patriotismo sempre foi um argumento explorado politicamente tanto pela esquerda quanto pela direita para sensibilizar e anestesiar o povo brasileiro.
O assunto da hora, que tomou conta das redes sociais, foi a ordem do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, um colombiano naturalizado brasileiro, determinando que o Hino Nacional fosse tocado e cantado nas escolas. Segundo o ministro, a intenção do governo era despertar o sentimento cívico da nação.
Antes da reação precipitada da patrulha patriota, digo que não sou totalmente contra a ideia, até porque cantei muito o Hino Nacional no grupo escolar Dr. Mário de Oliveira, no bairro Cerâmica, em Rio Branco, mesmo sem saber pra quê.
Espero que hoje, ao menos, saibam qual a intenção dessa doutrinação.
Ocorre que estão colocando a carroça na frente dos bois. Por si, a simples cantoria de um hino não será suficiente para resgatar o sentimento de amor ao país ou para acordar o gigante adormecido em cada um de nós.
A Seleção Brasileira de futebol, às vezes e por alguns instantes, quando ganha alguma partida, até consegue manter esse sentimento que acaba após a primeira derrota.
Nem no passado recente, quando os governos roubavam, enganavam e a gente ignorava, pois a imprensa vivia sob censura e os órgãos de fiscalização eram meramente decorativos, o patriotismo não foi capaz de mover o povo. Muito menos agora, em tempos de liberdade e de redes sociais.
É quase impossível exigir patriotismo de um povo que não participa da divisão da riqueza nacional. Cantar o hino não vai encher a barriga de um povo que vive de migalhas, bombardeado diariamente pelo noticiário dos casos de corrupção.
Ao sinalizar com a obrigatoriedade, o máximo que o ministro da Educação obteve foi a proliferação de “memes”, além de paródias e coreografias a partir do Hino Nacional para ridiculariza-lo.
O povo carece de bons exemplos. O problema é que a classe politica exige do povo aquilo que não oferece em troca.
De certa maneira, os dirigentes do país agem como um São Francisco às avessas: querem receber sem dar.