Gladson Cameli fez uma carreira política meteórica. De família política tradicional e rica, o que não é pouco, o jovem engenheiro foi profusamente bafejado pela fortuna. Elegeu-se e reelegeu-se Deputado Federal pela Frente Popular e saiu da agremiação em busca de maiores espaços políticos vitais. Venceu a disputa de Senado, já pela oposição, contra antiga aliada, Perpetua Almeida, e caiu graciosamente na simpatia popular para a futura eleição de Governador do Acre.
Para isso, no entanto, a fortuna que, segundo Maquiavel, tem predileção pelos jovens acorreu novamente em seu auxílio. Com efeito, Gladson Cameli enfrentou um candidato da Frente Popular infeliz herdeiro político direto de uma gestão bastante impopular e desgastada- o segundo mandato do Governador Tião Viana. Os acreanos queriam mudar o quadro político a qualquer custo e decidiram tirar o PT da esfera pública pelo voto e o Senador Gladson Cameli foi o instrumento escolhido.
Seria injusto atribuir a Gladson Cameli apenas a companhia dos sortilégios da fortuna. Longe disso. Ele foi muito arguto em criar e aproveitar-se das diversas oportunidades políticas que surgiram, até ganhar o Governo.
Bom, governar um estado em dificuldades feito o Acre, recebido de 20 anos de equívocos do PT, exigiria de qualquer gestor mais do que a boa e graciosa sorte. A fortuna apontada pelo gênio de Florença teria que encontrar seu par, que ele chamou de virtù. Mais do que virtude, como o nome sugere, seria a expressão de conhecimento, diligência, preparo e competência.
Substituindo a virtù, o Governador Gladson Cameli resolveu fazer a maior inovação, talvez, já conhecida da política acreana: compor o seu grupo dirigente com segmentos aleatórios da oposição entrante com segmentos da situação sainte, ou seja, juntar em seu governo a Frente Popular com a Oposição.
Fala em favor do Governador Gladson Cameli os fatos dele ser em todas as ocasiões que se apresentaram um genuíno vencedor, ou seja, tudo sempre deu certo para seus desígnios políticos.
Mas merece receio o de que a inovação possa ter sido excessivamente radical. É como acomodar, guardando-se as devidas proporções, no mesmo pelotão para conquistar os mesmos objetivos, soldados israelenses e palestinos, gregos e troianos, para se ficar numa metáfora de guerra. Os ferimentos e cicatrizes dentre membros da Frente Popular e membros da Oposição são numerosos e profundos; é de se duvidar muito que se dissipem num passe de mágica ou em ato de vontade, por mais clarividente que este seja. Se o Governador Gladson Cameli conseguir juntá-las num mesmo ritmo é de se suspeitar da dificuldade de cantarem a mesma música juntos. É a esse plano que se dá o nome de cruzamento que resultou num híbrido.
É bem possível, também, que essa justaposição de quadros da Frente Popular com segmentos da Oposição no Governo de Gladson Cameli não receba a bênção de nenhum dos dois lados, especialmente da oposição. A estranheza pode acometer até eleitores simples e comuns do Governador que o sufragaram na expectativa de mudanças plurais e amplas do legado dos vinte anos de PT no Acre.
Bom, a experiência poderá dar certo? Em política poucas são as situações impossíveis; vai que cole, que dê liga?!
Se assim for, será de inegável ineditismo e originalidade e prestar-se-á à exportação, passando, obviamente, a visitar compêndios de ciência política. No entanto, a experiência precisa vencer e impor-se no mundo da vida, no mundo dos fatos da realidade, de horizontes caóticos, pulsantes e multidirecionais.
Sabe-se que, no reino animal, a ciência e a prática já demonstraram a infertilidade dos híbridos; normalmente eles não procriam, usualmente eles não deixam descendência.
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