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Tsunami ou marola?

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Roberto Feres


Entender o funcionamento do sistema político no Brasil não é fácil, principalmente quando a gente tenta parar de olhar para o retrovisor e enxergar alguma luz no final do túnel. Ano passado eu resolvi usar uma licença prêmio que tinha guardada dos tempos de professor da UFAC e aproveitar o período sabático nesse desafio.


A primeira questão que eu pretendia me responder era o que de efetivo se construiu de novidade após os episódios que iniciaram no “vem pra rua” de 2013 e culminaram no impeachment da presidenta.


Ainda que se dissesse ter havido uma guinada à direita com a assunção do Temer, o que se viu pelo Congresso foi um mesmo toma-lá-da-cá, talvez mais hábil e com freio curto nos gastos. Nem tantos dos ratos mudaram e os que caíram deveu-se mais à Lava-Jato que a qualquer outra coisa.


Descobri, entretanto, que algumas iniciativas estavam criando fôlego por fora e por dentro do ambiente tradicional. Num país que quebrou com o desvario populista, cresceram os defensores do liberalismo econômico e da desestatização.


Tomou fôlego a pressão por reformas de desoneração do estado e esse campo foi preenchido, inicialmente por dois grupos: dentro do mediano PSL crescia o movimento Livres, que deveria renovar sua estrutura nacionalmente e dar uma nova cara à legenda. Foi esse grupo que, aqui em Rio Branco, elegeu o vereador Emerson Jarude, por exemplo. E também houve a formação do partido Novo, cujos fundamentos mais parecem o de uma empresa privada na captação de lideranças e na captação de seus recursos exclusivamente privados e negando o financiamento público das campanhas e candidatos.


Ter nascido dentro de uma estrutura com formato tradicional proporcionou ao Livres uma puxada de tapete quando o partido “precisou” dar legenda ao candidato Bolsonaro, em quem via real potencial eleitoral. Mas o movimento continua ativo e agrega representantes na maioria dos estados do país, tendo eleito deputados federais e estaduais pelo Novo, Rede, PSB, PSDB, PPS e DEM, em 2018.


Outras iniciativas suprapartidárias se formaram nacionalmente e localmente, nos estados, com o propósito de formar lideranças comprometidas causas específicas, como a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade – RAPS, que por aqui deu suporte à candidatura de Minoru; na busca de soluções para o país, como o Agora!; que enfatizam a superação das desigualdades sociais, como o Acredito; e a preparação de candidatos íntegros, independentemente de crenças políticas, como o RenovaBR, iniciativa de empresários como o Eduardo Mufarej e o Luciano Huck, que por aqui apoiou o Gabriel e o Carlos, da Rede.


Juntos, esses grupos elegeram, em 2018, 28 parlamentares entre deputados estaduais, federais e senadores. Somente para a Câmara Federal foram 12 deputados cuja visibilidade e controle social de seus mandatos será enorme. Após as últimas eleições, esse grupo promoveu um treinamento para os novos parlamentares, na semana passada, onde 56 eleitos por 22 partidos compareceram.


Aqui no Acre estão atualmente organizados o Livres, MBL, Agora!, Acredito e o Geração Atitude, pelo menos.


A segunda pergunta, essa que ainda pretendo me responder, é que influência esse pequeno grupo de recém-eleitos tem para efetivar mudanças concretas no âmbito do parlamento? Talvez a resposta começou a ser dada agora, com a abertura dos trabalhos legislativos. Programas inteiros na TV aberta e a cabo se dedicam em conhecer esses novos protagonistas da política nacional. E não há porque resumir a qualidade somente aos egressos dessas iniciativas recentes. Precisamos parar de generalizar o Congresso como um lugar somente de picaretas. Há muito político bom por lá, independentemente do viés político. Gente experiente e com passado íntegro que bem pode servir de exemplo aos novatos.


Há também a superexposição dos mandatos nas redes sociais. Hoje em dia a cobrança é em tempo real. Ouvimos, nos episódios tristes do final se semana, a preocupação de alguns senadores com sua recepção no aeroporto e em realizar enquetes para definição do voto, usando o Facebook e o Twitter. Já existe aplicativo de celular para acompanhamento e participação de eleitor no mandato de seus representantes. O Nosso Mandato, criado pelo vereador de Belo Horizonte Gabriel Azevedo (RAPS/RenovaBR), atualmente sem partido, e disponível para quem quiser usar, é apenas um exemplo do que vem por ai.


Estou otimista. As coisas, num país tão grande e diverso como o Brasil, não acontecem da noite para o dia. Na eleição passada assistimos a queda de muitos caciques e clãs que se perpetuaram por algumas gerações. Os que sobraram, como o que ocorreu com Renan no episódio de sábado, agora começam a perder o controle da maioria. É ainda tudo muita novidade que, aos poucos, veremos chegar ao Acre também.


*Roberto Feres escreve às terças feiras


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