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MP denuncia Farias: transcrições revelam que Tenente do BOPE resgatava membros do CV detidos pela polícia

Por
Marcos Venicios

O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, o GAECO, do Ministério Público do Acre, protocolou nesta quarta-feira, 30, denúncia contra 23 pessoas acusadas de de serem membros da facção criminosa Comando Vermelho, presas preventivamente durante a Operação Sicário, desencadeada pela Força-Tarefa da Polícia Civil no dia 27 de dezembro. Entre os denunciados, estão líderes da organização criminosa e o Tenente Josemar Barbosa de Farias, do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), apontado pelas investigações como o principal responsável por favorecer o crescimento da facção na capital do Acre. O militar foi denunciado por Promoção de Organização Criminosa, Peculato, Corrupção Passiva e Prevaricação. O ac24horas mostra em primeira mão parte das interceptações.


A denuncia de 338 páginas elaborada pelo MP para análise da 3ª Vara Criminal, traz a tona detalhes das investigações e transcrições de interceptações telefônicas autorizadas pela justiça, que estavam sendo mantidas em sigilo pelo juiz Raimundo Nonato Costa, que no último dia 22 retirou o segredo de justiça.


Qualificado em vários crimes, o militar do BOPE é denunciado por promover pessoalmente a organização Comando Vermelho”, segundo consta no relatório do Gaeco, que revela ainda que Farias nunca foi batizado ou cadastrado na organização criminosa. Segundo o MP, o tenente promovia lideranças do Comando Vermelho auxiliando nas disputas internas de poder dentro da facção e também na defesa de territórios sob a influência da organização.


Para o MP, restou claro durante a investigação, que Farias auxiliava lideranças como Agilberto Soares de Lima, conhecido pela alcunha de “Jiquitaia” (responsável pelo bairro Rosalinda) e Antônio Ferreira Aguiar, conhecido pela alcunha de “Neném Rolinha” ou “Coroa” (responsável pelo bairro Conquista) a manter e expandir seus territórios, seja realizando a prisão de integrantes de facções rivais, ou mesmo, realizando a apreensão de integrantes do próprio Comando Vermelho, possibilitando desta forma o aumento do território sob influência de “Nene Rolinha” e “Jiquitaia”.


Ainda de acordo com a denuncia, Farias defendia territórios sob a influência do Comando Vermelho de ataques das facções rivais, PCC e Bonde dos Treze, encaminhando viaturas sob seu comando para bairros onde a liderança do CV se encontrava em risco. “Farias também atuava como um importante escudo para o Comando Vermelho, protegendo a facção até mesmo contra a atuação policial. Nesse tocante o denunciado evitava incursões das forças de segurança no território de seus aliados, resgatava faccionados detidos pela Polícia em situação de flagrante e até mesmo fornecia armas e munições para seus comparsas. Quando a ação policial era inevitável, o denunciado também realizava a prévia comunicação para seus aliados”, diz trecho da denuncia.


Essa relação entre o militar e os membros do CV trazia óbvias vantagens para ambas as partes. De acordo com o MP, Agilberto Soares, o “Jiquitaia”, com o auxílio de Farias, passou da condição de mero integrante da facção para responsável por todo o bairro Rosalinda, gerenciando as “bocas de fumo” daquele território. Por sua vez, Farias também obteve benefícios, sejam financeiros, como demonstrado pelas solicitações e entrega de dinheiro realizadas e também pela imagem de policial “operacional” e “bem informado”, visto que, com o auxílio de “Jiquitaia” e “Nene Rolinha” na tomada de territórios, realizava diversas prisões e apreensões de drogas focada apenas nas facções rivais como o Bonde dos 13.


Em trecho das interceptações, o MP afirma que fica Farias sabia que Jiquitaia não era mero integrante do CV, mas sim a liderança responsável pelo bairro Rosalinda. Na mesma chamada, o criminoso orienta Farias a prender a traficante rival, conhecida por “Val”. Confira a íntegra das transcrições:


Em outra conversa interceptada e transcrita pela investigação, Farias defende territórios sob a influência do CV de ataques das facções rivais, PCC e Bonde dos Treze, encaminhando viaturas sob seu comando para bairros onde a liderança da organização se encontrava em risco. Nos trechos, segundo o MP, o tenente utiliza o aparato policial para atender pedidos de Agilberto “Jiquitaia”, protegendo os membros do CV do bairro Rosa Linda. Veja trecho abaixo:


A investigação, de acordo com os promotores do Gaeco, demonstrou que Farias também atuava como um importante escudo para o Comando Vermelho, protegendo a facção até mesmo contra a atuação policial. Segundo a denuncia, o militar evitava incursões das forças de segurança no território de seus aliados, resgatava faccionados detidos pela Polícia em situação de flagrante e até mesmo fornecia armas e munições para seus comparsas. “Quando a ação policial era inevitável, o denunciado também realizava a prévia comunicação para seus aliados”, diz trecho de documento.


Em uma das conversas interceptadas, Antônio Ferreira Aguiar, conhecido pela alcunha de “Neném Rolinha” fala com Farias e diz que o “pessoal” do Tenente foi à casa de um rapaz, sobre quem já havia falado com seu interlocutor noutra oportunidade. Neném Rolinha acrescenta que o rapaz estava com medo, por isso pediu que seu interlocutor agisse para dar uma “apaziguada”. Em resposta, Farias diz que é para ficar tranquilo que “vai dar uma conversada”, demonstrando que cumpriria a solicitação que lhe fora feita. No final da chamada, resta claro o estreito laço entre ambos, ocasião em que “Nene Rolinha” informa ao policial que já está com “uma beirinha” para Farias gastar:


Parte da investigação ainda revela que o militar evitava incursões das forças de segurança no território de seus aliados, inclusive resgatando faccionados detidos pela Polícia, como na chamada abaixo, em que “Jiquitaia” é detido pelo porte de um rifle pela guarnição comandada pelo PM identificado como Joel”:


 


O conteúdo transcrito na chamada foi corroborado em sede de interrogatório policial: Confira a transcrição do depoimento de Jiquitaia para o delegado:


AGILBERTO: não porque a Polícia invadiu minha casa onze horas da noite! Comandada pelo sargento Joel e um rapaz moreno, inclusive eu mandei fotos dele para o pv do Tenente Farias e aí além de levar o rifle ele levou os pontos da sky, levou todos os material de cosméticos que tinha da Avon, levou tudo, roubou, pelo fato dele ter feito essa situação dos roubos eu peguei e abri o jogo pro Tenente Farias. Oh ele levou o rifle levou tudo isso ai.

DELEGADO: ele não te prendeu?

AGILBERTO: levou e prendeu. A minha esposa ligou pro Tenente Farias (gesticula como se estivesse falando ao telefone). Se eu não me engano Farias tava em Cruzeiro do Sul numa missão, ligou no BOPE e as viaturas do Bope já correram atrás de nós e alcançaram nós no ramal do pica-pau. Alcançaram nós lá aí conversaram lá com o cara.

DELEGADO: a tua casa é no Rosa Linda?

AGILBERTO: é minha casa é no Rosa Linda. Ai me pegaram e me levaram pro Ramal do Pica-Pau na ida do 
Ramal do Pica-Pau quando passa no posto de gasolina, passa da casa do Ney Amorim antes de fazer a curva…

DELEGADO: podia ter te levado para defla?

AGILBERTO: com certeza, não sei o porque daquele caminho.

DELEGADO: te levaram pro outro lado?

AGILBERTO: Pro Ramal do Pica-Pau só que antes de nós chegar num canto que eles iam me levar a viatura interceptou.

DELEGADO: viatura do Bope?

AGILBERTO: isso! Nós já estava quase dentro de uma chácara.

DELEGADO: quem avisou ao BOPE? Tua esposa?

AGILBERTO: Minha esposa avisou ao Farias. Ligou para ele. Não foi pro BOPE, ela ligou só pro Farias.

DELEGADO: Ai avisou?

AGILBERTO: foi ai “oh prenderam meu marido, levaram um monte de coisa, e ele vou preso e tal roubaram um monte de coisa. Levaram minha carteira de cigarro e tal levaram tudo”, ela falou para ele.

DELEGADO: ai quando chegou lá?

AGILBERTO: ela pensava que eu ia direto pra Defla, ai quando ela ligou pro Farias, ai o Farias perguntou na Defla eu não tava na Defla. Ai ele pegou e fez um corre lá, não sei como aconteceu e chegou duas viaturas do BOPE lá onde eu tava. Aí não triscaram mais em mim. Ai o JOEL “tu tem muita sorte Agilberto orte como é que o Bope vai aparecer aqui cara! Tu é muito sortudo mesmo!” e eu só calado! Só baixei minha cabeça. “Nos vamos te soltar, se tu abrir tua boca para qualquer cristão nessa terra que nós fizemos isso aqui contigo eu mesmo pessoalmente vou gastar uma bala de fuzil na tua cabeça lá na tua casa. E vou dizer que tu revidou vou botar uma a arma na mão e não vai acontecer nada porque a gente é polícia”. Ai me ameaçou.

DELEGADO: quem falou isso para ti?


AGILBERTO: o JOEL.


DELEGADO: o Joel é do segundo batalhão?

AGILBERTO: sim. Ai eu peguei e falei pro Tenente Farias dessas ameaças. Inclusive no dia que eu tava conversando com o Tenente Farias lá no alojamento do BOPE tinha outro cidadão lá dentro que eu só sei se eu ver e o tenente tava conversando comigo e mostrando as coisas no telefone dele pra pro rapaz que tava lá no 
alojamento e as ligações que ele recebia tudo no viva voz (gesticula com as mãos como se estivesse usando um celular).

DELEGADO: E na hora que as duas viatura do Bope interceptaram a viatura do Sargento Joel que tava te conduzindo pro ramal do Pica Pau as coisas que tu tinha, o rifle, as coisas da tua mulher, eles devolveram para ti?


AGILBERTO: o rifle eu tava sentando quase em cima no meio das minhas pernas e as balas eles tiram tirado, mas tava assim (gesticula com as mãos indicando proximidade) tava tudo comigo dentro do carro. E não me devolveram nada, só me soltaram lá na frente do estádio José de Melo. E eu fui a pé!


DELEGADO: e o pessoal do Bope não mandou… o que pegaram contigo. Ninguém perguntou nada?


AGILBERTO: (gesticula sinal de negação com a cabeça) Não. Eu quem cheguei pro comandante Farias depois!


DELEGADO: o que aconteceu naquele momento?


AGILBERTO: da minha casa pro Pica-Pau do Pica-Pau fomos interceptados ai teve uma conversa lá que eu não ouvi! O sargento Joel chegou para mim e ameaçou e falou que ia me soltar lá no centro.


DELEGADO: deixa eu entender, na hora que teve a conversa no Ramal do Pica-Pau o pessoal do Bope trocou uma ideia com o sargento Joel sem tu saber o que conversaram?


AGILBERTO: Não deu de saber.


DELEGADO: Ai depois o pessoal do Bope foi embora?


AGILBERTO: Foram ai ei fiquei lá no carro e o sargento me levou, voltamos pelo mesmo… passamos lá na frente do Araújo do posto do Amapá e ai que ele foi me deixar lá no estádio José de Melo, de lá eu fui andando pro mercado do bosque peguei uma carona e fui pro Ouricuri dormir na casa da minha sogra.


DELEGADO: com medo de ir pra casa?


AGILBERTO: Ah.


DELEGADO: e a tua mulher?


AGILBERTO: pegou a moto e foi pra casa da minha sogra eu avisei que já tava solto. Aí eu falei para ela antes dela vier lá pra casa ela viesse e no caminho que fosse para ir no rumo lá de casa ela arrodeasse em vez de ela ir direito arrodeasse pelo Julião desse um balão e se não tivesse ninguém seguindo ela fosse.


DELEGADO: Ai foi quando tu ligou pro Farias?


AGILBERTO: liguei e disse tudo.


DELEGADO: e o que foi que ele disse?


AGILBERTO: ele falou “pô esses cara são foda JIQUA. Eles eram para ter pegado esse rifle e apresentado lá na Delegacia pro delegado, não ter ficado ai é palhaçada. Vou tentar falar com ele tu tem o número dele”. Ai eu disse ele me deu o número dele, o sargento Joel me deu o número dele disse que era para eu ligar para ele que ele pegava arma e droga e tudo e que aquele rifle era dele e se eu abrisse o meu bico ia morrer.


DELEGADO: e o Farias conseguiu que ele te devolvesse alguma coisa?


AGILBERTO: só os pontos da SKY. Inclusive quando eu estava lá em casa. (aponta para um dos investigadores e diz “foi o senhor que tava lá em casa e eu mostrei os pontos e aquele lá dos olhos verdes olhou e disse tem alguma coisa de ilícito aqui, eu disse que o que tem é minhas barrinhas de droga pra mim fumar, ele perguntou se tinha arma e droga ai eu disse que só tem na geladeira as minhas barrinhas de fumar).


DELEGADO: quando te devolveram as coisas?


AGILBERTO: uns quatro dias depois


Quando a ação policial era inevitável, o MP informa que Farias também realizava a prévia comunicação para seus aliados, exemplo disso é o relatório da fiscalização do monitoramento eletrônico datado de 07/09/2017 em que Agilberto avisa que está saindo de casa porque “soube” que esta seria alvo de busca e apreensão. Jiquitaria confirma a situação em depoimento ao delegado investigador:


AGILBERTO: ele não me ajudou a comprar as munições ai eu peguei e falei pro FARIAS.

DELEGADO: quem é FARIAS?


AGILBERTO
: é o Tenente Farias do BOPE.


DELEGADO: qual a tua relação com ele?


AGILBERTO: minha relação com ele e a seguinte…


DELEGADO: que queria que você falasse desde o início. Como foi pra você ter esse contato. E como foi pra chegar nesse ponto de você pedir as munições.


AGILBERTO: o começo da história resumidamente é o seguinte eu fui atrás do ERMEI para ele conseguir no começo uma ajuda pra me ajudar. Ele por lá passou uns dias pediu para me levar no IML. Lá no IML que ele me levou na época a primeira pessoa que eu conheci foi o delegado Alcino.


DELEGADO: que sou eu que estou fazendo seu interrogatório.


AGILBERTO: ai por lá ficamos um tempo por ali. Mas não teve êxito algumas situações.


DELEGADO: que situações? Você não foi atendido?


AGILBERTO: que eu tava atrás de achar uma forma de beneficiar ne, de alguma forma ganhar dinheiro. De alguma forma errada. Essa é a realidade!


DELEGADO: Entendo.


AGILBERTO: como não deu certo eu conversei com o ERMEI mais uma vez, eu não tinha como derrubar nada nem entregar nada no momento na época que o delegado conversou comigo eu não pude falar nada para ele que tivesse concreto. Então através do ERMEI ei fui conversando e chegamos no BOPE. Ai foi quando eu conheci HENRIQUE CAMARÃO e o sargento FARIAS do BOPE. Conheci eles por ai começamos a conversar e eles ficaram de me ajudar. Eu falei para ele que eles me ajudando provavelmente eu queria parar dessa caminhada e não queria mais nessa vida de crime porque eu sabia que ia morrer. E ainda mais estando colado com eles que ia tá derrubando uma facção diferente. Até a nossa própria facção não apoia isso, de tá derrubando as facções rivais. O que aconteceu… eu comecei a colar com ele (FARIAS) começamos a andar junto, fazer algumas apreensões. Na época foi feita a apreensão daquele ZÉ PASSARINHO lá na Cadeia Velha que caiu com uma pistola e um monte de droga um monte de coisa. Então começamos a ir numa caminhada e que eles faziam apreensões que não tinham nada a ver comigo, mas como eu já tava envolvido eu tava participando.


DELEGADO: O que você ganhava com isso?


AGILBERTO: Eu queria ganhar dinheiro para mim fazer meu pezinho (gesticula com as mãos um sinal de saída) mas eu nunca ganhava dinheiro. Ganhava mixariazinha. E ganhava droga, a mando do Tenente Farias. Eu nunca peguei nenhuma mercadoria, eu pega dos caras que trabalha para ele.


DELEGADO: Que caras?


AGILBERTO: eu não lembro os nomes só conheço o CABEÇA. Um chamava o outro de CABEÇA. Não tinha nomes. Eu sei quem são se eu ver como eu vi a menina ai (aponta para o celular em que lhe foi mostrado a foto de VAIDOSA).


DELEGADO: ele mandava entregar droga para você?


AGILBERTO: mandava sim senhor. Antes da droga chegar no coisa, na delegacia, ele já me dava um pedacinho simbólico. (gesticula com as mão fazendo um circulo)


DELEGADO: o que era? Tipo uma peça?


AGILBERTO: não, era cinquenta gramas, cem graminhas, era pedaços. A única vez que eu ganhei uma peça foi quando a gente foi… depois do Bujari. Eles foram pra depois do Bujari e me levaram, no caminho eu fui também, lá eles encheram a baguala do carro de maconha. Pegaram mais de cem quilos de maconha. Ai quando pensou que não chegou o Tenente Farias com outro carro. A situação já tava toda (gesticula com as mãos em sinal de positivo indicando que a situação já estava resolvida). Ai o tenente chegou ai conversou com os rapazes, inclusive com outro rapaz do BOPE lá que eu não conheço, só se eu ver. Que é o pegou o dinheiro o botou no negocio da farda.


DELEGADO: esse caso específico eu queria que você contasse desde o início. Primeiro Tu tinha contado que foi lá dias antes.


AGILBERTO: foi (gesticula com a cabeça sinal de positivo)


DELEGADO: primeiro tu tinha contado que foi lá dias antes, não foi?


AGILBERTO: Foi.


DELEGADO: conta pra gente que contou que tinha ido no BOPE e do BOPE que tu tinha saído com eles?


AGILBERTO: Eu fui mais um rapaz chamado MAURO lá no BUJARI, pegar dois quilos de maconha e trazer num carro. Quando a gente chegou lá se deparamos com uma freezer de duas tampas cheia de droga ai pegamos a droga e trouxemos para Rio Branco. Ai eu peguei e fui lá no BOPE, lá conversei com o Tenente Farias. Eu tenente lá depois do Bujari tem uma situação que tá com a freezer cheia de droga. Ai o tenente disse então vamos pegar, ajeitou lá as pessoas para pegar. Na segunda-feira ai desceram lá pegamos a droga, tudo certinho e lá mesmo dentro do carro ele mandou me entregar uma peça de de fumo. No caso eu não queria aquela peça. Eu queria o dinheiro que tinha visto muito dinheiro. (um dos investigadores faz uma pergunta ao interrogado)


ELTON: quando tu falava que queria se encontrar com ele na escola, onde era essa escola?


AGILBERTO: BOPE! Era o Bope (faz sinal de positivo com a cabeça)


ELTON: o batalhão?


AGILBERTO: o batalhão. Eu dizia “doutor a gente pode se encontrar na escola e tal”


DELEGADO: eu queria entender, você chegou na viatura? Tava numa viatura do BOPE ou uma descaracterizada?


AGILBERTO: descaracterizada.


DELEGADO: tá, ai eles chegaram e pegaram a droga? Encontraram a droga?


AGILBERTO: encontraram a droga. O BOPE chegou invadiu pegou a droga e a viatura branca ficou fora esperando o povo.


DELEGADO: tu estava na Branca?


AGILBERTO: tava lá na branca, ai eles apertaram lá as mãos uns dos outros desejaram felicidades. Ai chegou o tenente FARIAS.


DELEGADO: em que viatura?


AGILBERTO: em outra viatura.


DELEGADO: eram três viaturas? Uma branca e duas do Bope?


AGILBERTO: isso. Ele chegou em outra viatura. Ai o tenente chegou lá conversou com o pessoal lá e não falou comigo. O rapaz que tinha pegado o dinheiro e botado no bolso entrou dentro de um carro também.


DELEGADO: como foi esse negócio do dinheiro do bolso? Eu não entendi.


AGILBERTO: eu tava dentro do carro da viatura branca, a descaracterizada. E na minha frente tinha o carro do rapaz que… o bucha, o dono da droga. Ai os policiais chegaram fizeram todo aquele negócio. Ai um dos policiais que eu nunca tinha visto ele tava dando bacu. Abriu a porta do carro assim do lado do motorista e meteu a mão no compartimento e tirou um monte de dinheiro. Eu não sei quanto tinha. Só numa mão assim ai ele pegou e juntou com a outra mão. E Botou bem ligeirinho perto do joelho onde tem aquele negócio da calça (bolso). Ai meteu o dinheiro ali dentro. Eu fiquei calado lá onde eu tava. Quando terminou tudo ali o rapaz que tava mais nós no carro disse “JIQUA calma ai que a gente vai te dar uma negócio, mas tem muita gente aqui e não é todo mundo que pode saber”.


DELEGADO: quem tava dirigindo esse carro essa viatura?


AGILBERTO: se eu não me engano era o RAMOM.


DELEGADO: a viatura caracterizada?


AGILBERTO: a descaracterizada. Eu tava na branca junto com o Ramom e um grandão que eu não sei o nome dele. Pelas fotos eu lembro de tudinho, eu sei quem é quem.


DELEGADO: o Ramon, como ele é?


AGILBERTO: ele é magro, branco.


DELEGADO: tem alguma outra característica?


AGILBERTO: ele usa óculos, os olhos deles é um pouco meio trocado (gesticula com as mãos próximo aos olhos indicando movimento).


DELEGADO: beleza pode continuar. Foram até o carro e te deram a droga na hora?


AGILBERTO: foi.


DELEGADO: quem te deu a droga?


AGILBERTO: foi esse grandão que tava dentro do carro e eu não sei o nome dele.


DELEGADO: ele foi lá é pegou?


AGILBERTO: eu vi ele pegou. Ele foi lá enrolou num saco de fibra assim e chegou lá no carro e jogou nos meus pés “tu deixa debaixo do bando ai” ele disse para mim, não cabia dentro das minhas calças. Ai quando nós vínhamos embora de lá pra cá. Ai as viaturas foram para algum canto que eu não sei, e eu eles me levaram pra minha moto.


DELEGADO: quando vocês estavam vindo para cá lá da estrada para Rio Branco, vocês vieram juntos? AS três viaturas?


AGILBERTO: Não.


DELEGADO: como foi?


AGILBERTO: nós viemos bem na frente, a branca veio na frente as outras vieram atrás. Nos já viemos na frente as outras ficaram lá.


DELEGADO: e foram para onde?


AGILBERTO: nós viemos direto pro Mercale.


DELEGADO: Mercale da onde?


AGILBERTO: lá da CONGEL.


DELEGADO: da Antônio da Rocha Viana?


AGILBERTO: é, minha moto tava lá!


DELEGADO: Eles pararam lá te deixaram?


AGILBERTO: ai eu só desci e peguei a minha moto e fui me embora.


DELEGADO: as viaturas caracterizada tu não viu mais?


AGILBERTO: não.

(…)

DELEGADO: tá como foi para tu conseguir mais munições?


AGILBERTO: Eu conversei com o Tenente Farias. Eu falei para ele que queria uns “caroços” ai ele falou para mim ir com ele lá na sala dele no BOPE. Ai eu fui. Quando eu cheguei lá ele me deu uns caroços, ai ele me deu as munições, me deu seis unidades.


DELEGADO: seis unidades de trinta e oito.


AGILBERTO: isso. Foi a única vez que ele me deu munição, foi essa, foi lá dentro da sala dele no Bope.


DELEGADO: tu ia muito lá no BOPE?


AGILBERTO: várias. Só com sacolão sai de lá de dentro umas duas, três vezes com um sacolão amarado.


DELEGADO: Drogas tu chegou a receber lá?


AGILBERTO: nunca! Só o que eu recebi no BOPE foi sacolão e essas seis unidades.


DELEGADO: E quando tu derrubava droga com o Tenente Farias… Tu tinha comentando que te entregavam numa caminhonete branca. Como foi isso me explica ai como era essa entrega. Quem que entregava pra ti a droga?


AGILBERTO: eram as pessoas que estavam na caminhonete comigo. Quem tava na caminhonete comigo.


DELEGADO: é porque se tu desse uma droga que iam derrubar em algum lugar e tu não fosse junto tu recebia a droga em seguida?


AGILBERTO: (gesticula que não com a cabeça).


DELEGADO: tu só recebia se tivesse junto?

AGILBERTO: até hoje foi assim. A prova é tanto que teve não sei quantas apreensões de um sitio lá não sei da onde e eu brincando com ele falei não esquece daquela puta não, que eu sempre falo! Que era eu!


DELEGADO: certo.


AGILBERTO: eu não ganhei nenhum beck de cinco reais.

DELEGADO: entendi. Tu só ganhava se tu fosse?


AGILBERTO: só se eu tivesse presente. Normalmente eu ganhava cem reais, duzentos reais


A denuncia traz ainda trecho de conversa em que Farias chegava até mesmo a fornecer armas e munições para seus comparsas.
No diálogo abaixo, entre Farias e “Andrade”, o denunciado informa da apreensão de dois rifles “Puma.38”, lamentando, porém, a impossibilidade de “tirar” (desviar) os rifles da ocorrência porque havia muita gente no local. “Fica claro, assim, que o denunciado agia, subtraindo bens de apreensões para beneficiar os seus”, diz trecho da denuncia.


Em seu interrogatório, Farias afirmou que ‘tirar’ significava olhar a numeração da arma para averiguar se eram as mesmas armas que foram furtadas de “Andrade”. Segundo o MP, a afirmação causa estranheza, pois não há dificuldade alguma a que um policial consiga retirar a numeração de uma arma de fogo que tenha apreendido, tanto que o normal é que haja esta referência no boletim de ocorrência. Os promotores relatam que do próprio boletim de ocorrência do caso é possível ver que dele constavam as numerações das armas em questão.


Em outra conversa com Andrade, o Farias trata da entrega de munição a aludida pessoa. Na chamada, o militar alega que está na posse de 20 (vinte) munições e que irá fornece-las ao interlocutor:



No interrogatório de Jiquitaria, o fornecimento de munição é relatado:


DELEGADO: tá como foi para tu conseguir mais munições?

AGILBERTO: Eu conversei com o Tenente Farias. Eu falei para ele que queria uns “caroços” ai ele falou para mim ir com ele lá na sala dele no BOPE. Ai eu fui. Quando eu cheguei lá ele me deu uns caroços, ai ele me deu as munições, me deu seis unidades.


DELEGADO: seis unidades de trinta e oito.


AGILBERTO: isso. Foi a única vez que ele me deu munição, foi essa, foi lá dentro da sala dele no Bope.


Além de Farias, consta no rol de denunciados Abimael de Lima Magalhães – Mal Mal, Agilberto Soares de Lima – Jiquitaia, Albeci de Souza Alves – Dybala, Anderson Mesquita Inácio – Mesquita, Antonio Ferreira Aguiar – Neném Rolinha, Antonio Laecio Lunier Rego – Pitíu, Carlos Santos Anoran – Mister M, Cristiano da Silva, Cristiano da Silva – Laranjinha, Daniel Leonildo Lima da Silva – Ponto Trinta, Elias de Souza dos Reis – Elias, Francisco de Lima Pinto – Hungria, Francisco Martins de Lima – Chico Negão, Jales Souza da Silva – Bodó, José Ronildo Lucas de Souza Nascimento – Zé Ronildo, Nayson Bergue Macedo Bonfim, Rauennder Ribeiro da Rocha – Cebolinha, Remulo William Sales Lacerda – RW, Saulo Paixão de Melo – Segurança, Sebastião Marçal Pereira – Sebão, Winston Amora do Nascimento – WN e Valciane Amaral da Silva – Val.


Apesar de denunciado, o MP não requereu  retirada da prisão preventiva de Farias. Ele deve continuar preso até o julgamento ou solto por meio de algum habeas corpus que a Justiça possa deferir.


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