Jorge Viana
As grandes corporações de telecomunicação só querem atender a lugares que geram lucros fáceis. Lugares com infraestrutura e grande concentração populacional. Não é o caso de nossa região, nem mesmo nas capitais e cidades maiores, quanto mais nas pequenas vilas e comunidades na floresta ou nas margens dos rios e estradas. Em Rio Branco, sofremos com apagões constantes porque existem apenas duas linhas de cabo de fibra ótica. Os prejuízos sociais e econômicos são incalculáveis.
Quando assumi o governo do Estado, vinte anos atrás, o mundo ainda não dispunha de toda a tecnologia dos dias atuais. A internet dava seus primeiros passos e os celulares eram apenas telefones móveis, nem se imaginava a quantidade de serviços que poderiam prestar no futuro. A TV Aldeia era apenas uma retransmissora da programação gerada no Rio e São Paulo, e estava tão sucateada que seu sinal mal alcançava o centro da capital. As rádios oficias eram as Difusoras de Rio Branco, Xapuri, Sena e Brasiléia e também estavam em péssimas condições de funcionamento. Quatro anos depois, a TV Aldeia e as rádios FM estavam em todos os municípios com uma programação local capaz de integrar e valorizar a identidade regional. Fizemos um grande esforço para informatizar todos os órgãos da administração pública e iniciamos um programa de inclusão digital em todo o estado.
O atraso do Acre seria maior, se não tivéssemos compreendido, na entrada do novo milênio, que a tecnologia de comunicação era uma questão estratégica para o desenvolvimento econômico e social.
Por isso, esse tema foi central em meu mandato no Senado. Comecei lutando para conseguir que as operadoras de celulares fizessem investimentos substanciais na melhoria da internet e na telefonia em nosso estado. Consegui sensibilizar as três empresas que atuam no Acre (Vivo, Claro e TIM) para assinarem um Termo de Cooperação com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o governo do Estado, em outubro de 2017, garantindo mais velocidade e maior cobertura da internet e telefonia móvel no Acre. Assim seria possível, por exemplo, que a internet 4G, que já chegavam a Rio Branco e Cruzeiro do Sul, fosse acessada em mais sete municípios (Brasiléia, Epitaciolândia, Mâncio Lima, Senador Guiomard, Xapuri e Bujari) e a internet 3G, que só chegava a cinco municípios, fosse ampliada para outros seis. Também fui relator, no Senado, da Política Nacional de Banda Larga, e busquei alternativas para garantir mais investimentos nesse setor tão estratégico para nosso país.
Qual é o próximo passo? Como faremos para que nossa população possa contar com os serviços mais avançados que hoje já existem em outras regiões? Como integrar essa tecnologia aos serviços de educação, saúde, segurança? Como gerar novos empregos, serviços e produtos?
Creio que é necessário atualizar programas importantes que surgiram nesses vinte anos, como a Floresta Digital. Vejo que também podemos aprender com as experiências que a sociedade já desenvolve, como o movimento das startups que se amplia em Rio Branco e como as aldeias indígenas que hoje colocam seus produtos, suas expressões culturais e suas reivindicações no mundo virtual e dialogam com o planeta inteiro. Exemplos de outros países também não faltam, como é o caso da Índia, que está superando sua pobreza milenar com um forte investimento em tecnologia tendo a internet como elemento central em seu desenvolvimento econômico.
Nesse, como em outros temas estratégicos, o tempo é rápido e o alerta deve ser dado: qualquer atraso pode nos custar muito caro.
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