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Acostumado a criticar o sistema, novo chefe do Iapen do Acre quer faccionados disciplinados

Por
Luciano Tavares, da redação ac24horas

De presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários a diretor-presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre. Em 01 de janeiro, Lucas Bolzoni (31 anos) passa a carregar no colo uma bomba sempre prestes a explodir: o Iapen e seu complexo de presídios com 7, 5 mil presos, proporcionalmente a maior população carcerária do país.


Graduado em Ciências Sociais com concentração em Sociologia pela Universidade Federal do Acre, Lucas é agente penitenciário da carreira efetiva do Instituto de Administração Penitenciária há 10 anos.  Já atuou em diversas unidades prisionais, como a Unidade Penitenciária Francisco de Oliveira Conde e na Unidade de Monitoramento Eletrônico. Em uma década lidando diariamente com o complexo prisional conhece na prática o sistema. Ao longo de sua carreira se capacitou e se especializou em sua área de atuação.


De perfil questionador que tem uma certa combinação com a alma sindical e universitária, Lucas se destacou para além da vida de agente. E se é verdade que as redes sociais dizem muito sobre uma pessoa, Lucas é um personagem crítico e do enfrentamento ideológico. Especialmente no período eleitoral foi combativo contra o que ele considera erros e equívocos da chamada esquerda brasileira.


É a primeira vez na história do Iapen que um agente é escolhido para presidir a instituição. Lucas Bolzoni foi apresentado pelo vice-governador eleito Major  Rocha na última sexta-feira, 07, com outros futuros integrantes da cúpula da Segurança Pública, entre eles o coronel da reserva da Polícia Militar, coronel Paulo Cezar, que será o próximo secretário de Segurança no governo de Gladson Cameli.


O ac24horas conversou com Bolzoni. Leia abaixo a entrevista:


Ac24horas: Toda pessoa que assume um cargo pensa logo em uma ação imediata, de impacto. O senhor já tem seu plano para os primeiros 100 dias? 


Lucas Bolzoni: Estamos trabalhando no plano de ação dos primeiros 100 dias.  As ações têm articulação com todas as forças de segurança pública e deve ser apresentada até o próximo dia 15. O objetivo principal é dar respostas à segurança pública do Acre através da retomada progressiva do controle total dos estabelecimentos prisionais. Com o incremento de novas vagas recentemente criadas com recursos federais do Fundo Penitenciário, devemos ocupar esses novos espaços e iniciar a retomada do controle. Com o desafogar parcial da superlotação de hoje, a meta é imprimir disciplina, educação e trabalho na rotina dos apenados.


Ac24horas: Hoje o senhor ocupa a presidência do Sindicato dos Agentes Penitenciários, mas no dia 01 de janeiro passa sentar na cadeira do outro lado da mesa, que não é mais a do sindicalista, a da pessoa que vai para a rua protestar, criticar a gestão. O senhor está preparado para vestir a camisa do Estado?


Lucas Bolzoni: Sou servidor de carreira há 10 anos. A partir do dia 01 o IAPEN deixará de ter viés político para ter caráter técnico. Uma área tão sensível e estratégica para  a segurança pública não pode estar refém de decisões políticas. Este tem sido o maior problema do IAPEN na última década.


Ac24horas: O Acre possui a maior população carcerária do País. Como lidar com uma situação dessas em um Estado à beira da falência e com alto índice de criminalidade?


Lucas Bolzoni: A partir de agora, vamos otimizar a estrutura que temos. No Acre, temos quase 1.300 servidores. Sendo 90% deles Agentes Penitenciários. Estima-se que cerca de 100 deles estejam cedidos para outros órgãos. A mesma quantidade está em serviço administrativo. Com a reconvocação desses servidores e as vagas que estão sendo disponibilizadas devemos causar um impacto positivo já nos primeiros dias de gestão.


Ac24horas: O que fazer para evitar a entrada de produtos ilegais nos presídios?


Lucas Bolzoni: Primeiramente vamos reestruturar o nosso serviço de inteligência e a corregedoria. Com reforço de servidores nas guardas prisionais e a devida responsabilização de ações de corrupção teremos melhores resultados. Há também mudanças previstas no fluxo de visitantes e de fornecedores. Vamos racionalizar a entrada nos presídios e submeter todas as visitas ao equipamento de escâner corporal. Hoje ele só é utilizado em casos de suspeitas e a visita íntima foi proibida pelo Conselho Nacional de Justiça por ser considerada vexatória.


Ac24horas: O senhor enxerga eficiência nos bloqueadores? E se enxerga, pretende levar esse tipo de equipamento para presídios do interior? 


Lucas Bolzoni: Os bloqueadores de celular, inicialmente, apresentaram alguns problemas de ordem técnica mas hoje cumprem integralmente o seu papel. Houve casos de pessoas que lançaram correntes na rede elétrica próxima ao presídio, de modo a colocar o equipamento em inatividade. Reforçaremos a segurança no perímetro. Hoje são raras as apreensões de celulares nos presídios onde existem bloqueadores, o que demonstra que o equipamento está funcionando. Nossa meta é instalar o mesmo equipamento em outros presídios do Acre.


Ac24horas: O senhor sempre criticou as condições subumanas do presídio, a falta de estrutura, quantidade de fugas e desvalorização do agente. Como o senhor vai encarar todos esses problemas agora na presidência do Iapen? 


Lucas Bolzoni: Há em curso o incremento de novas vagas. Estamos formando uma equipe técnica para a criação de projetos para captação de recursos e o incremento de novas vagas. O IAPEN tem muitos gastos desnecessários. Com a captação de recursos e a devida aplicação conseguimos superar os problemas estruturais. É meta desta governo a valorização do servidor. Vamos honrar a quem tem trabalha em prol da sociedade.


Ac24horas: É possível fazer alguma coisa, algum tipo de ação para evitar corrupção de agentes?


Lucas Bolzoni: Sim. Não há nada que mais incentive o crime do que a impunidade. Por isso devemos reforçar a corregedoria do IAPEN. A inteligência deve trabalhar incessantemente para evitar e punir ações de corrupção. Temos um quadro de pessoas honradas, mas como toda instituição temos maçãs podres. Nosso objetivo é extirpar os maus servidores do nosso meio.


Ac24horas: Sempre houve muito questionamento sobre as compras e licitações do Iapen. O senhor garante transparência e lisura em sua gestão? 


Lucas Bolzoni: Não somente sobre as licitações. O IAPEN tem várias “caixas pretas”, como a do serviço extra (banco de horas), diárias e funções comissionadas. É política deste novo governo a transparência nas licitações e contamos também com o olhar atento de órgãos de fiscalização externa, como o Ministério Publico.


Ac24horas: O senhor acha que por ser agente será mais fácil ter o apoio de sua categoria no comando do sistema penitenciário?


Lucas Bolzoni: Ontem (sexta), após o anúncio do meu nome, fiz questão de visitar os presídios de Rio Branco. Os ares são outros. Com um servidor de carreira e Agente Penitenciário à frente do IAPEN os servidores estão motivados e têm as melhores expectativas. Ainda não consegui responder às centenas de mensagens de apoio dos nossos colegas.  Esta indicação é a sinalização de que o próximo governo deverá valorizar os servidores que mais se esforçam que têm carregado este sistema nas costas. Depois de muito tempo pude ver o brilho nos olhos de nossos colegas.


Ac24horas: É da tradição sindical incomodar gestores. Você conseguirá lidar democraticamente com críticas, eventuais protestos e até paralisações?


Lucas Bolzoni: Me afasto do sindicato e deixo pessoas inteligentes e responsáveis à frente da entidade.  Teremos diálogo aberto e transparência na aplicação dos recursos. Com respeito à autonomia do sindicato esperamos ter uma relação de parceria com os representantes dos servidores.


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Luciano Tavares, da redação ac24horas

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