O ex-funcionário da Empresa Municipal de Urbanização de Rio Branco (Emurb), Evaldo Morais, que foi braço direito do ex-diretor-presidente do órgão, Jackson Marinho, resolveu fechar acordo de colaboração com o Ministério Público do Acre (MP/AC). A colaboração já foi homologada pelo Poder Judiciário.
Evaldo Morais, que atuou diretamente com o esquema criminoso que funcionava dentro da instituição, contou detalhes da estratégia utilizada para desviar recursos da empresa municipal por meio de medições adulteradas e relatórios de serviços frias. O dinheiro, segundo Evaldo, era usado em grande parte para financiar campanhas políticas do PT.
Segundo o delator, havia um acréscimo nas planilhas que controlavam o tempo de uso das máquinas locadas para a empresa municipal. Na ata da delação, onde o MP/AC registra o acordo de delação premiada, a informação é de que os serviços de “retroescavadeiras eram de 160h, porém, Jackson e Ney fizeram um acordo e determinaram que nas medições deveriam constar 199h”, relatou.
A denúncia está na linha de investigação do MP/AC, que executa a Operação Midas desde 2017. Segundo Evaldo, os empresários que tinham máquinas alugadas para a Emurb sabiam do esquema e concordaram o desvio de recursos. “Os acordos iniciaram no período em que o depoente era Chefe do Setor de Transportes, no ano de 2012”, diz o documento.
Ainda segundo informações repassadas ao Ministério Público, todos os acordos eram discutidos abertamente em reuniões que contavam com a participação de Jackson Marinheiro, José Carlos, Franklin Roberto (o Beto) e Jorge Ney. Todos investigados no âmbito da Operação Midas.
Evaldo revelou também que uma das funcionárias da Emurb, chamada Eliandra, era a responsável por fazer as medições dos serviços, sozinha, sem outra fiscalização para controlar se os dados por ela informados estavam todos certos. E isso já ocorrida antes de 2012, quando Evaldo chegou ao setor.
O esquema tinha um setor específico para a prática dos crimes. O grupo era tão organizado que a Divisão Administrativa tinha um cargo específico para controlar todas as práticas dos servidores ligados ao esquema e gestar o dinheiro e os valores que deveriam ser enviados ao grupo político que dava a última palavra sobre o esquema.
A proximidade do período eleitoral em que o ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Viana (PT), seria candidato, fez com que os desvios aumentassem de forma a manter a estrutura de campanha. Com isso, Marinheiro fez uma reunião com as pessoas da confiança dele, e alertou sobre a necessidade das “demandas” [termo utilizado para citar os desvios]. Tudo foi esquematizado e executado.
“José Carlos não tinha conhecimento das medições, apenas teve conhecimento daquelas referentes às eleições, pois Jackson fez uma reunião e falou que todo mês teriam que medir um valor determinado para pagar as pessoas do comitê de campanha”, revela Evaldo, que completa: “José Carlos assinava as coisas sem olhar” e “recebia orientações de Jackson e Jorge Ney para fazer as medições fictícias.”
Os empresários tinham agenda certa todos os meses para entregar o dinheiro que era desviado da Emurb para bancar a campanha eleitoral e as mordomias do grupo criminoso. No relato do Ministério Público, a informação de que os membros da organização iam pessoalmente buscar os valores.
“Beto agilizava tudo para o pagamento (…) o contato com os empresários para pegar o dinheiro de volta era feito pelo depoente, pelo Jorge Ney e pelo Everton, assessor deste (…) o contato com os empresários da Construfácil, Codil, Ferroarte e Ferronorte era feito pelo Jorge Ney e Everton, eram eles quem pegavam o dinheiro desviado”, revela a delação.
O advogado Felipe Mariano, que defende Evaldo Morais, confirmou a delação premiada do ex-funcionário da Empresa Municipal de Urbanização de Rio Branco (Emurb), mas não quis comentar a fundo os detalhes da colaboração. Ele afirmou que o processo corre em sigilo. Contudo, o advogado alega que a colaboração tem provas.
“O acordo prevê uma diminuição da pena para o meu cliente, em contrapartida o seu depoimento e as provas apresentadas corroboram com as demais provas que o Ministério Público já havia apresentado nos processos e serão relevantes para a próxima fase da Operação Midas. Quanto à viagem, não posso me manifestar, pois o processo está em segredo de Justiça, e o MP ainda não se manifestou”, diz o advogado.
Na verdade, Felipe Mariano resolveu manter o silêncio sobre uma viagem para Goiânia. Evaldo e a esposa pretendem se deslocar à Capital de Goiás para, como relatou em pedido ao Judiciário, “realizarem uma bateria de exames médicos”, e alega que as passagens já foram compradas para o período de 24 de dezembro a 06 de fevereiro de 2019, tempo em que ficarão fora do Acre.
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