O Acre foi o campeão entre os estados da região Norte no índice de desmatamento registrado entre agosto de 2017 e julho deste ano. De acordo com os dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o aumento da área de floresta destruída foi de 82,9%, totalizando 470 hectares.
Em toda a Amazônia Legal, o desmatamento cresceu 13,7% no mesmo intervalo de tempo. A quantidade de mata nativa perdida pelo Acre é a terceira maior na série histórica do Inpe, iniciada em 2004.
Os dados surgem no momento em que os governos petistas – com sua política de florestania – encerram um ciclo de duas décadas de poder no Acre, e o início de uma gestão mais à direita liderada pelo governador eleito, Gladson Cameli (PP). Durante sua campanha, Cameli prometeu abrir o estado para o agronegócio, fomentando a produção rural como carro-chefe da economia local.
Conforme a reportagem apurou junto a fontes, a equipe de transição do progressista cogitou seguir a mesma linha adotada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e fundi as pastas do Meio Ambiente e da Agricultura. Após conversas, o novo governo desistiu da ideia.
Ao mesmo tempo que defendia o agronegócio na campanha eleitoral, Gladson Cameli adotava um discurso conciliador, garantindo que a pauta ambiental não seria colocada de lado, e que todos os projetos iriam levar em consideração as regras impostas pelo novo Código Florestal.
Na sexta, quando o Inpe anunciava os dados do desmatamento, o governador eleito reunia a imprensa para apresentar parte de seu secretariado. Entre os nomes, porém, não estava o titular da Secretaria de Meio Ambiente.
Procurada, a assessoria de imprensa da equipe de transição confirmou que a pasta ambiental será mantida no novo governo, ficando de fora da redução no número de secretarias. O nome do sucessor do atual secretário, Edgard de Deus, ainda não foi definido, podendo ser anunciado após 15 de dezembro.
Em nota enviada à reportagem, a área ambiental do governo Sebastião Viana (PT) disse que o aumento na taxa de desmatamento para 2018 não era esperado ante os investimentos feitos pela gestão petista no setor e em políticas econômicas apontadas como de baixo impacto no ambiente.
O governo considerou os índices divulgados pelo Inpe como “um ponto fora da curva” diante dos resultados dos últimos 15 anos, que apontavam tendência de queda nas áreas de floresta perdidas.
Os dados são obtidos por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES). Segundo essas análises, o período 2017/ 2018 perde apenas para 2004 e 2005, quando o Acre perdeu, respectivamente, 798 e 582 hectares de Floresta Amazônica.
Em 2005, o estado enfrentou uma de suas maiores estiagens da história. A nota das autoridades ambientais do Acre lançam pontos de questionamentos sobre os dados do Prodes.
“Primeiramente, é preciso entender a natureza dos dados que são divulgados anualmente pelo Inpe em novembro. Neste momento, o instituto publica estimativas iniciais, baseadas no estudo de uma amostra do total de imagens de satélite disponíveis. O Acre é dividido, nesta metodologia, em 12 cenas, mas apenas seis foram lidas e analisadas no estudo preliminar. O dado divulgado recentemente é uma extrapolação, para o total do estado, com base na análise desta amostra.”
Segundo o governo, em 2003 os satélites do Inpe consideraram como desmatamento áreas de florestas secas de bambu, o mesmo ocorrendo em 2016 com lagos sem água. “De qualquer maneira, a questão aqui não é questionar os dados, mas entender que são leituras preliminares”, diz o documento.
A nota é assinada pela Secretaria de Meio Ambiente, o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), o Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e pela Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais.
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