O Dia de Finados é um feriado tradicional do catolicismo, iniciado no século XI, quando a Igreja Católica passou a exigir que fosse dedicado um dia aos mortos. E foi no século XIII que esse dia passou a ser 2 de novembro.
O México é o país mais conhecido por sua celebração ao Día de los muertos, cujas origens são anteriores à chegada dos espanhóis, com vestígios de que há 3 mil anos já eram realizados rituais de celebração dos ancestrais pelas civilizações astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas.
Segundo a crença popular mexicana, no Día de los Muertos aqueles que já partiram tem permissão divina para visitar parentes e amigos. Então as pessoas enfeitam suas casas e preparam as comidas preferidas de seus entes queridos. Dois belíssimos filmes, “Festa no Céu” (2014) e “Viva – a vida é uma festa” (2017) retratam a tradição mexicana da festa animada que é o Día de los muertos, com as pessoas vestindo fantasias de esqueletos e máscaras de caveira para homenagear os mortos.
Então nesse Dia de Finados, feriado nacional no Brasil, podemos refletir de que forma homenagear e honrar nossos entes queridos já falecidos. Se realmente queremos isso, temos que nos perguntar o que os mortos querem de nós, que estamos vivos. Que postura e atitude os vivos devem ter para homenagear os mortos?
Talvez, uma possibilidade, seja não lamentarmos por estarmos temporariamente em dimensões diferentes: nós na dos vivos, eles na dos mortos. Talvez seja aceitarmos com alegria que apenas estamos em momentos diferentes: eles já viveram e agora estão mortos, nós estamos vivendo, mas daqui há algum tempo também estaremos mortos.
Ter uma atitude assim nos trás humildade para aceitar o lugar onde cada um está. Essa humildade nos torna mais iguais aos nossos entes queridos e nos aproxima deles.
Por outro lado, se permanecemos lamentando não honramos o destino e o tempo de cada um. Ficar com pena é ter uma atitude de superioridade e distanciamento em relação aos mortos.
Através das constelações familiares e de muitos ensinamentos que nos foram legados por Bert Hellinger, podemos ter uma visão sistêmica e maior da vida (incluindo a morte). Há um campo sistêmico onde todos pertencem, onde todos tem valor e se influenciam. Nesse campo todos são honrados quando simplesmente são vistos e reconhecidos, tanto os vivos quanto os mortos.
Compreender isso é perceber que há uma inteligência e uma sincronia superior na qual cada um de nós está no seu lugar adequado (o aqui) e no seu momento perfeito (o agora). O aqui e o agora são o lugar e o momento perfeitos tanto para os vivos quanto para os mortos. E ambos tem muito que fazer no lugar onde estão.
O que não é perfeito nem adequado é querer inverter isso. Se os vivos ficam lamentando muito a morte de um ente querido, além de não honrarem seu destino não vivem a sua própria vida. Ninguém nessa condição humana pode olhar para frente e para trás ao mesmo tempo.
Ou se olhamos para a vida ou para a morte. Para quem está vivo, o que é adequado e perfeito é olhar para a vida. No entanto, há armadilhas sutis que muitas vezes nos fazem olhar mais para a morte do que para a vida.
Porque olhar para vida é encarar o novo, o inusitado, o impermanente. Viver a própria vida é ser fênix todos os dias, é deixar o lugar seguro e encarar com gosto o desconhecido, o imponderável e as incertezas.
No entanto, muitas pessoas têm medo da dúvida, por isso permanecem olhando para trás, para um lugar seguro que já morreu. E assim, ao invés de experimentar a própria vida, vivem exclusivamente através das “verdades” criadas e ensinadas pelos sistemas (familiar, escolar, político, religioso, econômico, etc).
Se todas as pessoas fossem assim, a humanidade sempre estaria apegada a tudo que “é verdade” e nada de novo seria criado. Não teríamos descoberto nem a roda.
Felizmente sempre surgem os loucos, os artistas, os filósofos, aquelas raridades que representam talvez 1% das pessoas (Einstein, Tesla, Mozart, Van Gogh ….). Então algo de novo pode surgir, pois toda criação depende de certo ceticismo, de ir além daquilo que está posto.
Há um ditado que diz “rótulos são para embalagens, não para pessoas”. Pode ser que se aceitamos um rótulo para nós mesmos, se nos enclausuramos numa definição social, profissional ou religiosa, deixamos de olhar para as novas experiências e possibilidades que a vida nos oferece a todo momento. Daí nos tornamos mortos-vivos.
No livro o Quinto Compromisso, Don Miguel Ruiz demonstra que vivendo num mundo de “verdades” construídas por conveniências, a chave para se libertar e viver de verdade é não acreditar em nada, ser cético com tudo, mas saber escutar a todos, porque é só ouvindo os outros que podemos entender a causa de sua loucura e como evitá-la.
Escutar os outros, conhecer suas experiências e estudar o conhecimento já produzido é muito bom e necessário. Mas nada se compara a escutar o próprio coração, viver as próprias experiências e descobrir algo novo. Isso é viver.
Resumindo, neste Dia dos Finados o sentimento que me ocorre é que os mortos ficam bem quando cuidamos da nossa própria vida, são honrados quando respeitamos o seu destino e não nos sentimos melhores por ainda estarmos vivos. Quando olhamos, cuidamos e valorizamos cada momento da nossa própria vida, mostramos aos mortos que viver é maravilhoso e que sua vida deles não foi em vão.
Então, em homenagem a todos os seus entes queridos, viva bem e intensamente sua vida.
Luciano José Trindade, Constelador Sistêmico
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