Os geoglifos são um tipo de sítio arqueológico, formado por estruturas escavadas no solo, valetas e muretas que representam figuras geométricas de diferentes formas e grandes dimensões: profundidade de meio até quatro metros e larguras que podem ultrapassar os 15 metros. São essenciais para entender o processo de ocupação e povoamento da região amazônica, onde grupos indígenas modificaram o ambiente, imprimindo na terra características de sua identidade. Existem algumas hipóteses sobre o uso dessas estruturas, uma delas indica que corresponderam a monumentos oferecidos a divindades ou eram utilizadas em rituais, devido a sua geometria bem executada e à orientação cardial–celestial. Outras hipóteses apontam que os geoglifos tinham funções mais práticas, como armadilhas para animais, canais para aproveitamento hídrico ou limites para áreas restritas às elites comunitárias. Pesquisas realizadas sugerem que a antiguidade dessas estruturas é de até 2,5 mil anos. Os estudos vêm quebrando velhos paradigmas sobre as sociedades antigas da Amazônia, que antes acreditava-se serem dispersas e menos desenvolvidas que as populações que habitam regiões vizinhas, fora da floresta. A visibilidade que os geoglifos da Amazônia têm alcançado desde o início dos anos 2000, quando suas reais dimensões físicas foram conhecidas, levou a comunidade acadêmica a debruçar-se cada vez mais sobre o tema. Mesmo assim, restam muitos sítios para serem descobertos. Na época, durante sobrevoo, foram identificados geoglifos na região que compreende a parte oriental do Acre, sul do Amazonas e noroeste de Rondônia. Sabe-se ainda que há incidência dessas estruturas no norte da Bolívia, onde são chamados zanjas circundantes. Publicidade
Entre afetos, ciência e história: o Sítio Arqueológico Jacó Sá
O geoglifo pode ser inscrito no Livro Histórico, pela estreita vinculação à história produzida pelas populações que remontam ao processo de construção da sociedade brasileira, e no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Neste caso, o destaque é seu valor científico identificado pela comunidade acadêmica, o interesse da sociedade nacional e internacional sobre estes sítios arqueológicos; e por ser um marco na paisagem por sua monumentalidade que pode ser percebida tanto do alto, em sobrevoo, quanto in loco, experiência que instiga a construção das diversas narrativas por meio da interpretação do espaço constituído por valas e pequenos montes de terra. O tombamento do geoglifo que faz parte do Sítio Arqueológico Jacó Sá é uma forma de valorização e preservação de uma paisagem representativa dos processos de ocupação e transformação da Amazônia, e, ao mesmo tempo, da interação humana com o meio natural. Ao mesmo tempo, os geoglifos se colocam como um patrimônio afetivo para vários grupos indígenas na atualidade que foram expulsos do território acreano em fins do século XIX e início do XX, no período da exploração da borracha. Os pesquisadores observaram que a dimensão afetiva deixou de ser um traço identitário relacionado apenas aos povos amazônicos, passando a ser também reconhecido pelo próprio Estado. Isso pode ser percebido em iniciativas como a instrução ao tombamento desse tipo específico de sítio e a sua utilização como um atrativo turístico estratégico. Por sua proximidade com a capital, o Sítio Jacó Sá possibilita o estabelecimento de uma rota turística de visitação, também favorecida por serviços como sobrevoo e balonagem, que já existem na região. Essas ações convergem com o propósito do Iphan em estabelecer uma relação sustentável entre o turismo e o patrimônio cultural. Anúncio Exemplar único do Patrimônio Mundial Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural |
