O uso do WhatsApp para disseminação de notícias falsas é um “fenômeno sem precedentes” que tem preocupado a missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que está no Brasil para observação das eleições.
“O fenômeno que estamos vendo no Brasil não tem precedentes, fundamentalmente por uma razão”, disse a chefe da missão, Laura Chinchilla, em relação à divulgação de fake news. “No caso do Brasil, está se utilizando a rede privada, que é o WhatsApp. É uma rede que apresenta muitas complexidades para que as autoridades possam acessar e investigar. É uma rede que gera muita confiança nas pessoas porque são pessoas próximas a elas que mandam as notícias”.
Chinchilla e outros representantes da missão estiveram reunidos nesta quinta-feira (25) em um hotel na zona sul de São Paulo com o candidato do PT a presidente, Fernando Haddad, sua vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
A reunião foi solicitada pela campanha petista em razão da denúncia do jornal “Folha de S.Paulo” sobre a compra, por parte de empresas, de disparos de mensagens no WhatsApp contra o PT. Segundo a OEA, há interesse da missão em encontrar também a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) antes do segundo turno, que acontece no domingo (28).
É um fenômeno tão novo e tão recente. É a primeira vez em uma democracia que estamos observando o uso de WhatsApp para difundir continuamente notícias falsas
Laura Chinchilla
A chefe da missão diz que o fenômeno das notícias falsas é “muito recente” e de uma magnitude que ainda não havia sido considerada. Ela cita essa ocorrência nos Estados Unidos durante a eleição presidencial de 2016. “Aprendemos [na ocasião] que fake news, sobretudo, se usava em redes públicas, como Facebook, como Twitter. Se abriram investigações, ações podem ser tomadas”, disse Chinchilla. “É novo o que ocorre no Brasil, e o sistema [da Justiça Eleitoral] não estava preparado. E seria assim em qualquer outro país.”
Ela pontua que no Brasil ainda está se criando um arcabouço institucional e jurídico para que crimes cometidos numa rede privada de troca de mensagens possa ser alvo de investigação. “Isso gerou uma série de considerações para as autoridades policiais de como manejar o acesso a espaços privados”, disse. “Isso está demandando um instrumental técnico e um instrumental jurídico diferente.”
Chinchilla também comentou sobre a segurança das urnas eletrônicas. Segundo ela, durante a análise do primeiro turno, não foram encontrados indícios de que as urnas “sejam vulneráveis para uma fraude massiva”. “Agora, temos que reconhecer que não encontramos nenhum tipo de irregularidade no primeiro turno e esperamos que seja assim no segundo”, comentou.
Sobre a disputa no Brasil, a chefe da missão indica a necessidade de se adotar um tom construtivo no debate. “Esse processo eleitoral foi impactado por alguns fenômenos ligados ao clima político, entre eles um discurso que tende a incentivar, digamos, a violência política.”
Ela pede que os cidadãos façam “um esforço para discriminar o que é certo e o que não”. “Vamos sublinhar a importância de que o voto no segundo turno seja racional, informado e não um voto movido por muitos dos sentimentos das notícias falsas.”
A missão da OEA pretende se reunir também com a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, da PGE (Procuradora-Geral Eleitoral), Raquel Dodge, e do ministro da Segurança, Raul Jungmann. O tema deverá ser as denúncias feitas a respeito do uso do WhatsApp para disseminação de notícias falsas, além do financiamento de campanha.
“O que nós pedimos a eles é para, nessa reta final, tentar observar com bastante atenção o que pode acontecer de hoje para domingo”, disse Haddad em pronunciamento à imprensa. “Queremos evitar o que aconteceu no final do primeiro turno”, citando uma “avalanche” de notícias falsas entre a sexta e o domingo no primeiro turno.
Após a reunião, Haddad afirmou em seu Twitter que “mentira é coisa do diabo” e afirmou que a queda nas intenções de voto de seu rival, Jair Bolsonaro, entre os evangélicos está ligada às notícias falsas. “As fake news prejudicaram muito minha campanha, sobretudo no 1° turno”, afirmou. Ele disse que os cristãos estão abandonando a candidatura de Bolsonaro “porque mentira é coisa do diabo”, e os evangélicos sabem “o significado da palavra verdade na Bíblia e o peso da palavra mentira”.
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