Espero que o vereador Emerson Jarude (Sem Partido) não se corrompa no processo. Mas, por enquanto, as ideias desse jovem político de Rio Branco, com 28 anos de idade, significam uma verdadeira renovação do propósito de um representante popular. Tenho observado o seu mandato desde que venceu as eleições, em 2016, com 2.800 votos. Começou acertando ao fazer concurso público para nomear os seus assessores técnicos. Tem votado com independência nos projetos na Câmara Municipal e, mesmo com a possibilidade do PSL eleger Bolsonaro presidente da República, não permaneceu no seu partido. Optou pela independência em detrimento do cabresto partidário. Reduziu as próprias diárias a que tinha direito sendo um dos vereadores que menos gasta na atual legislatura. No pleito de 2018 não apoiou publicamente ninguém para o Governo e o Senado e, agora, se lançou candidato a presidente da Câmara. Também declara que pretende ser candidato a prefeito de Rio Branco, em 2020, apresentando propostas de renovação. Advogado de formação, fica difícil definir se Jarude é da direita ou da esquerda. No bate-papo que tive de mais uma hora com ele, pareceu-me que não se prende à nenhuma ideologia tradicional, mas ao propósito de servir a população do município.
A entrevista
AC24horas – Vereador o senhor continua sem filiação partidária?
Emerson Jarude– Estou com a carta de liberação do PSL.
AC24horas – E mesmo se o Bolsonaro ganhar e se tornar presidente o senhor não pretende continuar no partido?
EJ – Não porque eu era ligado ao Livres, um movimento de renovação. Algumas pessoas entenderam que eu saí por causa do Bolsonaro, mas a questão não foi essa. A gente estava com um projeto bonito, inclusive, bancando as nossas próprias despesas, pra trabalhar as ideias do Livres. E de uma hora para outra o sonho foi paralisado por uma pretensão presidencial sem avisar a gente. Mudaram os diretórios e tudo mais. Então foi uma decisão do Livres se retirar do PSL e, naquele momento, seria uma ingratidão eu dizer não para o Livres e continuar no PSL.
AC24horas – Para qual partido o senhor pretende ir?
EJ – Ainda não defini.
AC24horas – Mas teve convites de quais partidos?
EJ – O Major Rocha (PSDB) me fez o convite para o PSDB, o Alan Rick (DEM) para o DEM e o Gladson Cameli (PP) parame filiar ao PP. Mas ainda não decidi.
AC24horas – O senhor pretende passar o próximo ano ainda como um vereador independente, sem vinculação partidária?
EJ – O que a política tradicional não entende sobre ser independente é de votar de acordo com os interesses da população. Hoje a bancada de situação na nossa Câmara não faz porque cumpre ordens da prefeita. E, consequentemente, a oposição segue a orientação dos seus partidos. Mas pra mim não tem essa. Se for preciso bater de frente com o partido para votar a favor das pessoas vou bater. Esse foi meu grande conflito no PSL. Assim pretendo passar o próximo período sem filiação. Ainda que a minha independência esteja além de qualquer filiação. A condição para eu me filiar é justamente manter a minha independência dentro da Câmara.
AC24horas – Mesmo sem ter um partido pra te abrigar porque o senhor está concorrendo à presidência da Câmara?
EJ – A presidência envolve a sua gestão. Nós temos um orçamento anual de R$ 26 milhões que, no meu ponto de vista, está mal aplicado. Tanto que não temos uma série de estruturas que já eram para existir. Como, por exemplo, uma sede própria. Gastamos R$ 4,2 milhões em aluguéis numa legislatura. Só aluguel da sede custa mais de R$ 60 mil por mês e cada vereador tem que alugar o seu gabinete fora da Câmara.
AC24horas – Por que como a maioria dos vereadores o senhor não se candidatou a deputado estadual ou federal, em 2018 ?
EJ – Um dos meus compromissos assumidos na campanha foi cumprir o meu mandato até o final.
AC24horas – Além da presidência da Câmara, qual o seu outro sonho ao terminar esse mandato em 2020?
EJ – Em 2020, terei as opções de reeleição ou buscar um cargo majoritários, com as mesmas ideias das propostas que fiz e cumpri.
AC24horas – Te passa pela cabeça ser candidato a prefeito de Rio Branco?
EJ – Com certeza. Pretendo ser candidato a prefeito. Acredito que as eleições de 2020 será a que terá o maior número de candidatos a prefeito para potencializar as candidaturas a vereador por conta de não poder se fazer coligações. Além de muitos políticos importantes não se elegeram nessas eleições de 2018.
AC24horas – Já que o senhor pretende ser candidato a prefeito. O que o senhor acha da atual gestão da Socorro Neri (PSB)?
EJ – A gente não pode desvincular a Socorro do que vinha acontecendo anteriormente. Ela faz parte de um projeto político encabeçado pelo PT. Nesses últimos anos a prefeitura poderia ter avançado muito mais. Ela está fazendo uma gestão melhor que a do Marcus Alexandre (PT), mas ainda falta muito a ser feito. Como, por exemplo, os recursos não estão chegando como deveriam nos postos de saúde. E eu falei isso pra ela. Antes de inaugurar novos postos de saúde tem que alcançar a eficiência máxima daqueles que já existem. Falta médico e medicamentos naqueles que já funcionam e vão inaugurando novos. Mas ainda é cedo para se fazer uma avaliação da gestão da Socorro.
AC24horas – A relação com a Câmara de Vereadores é melhor com a Socorro do que com o Marcus?
EJ – Esse é um dos pontos que sempre destaco. É onde o Marcus pecou e ela está seguindo pelo mesmo caminho. Até agora a Socorro não fez nenhuma visita à Câmara. E isso não custa nada. Ela poderia estar presente para apresentar projetos para a construção junto com os vereadores. Não custa nada tirar uma manhã e mostrar os projetos de obras e eventos e podermos fazer as alterações juntos. Inclusive, isso facilitaria a aprovação em plenário.
AC24horas – O que o senhor acha dessas viagens dos vereadores de Rio Branco. Supostamente para qualificação técnica, mas sempre pra cidades turísticas litorâneas e com despesas pagas pela população?
EJ – Essa é uma das questões a ser debatida. Acho que é preciso representar a Câmara fora e fazer treinamentos de capacitação. Mas que sejam realmente cursos que façam a diferença, não apenas para ganhar diárias. O valor da diária é para transporte, hospedagem e alimentação. Atualmente o vereador ganha quase mil reais e está muito além do necessário. Apresentei um estudo com base em Brasília e São Paulo, coloquei hotel quatro estrelas e um bom valor de alimentação e de transporte e não chegou nem a R$ 500. A minha proposta é reduzir as diárias. Eu fiz um ofício reduzindo as minhas diárias para ganhar como os servidores da Casa. É o suficiente porque fica em torno de R$ 460. Se um servidor consegue porque um vereador não consegue? Não sou contra as viagens e as diárias, mas que sejam eventos importantes e o valor da diária seja o devido para cobrir o custo e não lucrar.
AC24horas – O senhor não apoiou nenhum candidato majoritário publicamente nas eleições de 2018?
EJ – Não, porque nenhum vinha na mesma linha política que venho atuando. Participei como mero eleitor. Mas não declarei apoio porque seria incoerente com a linha do meu mandato político. Eu não anulei o meu voto e sabia o que não eu não queria. E apoiava a mudança que acho necessária. A alternância do poder é sempre saudável.
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