O PT passou a representar 1/3 menos no total dos votos em legenda para a eleição de deputado federal em 16 anos. Em 2002, quando chegou à Presidência da República, o partido representava 27,1% do total de votos depositados em partidos. Neste ano representa 18,4% dos eleitores que optaram por votar numa sigla em vez de um candidato específico. Para a legislatura que começa em 2019, o partido recebeu 1,2 milhão de votos. Quando chegou ao poder pela primeira vez, tinha 2,3 milhões – num universo de eleitores menor.
Por outro lado, o nanico PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, que disputará o 2.º turno com o petista Fernando Haddad, se tornou neste ano o segundo partido com mais votos em legenda para a Câmara. Recebeu mais de 1 milhão, equivalente a 15,4% da preferência do eleitorado que vota em partidos. É uma representação muito mais expressiva do que em pleitos anteriores. Em 2002, apenas 0,5% dos votos em legenda foram depositados no PSL.
O PSDB, líder dos votos em legenda para a Câmara em 2014, viu sua representação cair quase 70% em quatro anos. Neste ano, só 7,2% dos votos em legenda foram dados ao PSDB. Em 2014, representava 23,6% deste eleitorado: passou de mais de 1,9 milhão para 482,5 mil votos em 2018. Em 2002, quando começou a polarizar as eleições com o PT, recebeu 13,5% dos votos em legenda.
O cenário se explica por duas razões, de acordo com a cientista política Lara Mesquita, da Fundação Getúlio Vargas: a mudança na legislação eleitoral, que teria “desincentivado” partidos a buscarem o voto em legenda; e o protagonismo na disputa presidencial – responsável por impulsionar o PSL, deixar o PT como líder dessa estatística e fazer o PSDB cair.
“Não é estranho que os partidos que protagonizam a disputa presidencial tenham registrado mais votos em legenda”, analisa a pesquisadora. “Isso explica em partes o fato de o PSDB ter caído em número de votos em legenda. Mas a mudança de legislação também influencia. O que surpreende é que ainda tenha havido tanto voto em legenda, uma vez que a minirreforma eleitoral ‘desincentivou’ os partidos a pedirem voto em legenda”, disse. O número total de votos em legenda para a Câmara no pleito deste ano foi de 6,6 milhões nos 35 partidos. Em 2014, foram 8,1 milhões.
Lara se refere à mudança na regra do quociente eleitoral e cláusula de barreira. Agora, para ter direito a uma cadeira, o candidato precisa ter um desempenho que é o resultado da divisão dos votos válidos pelo número de vagas. Se o candidato teve mais que isso, ele vira um “puxador de votos”, uma vez que o que “sobrou” vai para outros candidatos da coligação.
Mas, em 2018, o candidato precisava ter pelo menos 10% do quociente eleitoral. O cenário fez o número de “puxadores” cair. De acordo com a Câmara, o próprio PSL, em São Paulo, tinha votos suficientes para eleger 17 deputados, mas ficou com 10 cadeiras porque não havia outros candidatos com pelo menos 10% do quociente – cerca de 30 mil votos. Outro partido que ajuda a entender este cenário é o PSOL, que recebeu 113 mil votos para a eleição de deputado federal neste ano – sua pior marca em números absolutos desde 2006. Ainda assim, sua bancada na Câmara passou de seis para 10 deputados.
A pesquisadora apontou outro fator que pode influenciar no número expressivo de votos em legenda nos partidos que se destacam na corrida presidencial: a possibilidade do voto errado. “Existe um porcentual de eleitores, difícil de mensurar, que está desavisado quanto à ordem de votação. Isso faz com que ele ache que está votando para presidente quando na verdade deveria estar votando para um deputado federal”, afirmou. “Outra possibilidade é a do eleitor que decidiu voto para presidente e opta por colocar seu número para os outros cargos.”
Vídeos que sugerem “fraude” nas urnas corroboram esta hipótese. O Estadão Verifica mostrou casos em que eleitores estariam tentando votar em Bolsonaro, mas, ao digitarem o número do candidato, aparecia a mensagem “voto nulo”. Porém, a tentativa de voto era para governador, em Estados em que o PSL não tinha candidato.
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