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A herança política viva de Orleir Cameli que ainda assusta o PT

Por
Nelson Liano Jr.

Quando o ex-governador Orleir Cameli anunciou que deixaria a política, ao final do seu Governo em 98, o fato foi muito comemorado pelos principais cardeais do PT. Tendo ido cuidar dos seus negócios empresariais era comum alguém sempre indagar se realmente o Orleir não pretendia voltar a se candidatar. Como cheguei ao Acre no segundo governo de Jorge Viana (PT), em 2003, eu não entendia muito bem o temor. Isso porque de um lado os petistas me contavam que o governo de Orleir teria sido um “desastre”, mas por outro tinham essa preocupação de um retorno seu repentino à política. Era uma contradição. Como alguém que, segundo eles, teria feito uma gestão tão ruim poderia ameaçar a hegemonia do PT? No entanto, com o passar dos anos cobrindo a política do Acre comecei a entender a razão do temor.


Questão de imagem
O marketing do PT sempre foi muito forte. Se a gente não prestasse atenção parecia que o Acre teria sido inventado no primeiro Governo da FPA. Os avanços conseguidos por todos os outros governadores eram simplesmente desconsiderados. Só que a população parecia não concordar muito com essa tese.


Resultados apertados
Depois da reeleição de Jorge Viana, em 2003, todos os outros pleitos foram muito parelhos. Até chegar em 2010 quando Bocalom (PSL) praticamente sem nenhuma estrutura de campanha perdeu por apenas 1% de Tião Viana (PT) que era considerado um dos melhores senadores do país. Em 2014, Viana só conseguiu se reeleger no segundo turno contra Márcio Bittar (MDB). Então será que a população acreana realmente acreditava que o Acre era a Suíça da Amazônia? Os resultados eleitorais mostravam a população bastante dividida. E a autocrítica e a renovação que deveria ser feita no PT não acontecia.


Hipocrisia
Quando, em maio de 2013, Orleir Cameli faleceu quase todos os petistas renomados estiveram no seu velório, em Cruzeiro do Sul. Talvez acreditassem que o seu legado seria esquecido e que não haveria ninguém para substitui-lo. Ou quem sabe estavam lá para pegarem uma “carona” na comoção que se abateu no Juruá? Talvez pelo fato dos filhos de Orleir não terem entrado na política alguns políticos acreditavam que poderiam levar alguma vantagem.


Inesperado
Mas enquanto se fazia julgamentos sobre a história de Orleir o seu sobrinho Gladson Cameli (PP) seguia na vida política ganhando as eleições em que participava. Ganhou duas seguidas para deputado federal e teve a maior votação da história do Acre para o Senado. Ainda assim o PT patinava nos mesmos métodos políticos insistindo em não mudar.


Ponta do iceberg das pesquisas
Evidentemente que a eleição ao Governo do Acre ainda não acabou. A história definitiva será escrita com as urnas abertas no próximo dia 7. Mas todas as recém pesquisas publicadas mostram a vitória de Gladson no primeiro turno. Assim entendi finalmente os motivos pelos quais os petistas ainda temiam o Orleir. A herança política familiar continuou viva com o seu sobrinho, que contra a vontade de muitos, insistiu em seguir na carreira de político.


Erro
Subestimar o adversário é um erro fatal na política. E, na minha avaliação, parece que é isso que fizeram com o Gladson. Não importa se vai ganhar no primeiro ou segundo turno a eleição ou ainda se pode haver uma reviravolta e perder. Mas erraram em manter o jovem Cameli sob “fogo cerrado” esses anos todos, assim como faziam pelas costas do Orleir quando ainda estava vivo.


O destino das urnas
Quero ressaltar que não tenho a pretensão de antecipar o resultado eleitoral para o Governo. Não sou vidente e nem tenho bola de cristal. Estou escrevendo sobre um quadro político revelado pelas pesquisas de intenções de votos até agora e a história recente do Acre . Quem será o próximo governador será decidido pelos votos livres dos eleitores e não por nenhuma pesquisa e nem nenhum analista político.


Balanço forte
Mas é fato que o desempenho de Gladson na campanha de 2018 trouxe tremores fortes na estrutura de 20 anos de poder do PT acreano. Nunca tinha visto uma eleição com tantas brigas e desentendimentos entre os “companheiros”. Ainda que notas da direção do partido queiram mostrar uma unidade que não se sustenta pelas notícias da imprensa, nem pelos bastidores revelados nas redes sociais.


Pretensão
Colocaram dois candidatos fortes ao Senado, Jorge Viana e Ney Amorim (PT), mesmo num momento desfavorável ao PT no Estado. Jogaram o Marcus Alexandre (PT) na disputa ao Governo sacando o rapaz da prefeitura da Capital no seu pior momento quando a população reclamava da buraqueira da cidade. O resultado poderá ser desastroso se não houver uma “virada” do jogo.


Fiel
Por seu lado, mesmo com o Governo do PT não estando bem avaliado, principalmente, por problemas na segurança pública e na saúde, Marcus se manteve fiel a Tião Viana. Não tentou esconder o legado deixado pelo seu “padrinho” político. Ainda colocaram como seu vice Emylson Farias (PDT) justamente o ex-gestor da segurança pública, um dos pontos de insatisfação da população. Realmente uma estratégia eleitoral difícil de entender.


Tudo tem seu preço
Marcus poderá poderá pagar um preço alto pela opção de defender o atual Governo de peito aberto. Fica difícil para a população imaginar um “novo governo” que rompa com a atual estrutura de cargos e que mantém quase que a mesma equipe de gestão há tanto tempo. As mudanças precisariam ter acontecido de dentro pra fora antes de se propor uma renovação Pelo menos essa é a minha análise.


Ainda estão rolando os dados
Mais uma vez ressalto que a definição sobre quem será o novo governador do Acre só mesmo no dia 7 de outubro. Teremos mais três dias de campanha, um debate televisivo e, se acontecer uma subida repentina de Marcus ou do Coronel Ulysses (PSL), a eleição poderá ir para um segundo turno. Mas posso afirmar que ignorar a história na construção política pode custar caro. Com todos os seus defeitos e virtudes, o ex-governador Orleir Cameli e a sua herança política estavam muito mais vivos do que imaginavam. E não se pode apagar a memória das pessoas simplesmente com bravatas de marketing político.


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Nelson Liano Jr.

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