Com 70% do setor financeiro nacional concentrado nas mãos de apenas seis bancos, o cooperativismo de crédito tem um grande poder de expansão nos próximos anos. Este crescimento, contudo, não pode ocorrer a qualquer custo, com as cooperativas abrindo mão dos princípios básicos do setor, como a busca do desenvolvimento e da qualidade de vida da comunidade onde está inserida.
Essa é a avaliação dos especialistas que participaram na segunda (24) e terça-feira (25) do workshop “Panorama, Diretrizes e Reflexões nas Cooperativas Financeiras” realizado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em parceria com a Confederação Alemã de Cooperativas (DGRV), em Rio Branco.
Com a presença de dirigentes e colaboradores de todas as cooperativas de crédito do Acre, o workshop teve como palestrantes Jayme Wanderley da Fonte e Godofredo Massarra dos Santos, ambos do Banco Central do Brasil, com a intermediação de Silvio Giusti, consultor do projeto OCB/DGRV.
Com nove milhões de associados, o cooperativismo de crédito representa pouco mas de 3% do sistema financeira nacional. Em países desenvolvidos como Alemanha, Canadá e Estados Unidos, este quadro é bem diferente; neles, as cooperativas de crédito representam até metade de todo o sistema financeiro.
Diante deste cenário, fica evidente que no Brasil o setor ainda tem muito espaço para crescer, sendo o Norte e o Nordeste com as maiores oportunidades. “Essas duas regiões têm um potencial de crescimento muito grande. A tendência de crescimento do setor vai se expandir para essas duas regiões”, avalia Silvio Giusti, da DGRV.
Tanto assim, que a parceira entre a confederação alemã e a OCB está focada justamente na melhoria da gestão e da governança das cooperativas de crédito do Norte e do Nordeste.
Crescer, sem perder essências
Após as rodadas de debates entre os especialistas do Banco Central e os dirigentes das cooperativas acreanas, ficou claro que o segmento possui possibilidades reais de expansão ante suas diferenças com o setor bancário. Nele, cada cooperado é “dono do negócio” e tem papel ativo nas principais tomadas de decisões.
Além disso, as cooperativas operam com juros bem abaixo do praticado pelo mercado e, ao final de cada exercício, compartilham entre todos os seus sócios as chamadas sobras. A divisão leva em conta o capital aplicado por cada um, bem como suas movimentações financeiras ao longo do ano.
Para Sílvio Giusti, as cooperativas de crédito podem atrair um número cada vez maior de sócios, mas sem deixar de lado uma de suas essências: a preocupação com o bem-estar de todos os envolvidos.
“Talvez um dos grandes desafios seja elevar cada vez mais o comprometimento com o quadro social, com a comunidade onde está inserida. Qual é o propósito maior de uma cooperativa? Gerar uma melhor qualidade de vida para as pessoas, para o quadro social, para a comunidade”, afirma ele.
O consultor da DGRV completa: “O capital, o resultado financeiro, é fundamental, mas o nosso foco é na melhoria da qualidade de vida das pessoas”.
Banco Central e as cooperativas
Da mesma opinião compartilha Jayme Wanderley, gerente-técnico do Departamento de Organização do Sistema Financeiro (Deorf) do Banco Central. “O desafio é crescer a escala, a eficiência, ser competitivo, mas nunca se distanciar do quadro social, manter essa proximidade, zelar pelos princípios do cooperativismo, o interesse pela comunidade”, diz.
Ainda para ele, outro desafio das cooperativas de crédito é diversificar o perfil de seus cooperados, hoje com ampla maioria dos sócios tendo idade acima dos 40 anos. Para Wanderley, é preciso “trazer o jovem para o cooperativismo de crédito”.
Na análise de Godofredo Massarra, gerente-técnico do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (Desuc), também do Banco Central, em comparação com tempos passados, o cooperativismo de crédito no Brasil já deu um grande salto.
“E agora o desafio é: como continuar crescendo?”, indaga Massarra. Para ele, a tendência é que o setor continue este ritmo de crescimento com as próprias pernas, porém sem abandonar a essência do cooperativismo”.
Quanto ao papel do Banco Central do Brasil na regulamentação da atividade cooperativista de crédito, Massarra afirma que a instituição tem total respeito pelo segmento.
“O Banco Central compreende e respeita completamente o sistema cooperativo com seus princípios, valores e objetivos. O Banco Central sabe que banco é banco e cooperativa é cooperativa. Então respeita, transita naturalmente entre ambos”, afirma Massarra.
De acordo com Jayme Wanderley, o mesmo rigor que a instituição usa para fiscalizar as atividades dos bancos – independente de seu porte – também é usado para as cooperativas de crédito. “A ideia é proteger o cidadão brasileiro, proteger o dinheiro da população, esteja ele num banco ou numa cooperativa.”
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