A recente pesquisa da Data Control, na minha opinião, reflete o momento político do Acre. Pela primeira vez em muitos anos vejo um resultado publicado para o Governo que coloca um candidato petista em dificuldade. Avalio que a causa principal da diferença de 14 pontos favoráveis ao Gladson Cameli (PP) se deve aos problemas de gestão que o atual Governo do Estado enfrenta. Eu imaginava que os números dessa pré-campanha permaneceriam ainda em patamar de empate técnico, mas os últimos acontecimentos relacionados à violência no Acre “pesaram” muito para a opinião pública. Marcus Alexandre (PT) tem como seu vice Emylson Farias (PDT) que traz para dentro do debate político a segurança pública por ter sido gestor da pasta por mais de três anos. Além disso, essa polêmica da intervenção federal não foi tratada com a necessária serenidade pelo governador Tião Viana (PT). Ele reagiu com força desproporcional colocando como principal detrator da sua gestão o senador Sérgio Petecão (PSD) que, por sua vez, soube tirar proveito da situação. No momento em que os fatos começaram a acontecer a ação mais conveniente, acho eu, seria uma reunião com a bancada federal num tom diplomático e de união para o combate do problema. Se tivesse agido assim Tião teria dividido a responsabilidade da situação entre os seus aliados políticos do PT e os oposicionistas com mandato. Como o Governo preferiu partir para o enfrentamento com posturas contaminadas pela política a opinião pública reagiu desfavoravelmente. Soma-se a isso o desgaste natural de 20 anos de gestões petistas, a crise econômica, promessas de campanha não cumpridas, insatisfações na saúde pública e teremos o quadro eleitoral refletido na recente pesquisa Data Control. Diretamente para o Marcus pesa também o fato de ter deixado a prefeitura de Rio Branco num momento em que muitas ruas da cidade estavam esburacadas. Resumindo Marcus não saiu da gestão no seu melhor momento e isso também contou para a avaliação dos eleitores.
Bicho de sete cabeças
O problema da violência provocada pela “guerra entre facções” não é exclusivo do Acre. Na realidade, se tornou uma “ferida” nacional que afeta a maioria dos estados brasileiros. Então por que isso tem pesado tanto para atual gestão do PT? Primeiro porque é uma novidade para o acreanos conviver com essa violência cotidiana. Segundo que Tião Viana se manteve em silêncio durante um bom tempo enquanto as coisas estavam se tornando quentes. Quando se manifestou publicamente era um momento de crise provocada pela ação de um parlamentar da oposição que questionou as ações do seu Governo. A reação veio consequentemente “contaminada” pelo espectro eleitoral.
Adversário forte
O PT nunca tinha enfrentado um candidato com atributos eleitorais tão favoráveis. Gladson Cameli é jovem, tem recursos próprios para investir na sua campanha, carismático no seu lidar com os eleitores, tem apoio de grandes partidos nacionais e surfa numa grande onda de insatisfação popular que se refletem em votos contra o PT. Tentar desqualifica-lo como futuro administrador num momento em que a atual gestão do Estado está imersa em seus próprios “erros” é subestimar a inteligência do eleitor.
Caminho “esquecido”
A conduta político eleitoral de Marcus Alexandre na sua campanha à reeleição para a prefeitura da Capital, em 2016, estava correta. Marcus abandonou o discurso radical, o “esquerdismo” e controlou a militância petista para não atacarem a sua principal oponente, Eliane Sinhasique (MDB). Ganhou a eleição no pior momento para o PT nacional. Tanto que foi o único prefeito de capital eleito pelos petistas.
Carma de Lula
Já em 2018 os principais aliados de Marcus não se abstém dos gritos de “Lula Livre” nas reuniões públicas de pré-campanha. Isso num Estado em que, segundo a pesquisa Data Control, 51% dos eleitores querem que o ex-presidente continue na cadeia. Portanto, “Lula Livre” não é uma bandeira eleitoral muito adequada ao Acre nesse momento.
Muita água pra rolar
Não acho que a eleição ao Governo do Acre esteja decidida. Marcus Alexandre é um bom candidato e está empenhado na sua campanha. Mas a possibilidade de reversão do quadro apresentado pela pesquisa não é simples. Mesmo porque esses números abrem novas “perspectivas de poder” e as dissidências a favor de quem está na frente serão naturais.
Sobre os outros…
A tendência de polarização entre Marcus e Gladson aparece claramente nessa pesquisa. O Coronel Ulysses (PSL) não decolou. O impulso esperado pelo presidenciável Bolsonaro (PSL) ao candidato não aconteceu no momento adequado. E por uma conversa recente que tive com o Ulysses nem existe uma garantia de que o Bolsonaro virá ao Acre. Janaína Furtado (Rede) e David Hall (Avante) são jovens candidatos que estão plantando para colherem no futuro.
Perigo na esquina
Agora, se a tropa da FPA comandada pelo PT entrar em desespero e baseada nos números da pesquisa começar a bater no Gladson a situação ficará ainda pior. Já assisti esse filme em campanhas eleitorais muitas vezes. Aquela máxima do marketing político de que quem reclama já perdeu é verdadeira.
Senado em foco
A eleição para o Senado repete a tendências de todas as outras pesquisas colocando na dianteira os senadores Jorge Viana (PT) e Sérgio Petecão (PSD). Acredito que Jorge consegue manter a preferencia sobre parte do eleitorado devido ao seu passado de realizações como governador e o bom mandato no Senado. Petecão anda muito, sabe fazer política e aproveita as menores oportunidades como se viu na recente polêmica sobre a intervenção federal.
Fogo amigo
Márcio Bittar se distanciou da liderança, segunda a Data Control, porque seu nome não é unanimidade na oposição. Tem ainda muitos “desafetos” dentro do seu próprio nicho eleitoral que deveriam ser “aliados”. Ney Amorim (PT) está num patamar que abre o caminho para investir na sua campanha, mas é menos conhecido no Estado do que imaginava e isso se reflete nos números da pesquisa.
Ainda no jogo
A pesquisa Data Control revela que cerca de 60% do eleitorado acreano ainda não escolheu seu candidato ou não se agrada de nenhum nesse momento. Assim Minoru Kimpara (Rede), na faixa de 10% de intenção de votos, ainda está no jogo. A sua gestão na UFAC o credencia junto aos eleitores das diferentes ideologias. Mas terá contra si poucos recursos partidários e escasso tempo de Rádio e Televisão. Sanderson Moura (PRTB) poderá não ter legenda pela opção do seu partido de entrar na FPA. E o Pedrazza (PSL) dependeria de um crescimento do Ulysses para ter chances.
Interesse maior
Obviamente que conhecendo o eleitor acreano através das várias coberturas de campanhas que fiz no Estado posso afirmar que, no momento, a atenção maior é para a disputa do Governo. O Senado vai entrando aos poucos em cena e os candidatos a deputado federal e estadual vão precisar gastar muita sola de sapato se quiserem sonhar com a vitória. Os proporcionais precisarão se esforçar para pegar uma “carona” com os eleitores muito mais interessados em quem será o próximo governador do Estado. Isso irá acontecendo gradativamente. Mas agora a campanha realmente começou de fato e de direito. Que ninguém se considere vencedor antes do tempo para depois não amargar lágrimas de desespero em Manacapuru.
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