Conversei com a ex-senadora e ex-ministra acreana Marina Silva (Rede) por quase uma hora via telefone. Muito ocupada com a sua pré-campanha à presidência da República, Marina concedeu uma entrevista exclusiva ao AC24horas para tratar da postura da Rede, o partido fundado por ela, nas eleições do Acre e do Brasil. Aparecendo com 15% de intenções de votos na recente pesquisa da DataFolha, Marina mais uma vez tenta chegar ao Palácio do Planalto com um projeto alternativo que rompa a tradicional polarização política eleitoral brasileira entre o PT e o PSDB, a esquerda e a direita. Acompanhe a entrevista.
AC24horas – Como vai ser a postura da Rede nas eleições do Acre? O partido além do candidato ao Senado Minoru Kimpara (Rede) terá também alguém para disputar o Governo do Estado?
Marina Silva – A Rede está priorizando as candidaturas majoritárias nos estados. Em alguns casos conseguimos ter candidatos a governador e senador e em outros não. No caso do Acre teremos apenas a candidatura do Minoru ao Senado e vamos estreitar o debate da candidatura nacional. Assim teremos a base também para o nosso candidato a deputado federal que é o Carlos Gomes (Rede) e os nossos 17 candidatos a deputados estaduais. Estarei indo ao Acre, em breve, para o lançamento das nossas candidaturas. Estamos muito felizes com as possibilidades do Minoru. Mas em relação a candidatura para governador temos diretrizes programáticas que serão apresentadas à sociedade estimulando o voto de acordo com a consciência de cada um do que seria o projeto ideal à sociedade acreana.
AC24horas – Marina existe uma especulação forte de uma coligação da Rede com o Avante, no Acre, que teria o jovem professor de filosofia David Hall como candidato ao Governo. Existe realmente essa possibilidade?
MS – Esse debate está sendo feito internamente. Todas as discussões locais de coligação e aliança são feitas pela direção estadual. Aquilo que a gente faz nacionalmente é criar um conjunto de diretrizes para as nossas coligações que são sempre programáticas e estejam alinhadas com os nossos conceitos de gestão pública, de apoio à Lava Jato, de melhoria da qualidade de serviço, transparência, desenvolvimento sustentável, atenção ao meio ambiente e o testemunho de vida das pessoas. Mas essa discussão local tem que ser tratada com o Carlos, o Minoru e o Gabriel.
AC24horas – Qual a avaliação que a senhora faz do atual Governo do Acre? A FPA está há vinte anos no poder. A senhora acha que chegou a hora de mudar ou eles ainda têm o que oferecer à sociedade acreana?
MS – Existe uma população que faz parte de uma outra geração que não tem a menor ideia do que era o Acre há 20 anos. Por uma questão de honestidade eu devo dizer que era um Estado em que a violência grassava na vida das pessoas e havia uma ineficiência nos serviços. Digo isso por questão de Justiça porque em política não se pode ter uma postura desonesta e nem mentirosa. Mas a mudança é sempre necessária e a alternância de poder numa democracia faz parte do jogo. Nós da Rede vamos apresentar um conjunto de propostas que achamos que representam avanços e trabalharemos em torno da candidatura do Minoru. Já avançamos muito desde a candidatura do Carlos Gomes à prefeitura de Rio Branco, em 2016. Agora, teremos uma candidatura ao Senado competitiva e outra a deputado federal dialogando com a população com ideias maiores sobre a educação, a segurança pública e o desenvolvimento sustentável.
AC24horas – Já que a senhora tocou na questão da violência. Recentemente foi publicado pelo site G1 que o Acre é atualmente o segundo estado com o maior número de mortes violentas do Brasil. Como a senhora, que viveu o terrível período do esquadrão da morte no Acre, analisa essa situação?
MS – Nós temos um problema grave de violência no Brasil. E os estados mais violentos se encontram no Nordeste. O Rio de Janeiro está em décimo terceiro lugar, mas é o que tem maior visibilidade. O problema da segurança pública é fruto de descaso de sucessivos governos do PSDB e do PT, do presidente Lula (PT) e da presidente Dilma (PT) e do governo do Michel Temer (MDB). Sempre trataram a segurança pública como se fosse um problema só dos estados. Desde 2010 venho falando que é preciso nacionalizar o debate da segurança porque os estados não têm condições de dar conta. Hoje estamos vivendo uma situação de descontrole e obviamente que não é apenas uma questão de policia, mas de justiça social, de alternativa de vida para uma população jovem que não está tendo acesso à oportunidade de trabalho. Uma boa parte não consegue terminar os seus estudo no ensino médio. Mas o Acre tem uma particularidade que é uma região de fronteira com gravíssimos problemas em relação ao tráfico de drogas. Isso precisa de uma atenção especial do Governo Federal para se fazer parcerias estratégicas com os estados e municípios. Não há como resolver essa grave situação com o Governo Federal de costas para os estados e achando que vai solucionar tudo na base da intervenção, usando o Exército Brasileiro.
AC24horas – Aqui no Acre, nas redes sociais, existe uma posição de que a Rede é uma espécie de um “puxadinho” do PT. O que a senhora pensa sobre isso?
MS – Isso faz parte do jogo daqueles que não sabem fazer o debate político democrático e só sabem rotular. Uns dizem que é puxadinho do PT, outros dizem que é puxadinho do PSDB, o que as pessoas não são capazes de dizer e reconhecer é que nós somos uma outra alternativa política. Nem estamos embaixo do guarda-chuva político do vermelho e nem do azul. Nós não temos nenhuma veiculação com as estruturas de poder tanto da esquerda quanto da direita, nós somos uma força independente, mas obviamente na polarização as pessoas não conseguem enxergar outra coisa a não ser o PT, PSDB, MDB, DEM. Isso é o vício da velha política. A gente vai continuar fazendo o nosso trabalho com uma posição independente. Já tivemos 22 milhões de votos em 2014, sem abuso do poder econômico, sem mentir contra ninguém. Isso que faz que estejamos novamente no processo político para mostrar ser possível fazer política de forma coerente, sem violência e sem abuso do poder econômico.
AC24horas – Quando a senhora era ministra o Lula usou muito a sua imagem como referência do Governo. Ele dizia que dava a oportunidade às pessoas que vieram de nichos sociais discriminados. Agora, o Lula está preso e a senhora tem declarado ser a favor da prisão em segunda instância. Isso deixa a senhora confortável?
MS – Não é uma questão de ficar confortável ou não. Ninguém pode ficar feliz vendo empresários e políticos do país envolvidos em graves casos de corrupção. Só os psicopatas ficam felizes com isso. Agora, a Justiça tem ser para todos, independente do poder econômico, político, social. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. Quem comete erros tem que pagar pelos seus erros. Eu defendo a prisão em segunda instância que deve ser acompanhada pelo fim do foro privilegiado. Os empresários e políticos que não têm foro estão pagando pelos seus erros e aqueles que tem foro estão dentro do Palácio do Planalto, como são os casos do Michel Temer (MDB), Moreira Franco (MDB), Padilha (MDB), ou dentro do Congresso Nacional, como é o caso de Aécio Neves (PSDB), Renan Calheiro (MDB), Romero Jucá (MDB), que estão soltos. Temos agora que estar preocupados, não com quem já está pagando, mas como fazer para punir os que estão impunes e que vão participar de novo das eleições. São mais de 200 deputados e senadores que são investigados. Tenho dito que a policia está fazendo a sua parte e a Justiça, que não é vingança mas reparação, também está. Mas o povo tem que colaborar. É preciso fazer a operação Lava Voto e demitir os que roubaram o dinheiro público e se escondem atrás de foro privilegiado.
AC24horas – Nas eleições presidenciais de 2014 a senhora teve chances reais de ir para o segundo turno. Mas por ter um tempo bem menor de propaganda na TV que seus principais adversários, o Aécio e a Dilma, a senhora sofreu um verdadeiro massacre de acusações pelos programas eleitorais. Agora, em 2018, a senhora aparece bem posicionada nas pesquisas, mas com um tempo ainda menor de TV. Como a senhora pretende transformar a sua candidatura em competitiva?
MS – Acreditando na sociedade brasileira. Agora, a sociedade sabe da verdade e quem é quem. PT, PSDB, MDB todos cometeram os mesmos crimes contra o orçamento público. Todos estão envolvidos em graves escândalos da Petrobras, da JBS, dos fundos de pensões, do BNDES, a sociedade sabe a verdade e espero que esteja vacinada contra as mentiras e as calúnias. Nós vamos fazer uma campanha franciscana, sem dinheiro e sem tempo de televisão. Eles fizeram um acordo para tentar me deixar do lado de fora e evitar que a sociedade consiga fazer a mudança. Mas se Deus e o povo brasileiro quiserem, nós haveremos de fazer a mudança falando a verdade. Não é desconstruindo ninguém, não é agredindo. Estou fazendo campanha de avião de carreira, pegando voos 5hs da manhã, por ser mais barato, às vezes, me hospedando em casa de amigos. Se eu ganhar quero ganhar ganhando, não quero ganhar perdendo. Não se pode vender a alma para ganhar uma eleição. Por isso, se ganharmos, vamos refundar a República para um projeto de país em que a educação funcione com qualidade e possamos dar oportunidades aos nossos jovens. Que a segurança pública combine um trabalho de combate ao crime organizado com oportunidades para que haja justiça social. Uma sociedade onde a gente não fique estimulando o ódio e a divisão. O Brasil é um país que não merece essa política de polarização que incita o ódio. Nós chegamos onde chegamos, os mais pobres, a partir de uma cultura solidária. Eu sei o que é isso. Eu morei na Estação Experimental, no Conjunto Tangará, na Cidade Nova, em quase todos os bairros da periferia de Rio Branco. É um emprestando ao outro um pouco de sal, de café, de açúcar e tomando conta do filho um do outro e, agora, estão com essa história de querer fazer com que os brasileiros fiquem brigando uns com os outros.
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