Na noite do último sábado (7), quando o ex-presidente Lula chegou de helicóptero a Curitiba, encontrou o bairro onde começará a cumprir sua pena dividido em dois pela Polícia Militar paranaense. De um lado, manifestantes de verde e amarelo favoráveis ao mandado de prisão do juiz Sérgio Moro; do outro, militantes de esquerda e simpatizantes, contrários à ida de Lula para a cadeia.
Agora, a primeira pesquisa de opinião após a prisão do petista mostra que o país inteiro está dividido: 46% dos brasileiros são contra a decisão de prender Lula, e 50% são favoráveis. A diferença está dentro da margem de erro, de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, segundo o IPSOS.
Para 57% dos entrevistados pelo IPSOS, Lula é culpado das acusações pelas quais está preso (32% acham que é inocente). Mais ainda: 69% consideram que o petista está envolvido de alguma forma nos esquemas de corrupção investigados pela Lava Jato.
Os pesquisadores foram às ruas entre os dias 7 e 10 de abril, e ouviu 1.200 pessoas nas cinco regiões brasileiras. E, durante este período, foi difícil achar alguém que não soubesse o que estava acontecendo: 99% dos entrevistados ouviram falar sobre a prisão de Lula.
No último sábado, Lula atuou como o mestre de cerimônias de sua própria prisão: o grupo mais próximo do petista negociou a rendição do ex-sindicalista à Polícia Federal, e ele só se despediu depois de um ato político ocorrido durante uma missa em memória de sua mulher, Marisa Letícia, morta em 2017.
O diretor do Ipsos Danilo Cersosimo é um dos responsáveis pelo levantamento. Ele lembra que “a pesquisa foi feita no calor do momento”, com as entrevistas começando no sábado e terminando na segunda-feira (9). Para Cersosimo, fica claro que “no momento da prisão, Lula não perdeu o apoio que tinha. O percentual de pessoas que considera a prisão injusta é muito similar à aprovação do Lula medida pelo Barômetro Político, publicado pelo O Estado de S. Paulo”, diz ele.
“Isso mostra que ele manteve um capital eleitoral e político bastante forte. A questão que fica é: qual será o grau de deterioração desse capital com ele na prisão? Vai se manter forte a ponto dele conseguir transferir votos para um eventual sucessor?”, questiona Cersosimo.
Outros dados na pesquisa do Ipsos mostram o quanto a população está dividida sobre este tema: para 50%, a prisão de Lula foi justa, mas para 44% o petista foi alvo de injustiça.
Outras respostas da pesquisa sugerem que ainda não existe uma opinião majoritária sobre o caso. Os percentuais dos que concordam ou discordam da frase “A Lava Jato até agora nada provou contra o ex-presidente Lula” são iguais: 47% dos entrevistados para cada lado, com 6% que não souberam dizer ou não responderam.
Na frase “A Lava Jato está mostrando que Lula é mais corrupto que os outros políticos”, 44% acham que sim, e 51% que não.
Outro resultado significativo é o de que a maioria das pessoas acredita que “os poderosos” do país “querem tirar Lula das eleições” presidenciais. 73% das pessoas ouvidas pelo IPSOS pensam desta forma, e 23% discordam. Pelas respostas anteriores, é possível inferir inclusive que pessoas que concordam com a prisão do petista pensam desta forma.
A pesquisa IPSOS não traz dados de preferência eleitoral, porém.
Apoio à Lava Jato, repúdio generalizado aos políticos
Apesar da divisão a respeito do caso do ex-presidente Lula, a maioria dos brasileiros continua apoiando as investigações da Lava Jato, iniciadas em março de 2014. Para 93%, as investigações precisam prosseguir, “custe o que custar”.
Outros 92% concordam com a sentença segundo a qual “A Lava Jato deve continuar as investigações até o fim, pois muita gente ainda precisa ser investigada”. Só 6% discordam desta última afirmação.
Outros 73% acham que a Lava Jato vai fortalecer a democracia brasileira, e só 10% creem que as investigações vão enfraquecer o regime democrático.
“A grande tradução desses números é a necessidade que o povo vê de mais respostas (em termos de avanço das investigações sobre outros políticos”, diz Cersosimo. “Existe uma necessidade (para a opinião pública) de resposta muito mais forte do que tem sido dada até agora”, diz o diretor do Ipsos.
“O cidadão se sente impotente nesse sentido (de resolver os problemas do país). A prisão do lula não resolve esse anseio por justiça”, diz Cersosimo.
Popularidade de Temer: no chão
A pesquisa do Instituto Ipsos também perguntou aos entrevistados o que eles acham a respeito da administração do presidente Michel Temer (MDB). A resposta “ótimo” teve 0% de respostas, e apenas 2% consideram o governo Temer “bom”.
Por outro lado, a maioria dos entrevistados considerou o governo “péssimo” (61%) e “ruim” (22%). Os que avaliam o governo de forma “Regular, mais para positiva” são 5%, e os que veem a administração de forma “Regular, mais para negativa” são 9%.