Nesta quinta, dia 5, o reitor da UFAC, Minoru Kinpara, deixou o seu cargo. Isso confirma a sua intenção de disputar uma vaga ao Senado pela Rede. Considerado um dos melhores gestores que já passaram pela Universidade, Minoru deixa um legado de realizações que transformou a instituição. Agora, vai enfrentar uma campanha difícil que terá pelo menos seis candidatos. Na véspera de Minoru deixar a reitoria da UFAC conversei com ele sobre a gestão e as suas perspectivas para entrar na campanha eleitoral de 2018.
ac24horas – O senhor deixa o cargo de reitor e confirma a sua candidatura ao Senado pela Rede?
Minoru Kinpara – Vou encarar esse desafio para poder continuar a trabalhar pela universidade e a educação como um todo. Sempre zelando pelo bem público e fazendo parcerias importantes.
ac24horas – Nesse período de cinco anos e meio a frente da UFAC o que o senhor considera as suas maiores conquistas?
MK – As pessoas falam, até com um certo exagero, que cumpri aquele lema do ex-presidente Juscelino Kubitscheck na gestão da UFAC de 50 anos em cinco. Mas o que foi feito na UFAC não foi fruto apenas da minha gestão. Passaram por aqui vários reitores que deixaram as suas contribuições. Eu tive o privilégio de deixar um legado de crescimento na pesquisa. A pós graduação teve um avanço de mais de 200%. Conseguimos um avanço em termos de infraestrutura. Só de novas construções, prédios e laboratórios, fizemos mais 40% daquilo que a UFAC tinha ao longo de 50 anos. Servidores públicos nós contratamos quase a metade do que nós tínhamos. Professores foram mais 200 efetivos e 350 servidores técnicos. A nossa Universidade atualmente tem conceito 4 no MEC, levando em conta que a nota máxima é 5. Somente 13 universidades públicas federais das 63 tem esse conceito. Na região Norte só a UFAC e Federal do Pará tem essa nota. Temos 46 cursos de graduação, 11 em Cruzeiro do Sul, inclusive, plantamos de forma definitiva o Direito. Formamos a primeira turma de Letras Libras e apenas sete no Brasil tem esse curso. Estamos presentes em 19 dos 22 municípios do Acre. Tivemos um crescimento significativo.
ac24horas – Um dos legados que o senhor deixou é o projeto de um Hospital Universitário que poderá atender a comunidade gratuitamente. Acredita que a obra irá acontecer com o senhor fora da reitoria?
MK – Nós garantimos isso em dois documentos estratégicos que foram debatidos e aprovados em todo o Estado. O Hospital Universitário está pactuado com o Governo Federal e terá 300 novos leitos e 40 de UTI. Além da possibilidade de contratarmos 1800 servidores. O valor da obra será de R$ 253 milhões. O significado, não só para os cursos da área de saúde, mas para a população do Acre será enorme. Poderá suprir parte da carência que temos na saúde pública. Será um hospital escola que vai desenvolver ensino, pesquisa e extensão. Pesquisadores poderão descobrir a cura de doenças. Outro projeto que deixamos é a expansão dos Campus da UFAC para Brasiléia, Sena Madureira, Tarauacá e Feijó. Assim estaremos dando oportunidade à juventude ameaçada pela violência. O melhor investimento que a gente pode fazer para o ser humano é dar educação.
ac24horas – Mas reitor com todas essas conquistas de uma gestão eficiente com resultados comprovados como o senhor acha que a população do Acre irá entender? Porque costuma-se dizer que o mundo acadêmico é uma bolha. O senhor acha que conseguirá passar essa mensagem de realizações para os eleitores na sua campanha?
MK – Durante esses cinco anos e meio a frente da gestão tive o privilégio de andar bastante. Estive nos 22 municípios do Acre. É impressionante como sempre fui muito bem recebido pela população. A UFAC está oferecendo cursos de formação de professores nos municípios isolados como Jordão, Santa Rosa, Marechal Thaumaturgo. Conversando com os alunos a gente percebe que a maioria é da zona rural. A UFAC atualmente atende aos alunos da zona rural desses municípios de difícil acesso. A gente fica emocionado. Muitos dizem assim: “Reitor eu sou a primeira pessoa da minha família a ter um diploma de curso superior. Meus pais e avós são analfabetos”. Isso porque nunca tiveram oportunidade de estudar. Isso só é possível porque a UFAC foi até essas comunidades. Com certeza essas pessoas passaram a conhecer a Universidade que era uma coisa distante pra elas.
ac24horas – A Rede é um partido que provavelmente não terá candidato a governador no Acre. Como vai ser a campanha da Rede?
MK – Temos uma candidata respeitada à presidência da República que é a ex-senadora Marina Silva (Rede). Sou pré-candidato ao Senado e teremos candidatos a deputado federal e estadual. Não lançaremos candidato ao Governo. Vamos analisar com os nossos militantes os projetos ao Governo que estão postos e aquele que se afinar com o que a Rede defende iremos apoiar. Se discute muitos os nomes das candidaturas, mas nós precisamos debater um projeto de desenvolvimento para o Acre. É preciso pensar o Acre estrategicamente. Tudo gira em torno de um imediatismo. Mas é preciso pensar no Acre e no país nos próximos 20 anos.
ac24horas – Então quer dizer que a Rede poderá apoiar um desses candidatos ao Governo?
MK – Vamos ver os projetos e poderemos sim ter uma posição de apoiar a candidatura que mais se afine com os nossos propósitos. Não havendo nenhum projeto que a gente acredite vamos deixar os militantes da Rede à vontade para que possam, a partir de um juízo de valores, tomar as suas decisões.
ac24horas – O senhor já passou por duas campanhas para se eleger reitor da UFAC. Mas uma campanha para o Senado Federal, ainda mais no Acre, é uma “guerra”. O senhor se sente preparado para enfrentar isso?
MK – Tenho a experiência de administrar uma instituição como a UFAC com pessoas de todas as religiões e de todos os partidos. Aqui se enfrenta muitas dificuldades, mas através do diálogo, ouvindo as pessoas consegui fazer um trabalho reconhecido pela sociedade. Trabalhei intensamente sempre com entusiasmo e vou encarar esse compromisso da mesma maneira. Outro dia me perguntaram de quem eu espero ter apoio para levar adiante a minha candidatura. Eu respondi que espero ter apoio de quem quer mudança.
ac24horas – Provavelmente o candidato ao Governo da FPA, Marcus Alexandre (PT) será cobrado pelos eleitores porque foi eleito prefeito de Rio Branco e está deixando o mandato na metade. O senhor também poderá ser cobrado por ter deixado seu mandato de reitor pela metade?
MK – Eu esperava que houvesse uma certa resistência especialmente da minha equipe. Porque seria muito cômodo pra mim ficar aqui mais quase três anos. No entanto, fiquei surpreso porque a grande maioria entendeu que para viabilizarmos muitos projetos na UFAC dependemos de 100% de apoio político. Hoje tenho como grandes incentivadores, para eu enfrentar esse novo desafio, principalmente, as pessoas aqui da UFAC que aprovaram a minha gestão. Sabem que terei o mesmo compromisso que tive na gestão como possível parlamentar. Não só com a Universidade e o ensino superior, mas com a educação de maneira geral. Tive a honra e o privilégio de visitar várias escolas de ensino médio apresentando os cursos da UFAC e fazendo palestras motivacionais para os nossos estudantes de ensino médio. O que a gente constata é a falta de oportunidade. Todos os pais querem ver seus filhos estudando e se tornando bons profissionais. Eles não querem ver seus filhos amanhecendo mortos ou atrás das grades. Nossos jovens estão sendo ceifados e a educação salva vidas. Um país que não prioriza a educação não tem futuro. E serei um defensor eterno da educação onde eu estiver. Precisamos investir nas escolas públicas, mesmo com todo o respeito que tenho pelas instituições particulares que cumprem um papel importante. Mas precisamos dar condições aquelas que tem menos. O problema maior do nosso país é a desigualdade social.