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Jorge Viana ouve comunidades ribeirinhas e indígenas do Alto Envira

Por
Nelson Liano Jr.

O Alto Envira é uma das regiões mais isoladas do Planeta. Saindo da cidade de Feijó para se chegar ao Porto Rubim é preciso viajar um dia e meio numa voadeira ou quatro dias de batelão, a embarcação mais usual entre os ribeirinhos. Isso no tempo de inverno em que o rio está cheio porque no verão a viagem é ainda mais penosa e demorada. O senador Jorge Viana (PT) aproveitou o recesso da Semana Santa para realizar uma expedição ao Alto Envira com o objetivo de dialogar com ribeirinhos e indígenas.


Acompanhado dos ex-prefeitos de Feijó, Francimar Fernandes (PT), Merla Albuquerque e do vereador Mauro Defeson (PT), Jorge passou três dias transitando pelas águas do Envira e participou de 19 reuniões com as populações da região para conhecer as suas dificuldades e leva-las à Tribuna do Senado ou encontrar soluções com os governos federal, estadual e municipal.


O senador ouviu algumas das necessidades das comunidades de ribeirinhos e indígenas que são muito parecidas. Coisas básicas para a sobrevivência. A maioria dos moradores do Alto Envira não têm água potável. Ainda bebem a água barrenta do rio e todos querem poços artesianos nas suas comunidades. Outro problema sério é a falta do programa Saúde Itinerante que garante o cadastro dos beneficiários do Bolsa Família. Muitas famílias ou tiveram uma redução nos valores ou perderam o benefício. Também algumas escolas municipais ao longo do rio foram fechadas criando um problema para as crianças em idade escolar que precisam viajar enormes distâncias em embarcações nem sempre seguras. A não expansão do programa Luz pra Todos na região e a falta de telecomunicação são fatores que mantém essas comunidades isoladas do retos do mundo. Para completar o alto preço dos combustíveis e do gás se torna um impeditivo para o movimento das pessoas e o comércio dos produtos.


É preciso andar para conhecer a realidade
Ao chegar em Porto Rubim, o ponto mais extremo da expedição, Jorge Viana, depois de ouvir sobre as necessidades dos seus moradores, afirmou:


“Quando fui governador do Acre eu tinha vindo de avião até a colocação Califórnia, nas proximidades da fronteira do Peru. Mas eu não conhecia essa parte do Envira e sempre quis vir a Porto Rubim para conhecer de perto a realidade das comunidades. É um presente estar aqui no Alto Envira e ver a juventude, os novos casais. É preciso que a gente renove sempre os nossos compromissos como representante do povo acreano. Acredito que em muitas coisas posso ajudar através do meu mandato de senador. Assim como posso interferir pedindo a atenção para os problemas às autoridades das esferas federal, estadual e municipal. Esse é o meu papel como parlamentar,” ressaltou.


Porto Rubim tem cerca de 30 famílias morando no seu entorno. A maioria vivendo da criação de animais e plantando para a subsistência. Diante do quadro precário de ação pública, Jorge Viana se manifestou para a comunidade.


“Já ouvimos da liderança da comunidade, o senhor José Hélio, que a saúde já foi muito melhor por aqui. Antes tinha a Saúde Itinerante que atendia pelo menos duas vezes por ano. O pessoal daqui não quer muito não. Mas precisam ser considerados e respeitados. Quando fui governador consegui fazer muita coisa em parceria com o Francimar que era o prefeito de Feijó. A gente se juntava para dar um atendimento digno às pessoas. Quando as autoridades que têm boas intenções chegam para ouvir as comunidades alguma coisa sempre acontece. Se teve um período em que o Brasil e o Acre estavam prosperando por que estamos vivendo um momento em que as coisas pararam e até pioraram? Trabalho em Brasília e as coisas nos últimos três anos andaram pra trás. É uma confusão com as brigas políticas e eu desejo que possamos voltar àquele período em que as coisas chegavam para quem mora mais longe. Como disse a dona Maria aqui do Porto Rubim, a gente precisa trabalhar para que as coisas melhorem porque não adianta ficar só reclamando. Eu tive um encontro com o ministro da Ciência e Tecnologia, em Cruzeiro do Sul, nesta semana, e a ideia é colocar internet nos lugares mais distantes. Vou conversar com o prefeito de Feijó e outras autoridades pra ver se a gente consegue colocar um ponto aqui no Porto Rubim. Porque a internet vai permitir que vocês se comuniquem com as pessoas de outros lugares. O meu compromisso é lutar para que esse programa chegue até aqui. Graças a esse satélite que é brasileiro e como senador lutei muito para que isso acontecesse. Tendo a internet se tem o telefone e a comunicação com o resto do mundo,” salientou Jorge.


O senador exaltou a importância da proximidade com a população para criar condições de uma vida melhor.


“Não adianta ficar em Brasília ou Rio Branco no ar condicionado dizendo que conhece a realidade das pessoas que moram nesses lugares. É preciso vir aqui ouvir e ver para poder conhecer de verdade. A mãe que tinha um dinheiro da Bolsa Família, um programa criado pelo ex-presidente Lula, agora tem esse benefício reduzido ou cancelado porque as autoridades não sobem os rios para atualizar os cadastros das famílias das matrículas escolares e das vacinações. Lula expandiu o Programa Luz para Todos que agora está parado. Quando eu era governador criei o primeiro curso para formar professores da zona rural. Agora estive em Feijó e descobri que o atual Governo Federal quer cancelar essa formação fazendo tudo à distância. O que vocês me disseram é que quem faz o transporte escolar não recebe, a Bolsa Família diminuiu, as escolas foram reduzidas e a Luz para Todos não chega. Isso é um sinal do momento difícil que vivemos” afirmou.


Uma vida de labuta
Na Comunidade Moleza, mais de 40 adultos e 20 crianças participaram da reunião com o Jorge Viana. O líder comunitário Toró se manifestou de maneira veemente.


“É preciso chegar a saúde e a comunicação. A merenda escolar de dois anos pra cá vem diminuindo. O que vinha para um mês agora dá apenas para duas semana. Os agricultores levam os produtos para a cidade e entregam para os
atravessadores por um preço mínimo. No final só quem sai ganhando é o atravessador e o agricultor fica com os produtos desvalorizados,” disse ele.


Por sua vez o senador acreano refletiu com os moradores da Comunidade Moleza.


“Apesar do nome da comunidade aqui não tem moleza. A gente vê que vocês são muito trabalhadores. E sei que ninguém quer que venham aqui pegar no terçado para trabalhar por vocês. Estão pedindo o mínimo e o justo a que têm direito. Querem a merenda, um médico uma vez por ano, a Luz para Todos em todas comunidades, água potável e comunicação. É importante que o poder público dê atenção para quem mora nos rios porque se essas populações forem para as cidades o problema da violência pode ficar ainda pior. Lá tudo é pago e o dinheiro é difícil de conseguir porque existe muito desemprego. Aqui se pode ter tudo e se o houver o apoio do poder público para dar as mínimas condições para a comunidade se desenvolver então será o paraíso,” destacou Jorge.


Indígenas e a preservação cultural e ambiental
Durante a expedição ao Alto Envira, Jorge Viana, visitou três aldeias do povo Huni Kuin, Formoso, Nova Esperança e Boa Vista, mas que tinha representantes de várias outras durante as reuniões. Em todas o senador e a comitiva foram recebidos com festa. Cantos e danças tradicionais para saudar os visitantes e uma fartura de alimentação. Na reunião no Formoso, Vagner Kaxinawa, cacique da aldeia, se manifestou.


“Agradeço o senador Jorge Viana por estar aqui na Aldeia e a gente poder se conhecer ao vivo. Mas lamento por termos uma escola destruída e uma grande quantidade de alunos sem as condições ideais para estudarem. Vou entregar um documento para o senador encaminhar ao Governo do Estado para que possa ser feito alguma coisa. Me sinto honrado quando o senhor vem aqui para me ouvir. Precisamos de um poço artesiano com uma água de qualidade. Queremos preservar a nossa cultura tradicional e receber as pessoas num grande festival. Não temos posto de saúde e nem medicamentos. A gente se vale dos nossos pajés e das parteiras que não têm contrato. Se temos saúde é graças ao trabalho dos nossos pajés na espiritualidade. Acredito que as coisas podem ir pra frente se o nosso Governo acreditar em nos e nós acreditarmos nele. Jorge Viana o senhor já deixou o seu símbolo nessa aldeia quando era governador e isso a nossa comunidade nunca vai esquecer,” salientou.


O tuxaua Manuel Galdino, a liderança mais antiga da aldeia, que já foi cacique e se tornou um pajé, também dirigiu algumas palavras reflexivas ao senador.


“Olhe a nossa terra senador para o senhor ver como estamos vivendo e trabalhando. Venho lutando para que a gente tenha professores e agentes de saúde para o nosso povo. Estou há 74 anos liderando a nossa aldeia. É importante que um senador venha aqui para acreditar que estamos realizando a cultura da nossa terra,” refletiu.


Jorge Viana agradeceu a recepção que recebeu no kupixawa dos Huni Kuins, um lugar sagrado onde acontecem os trabalhos espirituais do povo.


“É diferente a gente falar aqui nessa casa de oração da cultura Huni Kuin. Eu criei o programa de agente agroflorestal quando era governador para demarcar as áreas indígenas. Formamos agentes de saúde e professores. A escola que existe aqui foi feita na minha época, mas pena que não ampliaram e não cuidaram. É preciso cuidar das escolas. No meu governo também criamos os festivais de cultura indígena. Uma das coisas mais importantes pra mim eram os parentes indígenas que estavam ameaçados de perderem as suas terras. Mas esse tempo já passou e precisamos viver outros tempos. Vou somar a minha voz a do cacique para que possa ficar mais alta e ser ouvida. Tem coisas que vou pedir para o Governo do Estado e outras para o prefeito de Feijó. A Funai e a Fundação Nacional de Saúde podem ajudar. Não quero vender facilidades, isso aqui é um lugar sagrado e ninguém pode mentir. Mas vou apadrinhar essa comunidade para tentar conseguir os recursos do Fundo da Amazônia. Atualmente o Brasil está vivendo o maior desrespeito com os povos indígenas, tirando dinheiro da FUNAI. Tenho sido o senador que mais batalha para garantir o orçamento da FUNAI,” garantiu.


Mais comunidades no caminho
Descendo o Rio Envira Jorge Viana ainda participou de encontros com diversas comunidades no Canadá, igarapé Japão, Santo Antônio, São Sebastião, Santana e Curralinho. Ouviu apelos parecidos dos ribeirinhos e refletiu.


“A melhor coisa na vida é ajudar os outros. E o atual Governo Federal que não criou o Bolsa Família, quer tirar a Bolsa Família, não criou as escolas, mas quer tirar as escolas. Se alguém não pode dar nada deixa pelo menos as pessoas com aquilo que já conquistaram. Estamos vivendo essa fase com o Governo Temer. O PT também cometeu os seus erros, meteu os pés pelas mãos, mas fez muitas coisas boas. Foi importante passar três dias ouvindo as comunidades indígenas e ribeirinhas porque vou chegar em Brasília e poder falar mais alto. Estão tirando os direitos das pessoas e colocando-as em dificuldade. Seja pela barbaridade do preço extorsivo do gás de cozinha e dos combustíveis ou pela tal de economia que estão fazendo tirando auxílio doença e a Bolsa Família. Isso é crime. Vou dizer aos senadores que apoiam esse Governo que estão tirando o pão da boca de crianças e maltratando as famílias. Vim aqui ouvir vocês para poder ser uma voz em Brasília para falar da realidade das nossas populações dos Altos Rios que a maioria dos nossos políticos desconhecem,” finalizou.


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Nelson Liano Jr.

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