Crianças pequenas são bastante curiosas. Elas aprendem sobre o mundo interagindo fisicamente com tudo que encontram. Gostam de tocar, sentir e explorar. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2015, 810 crianças entre 0 e 14 anos morreram vítimas de engasgo. Desse total, 611 tinham menos de um ano de idade.
Quem tem criança em casa sabe a facilidade em que situações como essa podem acontecer. Ter noções de primeiros socorros pode ser determinante para salvar uma vida. É o que tem alertado a advogada Alessandra Zamora que decidiu lutar por uma lei que obrigue, principalmente escolas e creches, a capacitarem todos os funcionários sobre princípios básicos de primeiros socorros.
O motivo pela mobilização é dolorido. Alessandra Begalli Zamora perdeu o filho de 10 anos, por asfixia mecânica durante uma excursão escolar, em setembro do ano passado. O menino, estudante de uma escola particular de Campinas, interior de São Paulo, participava de um passeio com a instituição. Na hora do lanche, engasgou com um pedaço da salsicha, servida em um cachorro-quente.
Desde a morte do filho, a advogada tem lutado para aprovar, em câmaras de vereadores, assembleias legislativas dos estados e na Câmara dos Deputados projetos de lei que tornem obrigatória a inclusão dos princípios básicos de primeiros socorros, nos cursos de Pedagogia, Educação Física e no também no currículo dos estudantes de Educação Básica. Na esfera federal, o projeto da Lei Lucas nº 9468/2018, já está em tramitação.
“Inicialmente, procurei a câmara da minha cidade. E, a partir desse encontro, foi criada a Lei Lucas, que pede que os professores participem de curso de primeiros socorros a cada dois anos. Hoje, o projeto já foi entregue em 400 municípios, 12 estados e na Câmara Federal”, contabiliza Alessandra.
Após perder o seu único filho, ela se viu perdida e sem rumo. Foi com ajuda da sua irmã e madrinha do menino que Alessandra conseguiu dar outro sentido para a vida. A irmã de Alessandra criou a página no Facebook, que já tem quase 140 mil seguidores, intitulada “Vai Lucas”, com o intuito de alertar as pessoas sobre os perigos que situações como esta representam na vida de milhares de crianças.
A partir da repercussão que a página ganhou a irmã de Alessandra percebeu que poderia tirá-la daquela situação. “Depois de 48 horas a página já tinha cinco mil seguidores e duzentos relatos de histórias parecidas. Foi nesse momento que minha irmã me contou sobre a página e me falou da importância disso. Ela me explicou que as pessoas queriam me ouvir e que eu precisava reagir. Com isso, voltei a viver”, conta.
As mensagens que recebe pelas redes sociais faz toda diferença na vida de Alessandra. São pessoas torcendo para que a lei se torne obrigatória, incentivando e fazendo com que a advogada continue seguindo em frente. Além disso, as pessoas tem o papel fundamental em fazer com que a mensagem da página chegue até as autoridades. “Sem essa ajuda, eu nunca teria conseguindo entregar o projeto a mais de 400 municípios em dois meses”.
Apesar de ser uma fase de grandes vitórias, Alessandra confessa com muita tristeza que a saudade só aumenta. “A indignação por ele ter morrido de uma forma estupida é muito difícil. Mas ao mesmo tempo tenho a convicção de que estou no caminho certo para que outras famílias não venham sofrer como a minha, para que não existam outros Lucas e outras Alessandras, para que não precise existir essa sensação que eu tenho e para que eu consiga transformar essa dor imensa em amor ao próximo”, finaliza.
Além de casos como engasgo, outras situações de risco cercam o ambiente escolar. “Essa lei é de extrema importância. Eu sempre pensei no quanto essa preparo seria importante. Todo mundo deveria saber alguma coisa sobre primeiros socorros e dentro das escolas essa necessidade se torna ainda maior. Além de asfixia precisamos lidar com milhares de outras situações, como quedas e desmaios”, afirma Elida de Castro, pedagoga e coordenadora da Escola Renascer, parceira do Educa Mais Brasil.
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